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Transparência

Investigação contra Juliano Ferro por compras para festa da mandioca aguarda aval do PGJ

Chefe do MPMS é quem tem prerrogativa para autorizar abertura de inquérito contra prefeitos
Celso Bejarano -
MP de Ivinhema mandou caso ao PGJ (Eliel Dias, Jornal Midiamax / detalhe PGJ, Divulgação MPMS)

Denúncia que aponta supostas irregularidades em licitação para a festa da mandioca, por parte do prefeito de Ivinhema, Juliano Barros Donato (), depende do aval do PGJ (Procurador-Geral de Justiça), Romão Ávila Milhan Júnior.

A promotora de Justiça, Lenize Lunardi Martins Pedreira, recebeu o caso, mas o remeteu ao chefe do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), já que se trata de acusação contra um prefeito.

Caso o PGJ dê autorização, ele mesmo ou outro membro do órgão que ele determinar poderá tocar a investigação que aponta suposta fraude em licitação para contratação de empresa para realizar a tradicional festa da cidade, a 290 km de , de 30 mil habitantes.

Isso porque Ferro só pode ser investigado se Romão Ávila autorizar, pois, como prefeito, ele tem foro privilegiado e a instauração de procedimento investigatório contra chefes do Executivo municipal é da competência do Procurador-Geral de Justiça. O PGJ também pode designar alguém para tal fim.

Juliano se diz o prefeito “mais louco do Brasil” e é conhecido na cidade como Juliano Ferro. Ele tem um milhão de seguidores nas redes sociais.

Em documento enviado ao PGJ, a promotora cita que é “atribuição do Excelentíssimo Procurador Geral de Justiça promover o inquérito civil e a ação civil para defesa do patrimônio público e social, bem como da probidade e legalidade administrativas, quando a responsabilidade for decorrente de ato praticado, em razão de suas funções, por prefeito municipal”.

De acordo com o documento [veja abaixo] do Ministério Público, a promotora quer “colher informações preliminares sobre eventual irregularidade na adesão pelo Município de Ivinhema-MS à Ata de Registro de Preços do Município de Jardim-MS n. 08/2025, referente à futura e eventual contratação de empresa especializada em fornecimento de serviços de locação de bens estruturais e sonorização, inclusos equipamentos e suas operacionalizações e serviço de animação musical para diversos eventos culturais realizados pela municipalidade”.

Investigação

O primeiro passo da investigação, segundo o ofício da promotora, é ouvir o município de Ivinhema e a Leo Palcos Tendas e Eventos LTDA, uma das empresas que teria sido desclassificada do certame. Leo Palcos é uma microempresa de fundada há cinco anos e meio e teria capital de meio milhão de reais.

Quem denunciou a empresa foi a P10 Comunicação e Eventos Ltda. que, embora tenha sido aprovada pela equipe da prefeitura que comandou a licitação, ficou fora do festival, ou seja, não prestou serviço algum.

Souza Netto, consultor jurídico e de licitações da empresa P10 e que atuou diretamente na concorrência promovida pela prefeitura de Ivinhema, disse que o prefeito cancelou o certame dias antes da festa.

Conforme a denúncia, teria, ainda, lhe ofertado R$ 50 mil para não denunciar o caso, mas ele recusou o dinheiro e procurou o MPMS.

O Jornal Midiamax tentou conversar com a promotora, mas ela orientou a reportagem a buscar informação na assessoria de imprensa da instituição, em Campo Grande.

A reportagem quis saber detalhes da investigação, como vai funcionar. Os contatos foram feitos por telefone e e-mail, conforme orientação da assessoria. No entanto, até a publicação deste material, não houve retorno.

Prefeito diz que economizou

ivinhema propina
Prefeito recebeu o Jornal Midiamax no gabinete (Eliel Dias, Jornal Midiamax)

O prefeito Juliano Ferro confirmou ter suspendido a licitação que já estava pronta e recorreu a uma Ata de Preços do município de Jardim, cidade sul-mato-grossense situada a mais de 300 km de Ivinhema. Na tal Ata havia serviços que seriam contratatos pela prefeitura e que custaram “bem menos” que os preços anunciados pelas empresas que tinham vencido a concorrência pelo Festival da Mandioca.

