Deprimida, garota expulsa de escola engrossa lista de suicídios em Campo Grande

Um episódio envolvendo uma adolescente de 14 anos voltou a acender o alerta sobre as questões de depressão entre crianças e adolescentes. Mães e pais devem ficar atentos aos sinais corriqueiros e silenciosos que a doença traz para a vida da pessoa. “Os pais são sempre o porto seguro, eles são a rede protetiva da […]

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Um episódio envolvendo uma adolescente de 14 anos voltou a acender o alerta sobre as questões de depressão entre crianças e adolescentes. Mães e pais devem ficar atentos aos sinais corriqueiros e silenciosos que a doença traz para a vida da pessoa.

“Os pais são sempre o porto seguro, eles são a rede protetiva da criança ou do adolescente mesmo depois de adulto. Eles são os maiores elementos de prevenção, para proteger e prevenir a pessoa de outras coisas do mundo e dela mesmo, a família é fundamental e para isso é importante que esteja próximo e que ela não julgue”, explicou o professor Fernando Rosalino, do curso de psicologia da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco).

Na última semana, a vítima da depressão foi a jovem Beatriz Matos Bruno Gonçalves, que faleceu ao atentar contra a própria vida. Todo o caso aconteceu depois dela ter sido expulsa de uma escola no bairro Coophasul, em Campo Grande. A menina tinha o desejo de se formar e estava no 9° ano do ensino fundamental, e neste ano, faria a tão sonhada formatura.

Mas o sonho de Beatriz foi interrompido. Ela foi alvo de uma conversa de outras colegas da escola sobre suposto roubo de um carregador, mas tudo não passava de um engano. Beatriz não tinha relação com o sumiço do objeto. “A minha filha tinha um problema psicológico, ela criava um mundo de fantasias na cabeça dela e ela acreditava nisso”, contou Guicela Matos Bruno, 31 anos.

Deprimida, garota expulsa de escola engrossa lista de suicídios em Campo Grande
Beatriz sofreu de depressão aos 14 anos. (Foto: Reprodução/Facebook)

Por esse motivo, Beatriz acabou brigando com uma colega de sala a 100 metros da escola e a diretora foi chamada para intervir. A mãe, que foi chamada para ter ciência da situação, ouviu todas as versões e conversou a sós com a diretora. “A minha filha tinha bom comportamento com todos os professores, estava indo bem”. Depois de tudo resolvido, a diretora resolveu expulsar Beatriz do colégio, não pelo ocorrido, mas sim para evitar novas brigas e que isso acabasse incentivando novos alunos a brigarem.

Passado o episódio da escola, Guicela diz que não agiu diferente com a filha, apenas retirou o celular da menina. Beatriz, segundo a mãe, não acessava redes sociais. No aparelho havia apenas jogos, fotos de Beatriz sorridente e feliz e vídeos dela cantando e dublando músicas. A mãe conta que o pai da menina foi o primeiro a conversar com ela depois da expulsão no colégio.

“Ele conversou, perguntou o que havia acontecido, porque ela estava tendo aquela atitude e a resposta era o silêncio. No outro dia, na parte da manhã conversei com ela, falei que eu iria conversar com a psicóloga dela para tentar o mais rápido uma nova consulta, fiz isso e estava agendado, mas eu vou ter que ir conversar para saber o que foi conversado com minha filha, se ela já tinha demonstrado que tinha essa vontade [suicídio], porque eu não consegui ouvir o grito dela de socorro, porque ela estava com depressão, e não foi só questão da escola, era de um todo. Era uma adolescente com depressão”, explicou a mãe por telefone.

Uma morte que ninguém esperava, mas que rapidamente a depressão deu seus sinais e abateu não só a filha que partiu, mas todos que conviviam com a adolescente. “Uma coisa inesperada, foi um susto para mim. Não sei se ela não estava se sentindo muito amada. A depressão não toma conta só dos adultos, a depressão está tomando conta das nossas crianças e o pais estão na correria do dia a dia, estão deixando os filhos e não estão prestando atenção”, relatou emocionada.

O que diz a psicologia

A briga envolvendo a menina e toda a fantasia formada na cabeça da adolescente, conforme relatado pela mãe, pode ter sido o ‘estopim’ para que a menina tirasse a própria vida. “Pode haver eventos que funcionam como gatilho que desencadeiam. Dificilmente é uma coisa só, geralmente vai se acumulando, um acumulativo de coisas e depende da personalidade, mas pode funcionar como um estopim, uma gota d’água”, afirmou o professor.

“Ter perda de prazer em coisas que antes tinham prazer, a pessoa perde interesse naquilo que tinha interesse”, é um dos elementos citados por Fernando que fez com que a adolescente demonstrasse alguns sinais de depressão.

No adolescente, o professor explica que a depressão tende a ser mais parecida com a doença que atinge os adultos. “Pode ter uns rotantes de irritabilidade, como se tivesse um misto da doença infantil com a do adulto”.

Rosalino pontua que o isolamento, a apatia, alteração de apetite e sono e deixar de ter prazer em coisas que antes tinham costume de se fazer, é para se ligar o alerta. “Os pais não vão fazer o diagnóstico, mas a escola, os amigos ou os pais que estão por perto detectam que tem alguma coisa diferente. É preciso deixar a pessoa muito à vontade, mas sem julgar”.

Como tratar

A melhor maneira de iniciar um tratamento da depressão é com a conversa. Segundo o professor Fernando, a pessoa precisa se sentir à vontade para relatar os problemas e aceitar a busca por uma ajuda profissional. “A pessoa precisar sentir que existe alguém que a entende, que compreende, que dê um sentindo nesse mundo, por isso a família é fundamental nesse papel”, explicou.

Alto número

Do início do ano de 2019 até o dia 24 de março, cerca de 254 tentativas de suicídio foram registradas em Campo Grande. Os dados da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) não detalham os casos por faixa etária.

No ano passado, pelo menos 91 adolescentes tentaram o suicídio conforme números levantados pela Sesau. Na faixa etária de 10 a 14 anos, pelo menos 84 casos eram do sexo feminino.

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