Antes do acidente aéreo, o arquiteto Kongjian Yu enviou um vídeo sobre o Pantanal a colegas da China. Mundialmente conhecido, ele chamou o bioma de “pulmão da Terra”, “último Éden”, “fonte de água para toda a humanidade e um reservatório de vida”. O chinês ainda alertou para as mudanças climáticas que ameaçam a região pantaneira.
Kongjian Yu gravava um documentário sobrevoando o Pantanal, junto dos cineastas Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz e Rubens Crispim Júnior e do piloto Marcelo Pereira Barros. Os quatro morreram quando o avião de pequeno porte em que estavam caiu a 100 metros da cabeceira da pista, na Fazenda Barra Mansa, em Aquidauana, na terça-feira (23).
No vídeo, o arquiteto afirma que o Pantanal é como uma enorme esponja. Ele é o criador das ‘cidades-esponja‘, noção de usar o paisagismo estrategicamente, de modo a minimizar os impactos de enchentes. O projeto alia técnicas de absorção e reaproveitamento das águas da chuva. O chinês ligou o bioma pantaneiro ao conceito porque “ele armazena as águas e nutre a vida”.
‘Este paraíso está mudando’
Além disso, Kongjian Yu surpreendeu-se ao ver peões tocando gado em meio à poeira da estação seca do Pantanal. “Vi a fazenda engolir lentamente esta cidade aquática sob o pôr do sol. Cowboys conduzem quase mil cabeças de gado, poeira e depois o brilho se entrelaça em uma imagem magnífica e trágica. Este paraíso está mudando silenciosamente“.
O arquiteto chinês também alertou para os perigos escondidos no Pantanal. Ele afirmou que pastagens se espalham e invadem a área úmida. “Costumava ser um paraíso para inúmeros pássaros, peixes, um paraíso para répteis e mamíferos. Agora, é gradualmente cortado por cercas, substituído por gado.”
Enquanto os peões agitavam chicotes para fechar o rebanho, Kongjian Yu via o gado sendo conduzido do pasto para o mercado. “Naquele momento, o mundo se encheu de um poder magnífico, mas também de uma tristeza silenciosa”, afirmou o arquiteto. Segundo ele, as origens de “floresta virgem” do Pantanal transformaram-se em “um grande pasto”.
Pantanal é esperança
Kongjian Yu apostava que o bioma sul-mato-grossense poderia ser a resposta para mazelas ambientais da humanidade. “Este Pantanal, conhecido como o pulmão da Terra, não é apenas o interior da América, mas também a fonte de água para toda a humanidade e um reservatório de vida.”
No entanto, o arquiteto alertou que o destino do Pantanal poderia afetar o equilíbrio ecológico global. “A água aqui, a vida aqui e as escolhas dos humanos aqui nos dirão uma pergunta urgente. Quando o último Éden também estiver recuando, onde os humanos poderão encontrar esperança de sobrevivência?”
Por fim, o arquiteto revelou que tinha expectativas e projetos de manter-se pesquisando o Pantanal. “Minha exploração apenas começou”, afirmou Kongjian Yu, poucos dias antes do acidente aéreo que tirou a vida dele, no coração do Pantanal.
O que se sabe sobre o acidente:
- O arquiteto Kongjian Yu e os brasileiros Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz e Rubens Crispim Júnior estavam no Pantanal desde o dia 20 deste mês, para gravar um documentário. Marcelo Pereira Barros, o piloto e dono do avião, havia sido contratado para levar o grupo aos lugares.
- O grupo deveria retornar na terça (23), quando ocorreu o acidente e o avião caiu, explodindo na cabeceira da pista.
- Os corpos ficaram carbonizados e exames de DNA identificariam as vítimas. O resgate dos corpos demorou cerca de 9 horas, devido à dificuldade de acessar o local do acidente.
- No caso do arquiteto, a família de Kongjian Yu está vindo ao Brasil para o corpo ser periciado com a presença de familiares. Isso ocorre por respeito a uma tradição cultural. Ainda não há previsão para o procedimento.
- A queda do avião ocorreu quando Marcelo teria feito a manobra de arremeter a aeronave, ocasionando a perda de altitude e a queda do avião.
- Foi dito que uma manada de porcos-do-mato estaria na pista quando o piloto tentou a manobra, mas a Polícia Civil descartou a possibilidade.
- O avião havia sido fabricado em 1958 e não tinha autorização para trabalhar como táxi aéreo.
- A aeronave não tinha instrumentos para voar à noite.
- O avião já havia sido alvo da Operação Ícaro em 2019, por irregularidades.
- Morreram no acidente o piloto Marcelo Pereira de Barros, o arquiteto chinês Kongjian Yu e os cineastas Luiz Fernando Ferraz e Rubens Crispim Jr.
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(Revisão: Dáfini Lisboa)
