O Judiciário, acossado por fortes denúncias, tenta desviar a atenção para sentenças espetaculares, capazes de ocupar o espaço das denúncias na mídia e na atenção da opinião pública. O STF teve a coragem de não aceitar delação de Sergio Cabral  que envolvia um de seus membros, quando deveria apurar para que houvesse a prisão ou a reparação, evitando a dúvida na sociedade.

O caso do ex-governador Luiz Fernando Pezão se torna mais grave por se tratar de homem que exerceu uma exemplar vida pública – desde vereador e prefeito em Piraí e dirigente da entidade que congrega os municípios, em nível estadual e federal. Sua passagem na Prefeitura teve reconhecimento nacional, pois aplicou os recursos da área do reservatório da Light para dotar todos os alunos de um tablete em Piraí.

Vice-governador, exerceu a Secretaria de Obras, de maneira correta e respeitada, completou o mandato com a desincompatibilização do titular e foi reeleito. Homem de vida simples, austera, Pezão morou modestamente no Rio quando no exercício das funções. Enfrentou grave doença e, quando o visitei no hospital, estava acompanhado apenas de sua mulher, Maria Lúcia, preparada e admirada personalidade. Na porta do hospital, apenas um carro da PM.

Na verdade, o Rio passa por uma estranha situação nas operações que visam corrigir erros do passado. Sérgio Cabral, que errou e confessou, acreditou na validade da delação premiada, teve coragem de apontar, inclusive, problemas do Judiciário, a serem apurados. Mas é estranho que seja o mais antigo preso nessas operações em todo o Brasil. Não oferece perigo, colaborou, poderia estar no semiaberto ou na domiciliar, por elementar questão de justiça. Aliás, este mesmo Judiciário tem tardado a sentenciar os flagrantes casos de corrupção nos gastos com os recursos milionários repassados pela União aos estados em função da pandemia. Blindagem que deveria, inclusive, envergonhar o Senado, mais preocupado com a recomendada pelo boquirroto presidente do que com os milhões que permitiram as mortes por falta de insumos como oxigênio, respiradores e anestésicos. Uma coisa não anula a outra.

A condenação de Pezão desgasta o Judiciário. Ele, para quem o conhece e com ele conviveu, é inocente até prova em contrário. Os depoimentos dos delatores da área empresarial, como Leandro Azevedo e Ricardo Saud são claros em negar todo e qualquer envolvimento de Pezão. Nenhuma gravação, nenhum documento, nenhuma ostentação. Vive em Piraí, onde nasceu filho de respeitada família. Seu pai foi exemplar funcionário da Light e Pezão foi criado na área residencial dos funcionários. Nós lighteanos o conhecemos desde sempre.

Menos covardia, pusilanimidade e omissão diante de tal aberração, pois a sociedade condena a impunidade tanto quanto a militância desonesta, facciosa, carregada de hipocrisia que mina a credibilidade de movimento  que deveria ser ético.