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Transparência

Prefeito em MS usou rede de espionagem clandestina e quase ‘melou’ ação da PF contra narcotráfico

Sejusp não informou se investiga agentes de segurança envolvidos no episódio por violação do sigilo funcional
Celso Bejarano -
Prefeito em MS e rede de espionagem de autoridades quase 'melou' operação contra traficante em MS (Divulgação)

Prefeito de cidade no interior de revelou ter ao seu dispor eficiente rede de espionagem clandestina, com participação de autoridades e agentes públicos em episódio que quase salvou investigado por tráfico de drogas, alvo da PF (Polícia Federal).

Aparato de espiões contava com policiais civis e militares, servidores públicos, agentes do Detran-MS (Departamento de Trânsito de Mato Grosso do Sul).

Conforme consta em relatório de investigação da PF, o qual o Jornal Midiamax teve acesso, o mandatário intrometeu-se numa investigação ao ponto de abordar na rua policiais federais que rodavam a cidade em carro descaracterizado.

Depois disso, o prefeito correu em suas redes sociais e narrou o episódio. O caso só não estremeceu a operação porque os policiais mantiveram-se incógnitos, desconhecidos.

Incidente em questão ocorreu no ano passado.

Antes de impor a operação contra o narcotráfico, policiais federais que agiram na investigação foram à cidade administrada pelo prefeito e lá fizeram diligências num carro descaracterizado.

Foram até a região onde mora um dos investigados e, ainda, no prédio da prefeitura, onde fizeram fotografias.

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Prefeito cercou viatura da PF e abordou agentes

Segundo relato dos policiais: “a vigilância da casa de um dos investigados por envolvimento com o tráfico de droga, foi realizada com sucesso a partir de outra rua e, após cerca de uma hora, a equipe encerrou os trabalhos e iniciou o deslocamento de volta a base da apuração. Ao se aproximar da saída da cidade, uma camionete branca encostou na lateral da viatura descaracteriza e fez sinal para parar. A equipe parou a viatura em estado de alerta e baixou o vidro do motorista. Nesse momento, o ocupante do banco do carona desembarcou da camionete e, em tom ameaçador, perguntou se éramos [os policiais] nós quem estávamos tirando fotos da prefeitura. A equipe respondeu que sim. Na sequência, o homem perguntou do que se tratava. A equipe respondeu que a prefeitura é um prédio público e que, portanto, não há nenhum impedimento em realizar fotos do local. O homem não respondeu nada e, por alguns instantes, permaneceu olhando para dentro da viatura. Um dos policiais perguntou: “Quem é você?”, e ele respondeu: “Sou o prefeito da cidade”. Em seguida, ele voltou para a camionete e foram embora. Nesse momento, os policiais acessaram imagens disponíveis na internet e confirmaram que se tratava realmente do mandatário da cidade. Essa abordagem ocorreu por volta das 13:20hs“.

No relato dos policiais federais, eles levantam a ideia de que o prefeito estaria na caminhonete junto com seguranças, note:

“Importante mencionar que além do prefeito, havia outros três homens dentro do carro. A equipe não sabe dizer se eles também desembarcaram, pois, durante a abordagem, a atenção ficou voltada para o prefeito, que chegou na janela da viatura. Considerando a notícia de que o prefeito em questão costuma andar com seguranças armados, é possível que os demais homens do carro sejam seus seguranças. Como a equipe policial fora abordada por pessoas que não estavam identificadas como policiais, os agentes federais optaram por não revelar suas identidades funcionais, até mesmo para preservar o sigilo dos levantamentos realizados na cidade, pois, dentro de alguns dias, a operação contra os traficantes seria deflagrada e o vazamento de qualquer tipo de informação naquele momento poderia resultar em fuga ou em destruição de provas importantes para a investigação.

Após a abordagem do prefeito, a equipe retornou para a base”.

Expôs rede de espionagem clandestina

Depois da abordagem ao carro dos policiais, o prefeito postou o assunto em redes sociais – e quase atrapalhou a investigação.

“Nesse mesmo dia, o prefeito postou um vídeo em sua conta na rede social (Instagram) relatando o ocorrido com um viés político. No vídeo, o prefeito diz que ‘puxou a placa’ do veículo (viatura velada) e que ninguém conseguiu identificá-lo. Ele declara também que ele próprio procurou o carro pelas ruas da cidade e, ao encontrá-lo, fez a abordagem”.