Ele negou que tenha ofertado dinheiro pelo silêncio da empresa classificada, a P10, no caso.

Negociou caminhonete com cantor do festival

Paulo Pires, cantor sertanejo de Goiânia, capital de Goiás, comprou uma caminhonete Silverado, veículo da marca Chevrolet, do prefeito Juliano, uma semana depois do Festival da Mandioca, conforme divulgado pelo próprio prefeito em suas redes sociais.

O show de Paulo Pires, que cantou 1h40 minutos na festa, custou R$ 120 mil. O município anunciou ter contratado o músico por meio da inelegibilidade de licitação.

Opiniões contrárias

O prefeito Juliano recebeu, recentemente, a equipe do Jornal Midiamax em seu gabinete. Já em seu segundo mandato, o tucano garante ter feito diferente de seus antecessores, daí teria alcançado uma espécie de ‘gestões perfeitas’.

Eleito pela segunda vez, em outubro passado, com perto de 82% dos votos, Juliano conta ter produzido na cidade o que a população pedia, nada mais, por isso o sucesso nas urnas.

Contudo, em conversa com o Jornal Midiamax, o presidente da ACIIV ( Associação Comercial e Industrial de Ivinhema), já há década no cargo, Valentim Peixoto, e Valdemar Ângelo, vereador do PDT, o Dema, ex-presidente da Câmara Municipal, dono de seis mandatos – o último até dezembro passado -, têm outra versão que justifica o triunfo da administração de Juliano.

Centro de Ivinhema (Eliel Dias, Jornal Midiamax)

Os dois disseram que os ex-prefeitos Renato Câmara, MDB (2005-2012), e Eder Uilson França Lima, o Tuta, do PSDB (2013-2020), corrigiram falhas antigas que tinham endividado o município e eles enfrentaram dificuldades em investir em obras ao aplicarem os recursos municipais em contas atrasadas.

Ao assumir o primeiro mandato, em 2021, Juliano Ferro teria pegado as finanças equilibradas e, então, aplicou recursos em benfeitorias que aqueceram o mercado do comércio local, por exemplo.

Valetim aponta o asfaltamento das principais vias na parte central da cidade como conteúdo favorável aos negócios que fortaleceram o comércio do município.

Dema, o ex-presidente da Câmara Municipal, concorda com o chefe da ACIIV, e acrescenta que o atual prefeito conseguiu arrumar o asfalto graças a um empréstimo milionário feito pela prefeitura.

Os dois, sem criticar a gestão de Juliano Ferro, adotam um mesmo raciocínio: a gestão de Ferro vive hoje sob céu de brigadeiro graças a ações dos ex-prefeitos da cidade, Câmara e Tuta. Sem as finanças equilibradas, o atual gestor pouco teria feito pelo município.

Isso contraria o entendimento do atual gestor, que acha ter sido eleito por influência das más gestões dos antecessores.

A região de Ivinhema conquistou, ainda, sucesso econômico, como criação de empregos na região.

Juliano Ferro, que era vereador antes de prefeito, disse ter conquistado a escalada política graças ao que chama de “falhas praticadas” pelos antecessores.

Ações eleitoreiras

Prefeitura de Ivinhema (Eliel Dias, Jornal Midiamax)

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Ele disse ao Jornal Midiamax que no período em que exercia mandato de vereador, “conversando com as pessoas, chegava numa escola, por exemplo, onde, às vezes, faltava um ar-condicionado ou alguma coisa, eu utilizava do meu salário para fazer alguns atendimentos”.

No caso, o prefeito disse que comprava o equipamento e doava à escola.

Hoje, segundo ele, as escolas municipais contam, todas, com ar-condicionado e, também, todas as unidades educacionais foram reformadas pela prefeitura.

Outra conquista de suas gestões, segue Ferro, tem a ver com as crianças da cidade.

“Quando eu era vereador, comprava brinquedo, fazia distribuição no Dia das Crianças, usávamos o dinheiro do meu bolso, que era o meu salário. E assim a gente foi ganhando a confiança da sociedade, ganhando a confiança do povo e administrei de um jeito que agradava à sociedade”, concluiu o mandatário, que diz sentir orgulho ao comentar que a prefeitura de Ivinhema promove a Festa do Dia da Criança.

Amado e odiado

Juliano Ferro, por onde anda, é saudado por parte da população, no entanto, seus opositores pensam diferente.

O bordão ‘mais louco do Brasil’ surgiu em 2020 – segundo ele disse à reportagem, ano que disputou o primeiro mandato de prefeito de Ivinhema. Com discurso de que era um político inovador, ele faturou o pleito com 48% dos votos.

Quatro anos se passaram e, em outubro passado, foi reeleito com 81,29% dos votos, uma lavada no rival Fábio do Canto, do União Brasil, que conquistou apenas 18,71%.

A conta ficou assim: a cada dez eleitores de Ivinhema, 8 cravaram voto no ‘mais louco do Brasil’.
Caindo nos números: Juliano conquistou 12.838 votos, já Fábio do Canto obteve 2.954 votos.

O bom no voto, que disse ter ‘nascido e criado’ em Ivinhema, já era conhecido como o ‘mais louco’.

Origem do bordão

Entrada da cidade com boiadeiro usando chapéu levanta suspeita de ser inspirada no próprio prefeito (Eliel Dias, Jornal Midiamax)

“Quando eu saí candidato a prefeito [2020], os meus adversários aqui diziam assim para a sociedade: como vocês vão votar num louco?”

Para Juliano Ferro, que disse ter herdado a carreira política do pai Preto Ferro, que morreu de Covid em dezembro de 2020, seus adversários não tinham como ‘difamá-lo ou caluniá-lo, rebaixá-lo’, daí, então, o prefeito quis reverter o que ‘viam’ como negativo, a chance de transformar em ‘positivo’ a ele.

“Mas eu sou louco, sabe por quê? Eu sou louco por ver minha cidade crescendo”. E pegou. Em outubro do ano passado, Juliano tinha em suas redes sociais 760 mil seguidores; hoje, 9 meses depois, já soma 1 milhão.

O número de ‘fiéis’ ao prefeito equivale a 33 vezes a população de Ivinhema. Muitos nem moram em MS. Alguns desavisados nem sequer sabem em que região fica a cidade.

Uma mensageira citou, certa vez, em comentário sobre o mandatário: queria ter em minha cidade um prefeito igual ao prefeito de Ivinhema, lá de Minas Gerais.

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Influencer

O prefeito louco diz a quem o acha perverso, perigoso, que o chamam assim por “perseguição política”.
Juliano, além do bordão Louco, tem algo de excêntrico nas atitudes. Tudo que ocorre na vida política ou na vida privada ele divulga nas redes sociais.

Vai vender um carro, mostra lá com vídeos e conversas motivacionais; não gosta de reportagens que o criticam ou denunciam, mostra lá sempre em tom vitimado que é perseguido politicamente; quer mandar recado a detratores políticos, mostra lá com vídeo.

Juliano Ferro conta um caso em que realça a ideia de que “jogo vira”, uma hora o sujeito é o apostador, noutra aquele que dá as cartas. Deixa a entender que ele é quem é dono aposta, o comandante da jogatina, no caso.

Por dois dias, a reportagem esteve na cidade de Ivinhema, onde rodou pelas ruas principais e conversou com pedestres e trabalhadores do comércio.

“Ele foi bom para nós, é só observar as ruas, todas, asfaltadas. Tudo melhorou. Tudo, saúde, educação. [Juliano] ele foi o melhor prefeito que tivemos”, disse a comerciária, que só não quis aparecer na reportagem, ou se identificar.

Juliano Ferro garantiu que até o fim de seu mandato vai asfaltar 100% das ruas da cidade. Ele afirmou ainda ter reformado todas as escolas municipais e estaduais do município.

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