Os investigadores citam, ainda, no relatório acerca da abordagem do prefeito à viatura descaracterizada um aspecto tido por eles como importante a ser considerado: “a consulta da placa da viatura descaracterizada, a qual provavelmente foi realizada por algum agente público e informada ao prefeito, “o que constitui crime de violação de sigilo funcional. Isso demonstra que o prefeito e seu grupo têm apoio de servidores públicos, como policiais ou agentes do DETRAN, os quais possuem acesso a esse tipo de consulta junto aos sistemas de segurança”.

Arrematam os investigadores:

“Portando, sugerimos a esta autoridade policial [PF] oficiar os órgãos de segurança responsáveis a fim de verificar quais matrículas consultaram a placa da viatura utilizada nos levantamentos do dia 01/08/2024, no período das 12:12hs (momento em que o policial foi notado tirando a foto da prefeitura)”.

A reportagem tentou saber se a PF pediu às autoridades da segurança estadual que os eventuais espiões do prefeito foi ou está sendo investigados.

A assessoria da Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública) prometeu checar o assunto, mas não informou se há uma investigação sobre possíveis violações cometidas pelos agentes de segurança pública. Apenas adiantou que, dependendo da situação, o caso seguiria para Corregedoria da Polícia Civil ou, então, Corregedoria da Polícia Militar.

Já a assessoria de imprensa do Detran-MS pediu que os questionamentos acerca do caso fossem enviados por e-mail. O espaço segue aberto para posicionamento.

Investigadores estranham medo de prefeito

Noutro trecho do transcrito pelos policiais, eles citam que chamou a atenção o fato de o prefeito (e de sua equipe) se sentir tão ameaçado por uma simples fotografia tirada da fachada da prefeitura a ponto dele mesmo sair no meio de seu expediente para procurar pelas ruas da cidade o autor da foto.

Seguiram relatando o episódio, os policiais:

“Mais estranho ainda é o fato dele próprio [prefeito] realizar a abordagem do veículo, como se essa simples fotografia representasse uma ameaça direta a sua segurança. Pesquisas realizadas na internet não identificaram nenhuma notícia relatando que o tal prefeito venha sofrendo ameaças devido ao exercício de suas funções, o que até poderia justificar seu receio. Pelo contrário, ele declara que é muito querido por seus eleitores e que tem a aprovação da maioria dos moradores da cidade. Segundo suas declarações no vídeo postado, havia duas possibilidades para uma pessoa fotografar o prédio da prefeitura:

(1) ou poderia se tratar de policiais investigando algum crime;

(2) ou poderia se tratar de criminosos planejando algum atentado contra sua vida”.

“Considerando a primeira alternativa, não há o que temer, pois, nesse caso, policiais são agentes públicos que exercem suas funções na forma da lei. Além disso, o cidadão de conduta ilibada não teme a polícia, a qual investiga criminosos e não pessoas de bem. E ainda que ele fosse alvo de alguma investigação policial, isso não colocaria em risco sua vida, pois todo investigado tem direito ao processo legal, onde ele poderá se defender por meio de um e com todos os seus direitos constitucionais garantidos. Portanto, no caso da primeira hipótese, não havia qualquer risco iminente para sua vida que justificasse aquela atitude.

Considerando a segunda alternativa, a conduta do prefeito se torna ainda mais absurda, pois, se naquele momento, ele temia por sua segurança, não faz sentido ele mesmo abordar um veículo que supostamente levava criminosos que planejavam lhe fazer mal, ainda mais desarmado (aparentemente), pois ele, o mandatário, não tem porte de arma”.

Ainda que o prefeito se autodeclare nas redes sociais “sua valentia”, sua atitude se mostra desproporcional em relação a um prefeito de uma pequena cidade do interior do MS que, segundo ele, “é atacado por seus opositores políticos pelo simples fato de ser um excelente administrador. Portanto, nenhuma das duas hipóteses apresentadas pelo prefeito justifica racionalmente sua atitude. Ainda consultando as redes sociais, foi encontrada uma foto em que o prefeito recebe um veículo de alto padrão das mãos de um investigado por envolvimento com grupo de traficantes. Tanto que são alvos de mandados de prisão e busca, expedidos pela Justiça Federal por envolvimento com tráfico de drogas. A relação do prefeito com pessoas investigadas por tráfico de drogas, além de sua preocupação extrema com pessoas que fotografam o prédio da prefeitura, levanta a suspeita de seu envolvimento com algum esquema criminoso. Apesar de ser apenas uma hipótese, essa linha de raciocínio justifica perfeitamente a atitude do prefeito, pois, pessoas associadas a esquemas criminosos se preocupam o tempo todo com sua segurança”.

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