Apontado como principal alvo da PF (Polícia Federal) em investigação que apura desvio milionário de recursos da educação em Mato Grosso do Sul, o empresário Marcelo Américo dos Reis aparece como sócio em ao menos sete negócios, sendo que quatro deles estão localizados no mesmo endereço, em Campo Grande, ao menos no papel.
Nesta semana, a PF deflagrou a operação ‘Vox Veritatis’, que apura fraudes em licitações e contratos em valores que superam os R$ 20 milhões na SED (Secretaria de Educação). Também são alvo das investigações: Édio Antônio Resende de Castro – Ex-secretário-adjunto da SED; Andrea Cristina Souza Lima – ex-coordenadora de licitações e contratos da SED; Elimar Pereira dos Santos – empresário, sócio da Pro-Info Energia; e Leonardo Primo de Araújo – empresário, sócio da L&L Comercial e prestadora de serviços Ltda Epp.
Chama atenção o fato de três das quatro empresas de Marcelo estarem localizadas na Rua Ingazeira, 447, no Bairro Santa Fé, e outra, de aluguel de imóveis, na casa ao lado, de número 443, onde sequer há interfone. Vale ressaltar que Marcelo é irmão de empresário dono de site de notícias e outdoor em Campo Grande.
A reportagem do Jornal Midiamax esteve no endereço em que deveriam funcionar três empresas de Marcelo, conforme cadastro junto à Receita Federal. Inclusive a Hex Marketing, que teve contrato de R$ 1,9 milhão com o governo do Estado durante a gestão de Reinaldo Azambuja (PSDB).
No número 443, onde seria a sede da Rumba Marketing, sequer há interfone. Já no número 447, é possível constatar uma placa identificando o local como sede da Ingazeira Marketing. No entanto, ao tocar o interfone, um funcionário atendeu e disse nunca ter ouvido falar na Hex Marketing, que tem o prédio como sede.
Ao ser perguntado se no local funcionaria somente a Ingazeira, o trabalhador também demonstrou dúvida, dizendo ‘achar que sim’, apesar de haver uma placa identificando o prédio como sede da Ingazeira.

Por fim, tentamos falar com Marcelo, mas o funcionário informou estar viajando para o Rio de Janeiro.
Ouça o áudio:
Empresa de marketing vende ‘de tudo’, até cobertor por R$ 1,9 milhão
Dos CNPJs ligados a Marcelo, apenas um deles deteve contrato com o governo de Mato Grosso do Sul, em 2022, durante a gestão de Reinaldo Azambuja (PSDB): a Hex Marketing, que forneceu 40 mil cobertores para a Assistência Social naquele ano, num contrato de R$ 1,9 milhão.
Conforme informações oficiais da Receita Federal, a empresa foi criada em 2020, com capital de R$ 1 milhão. Apesar do empreendimento levar marketing no nome e ter ‘marketing direto’ como principal atividade, Marcelo também informou ao governo federal que sua empresa está apta para exercer outras 36 atividades que vão de vender água mineral a roupas de cama, cosméticos e até mesmo remédios.
Durante cumprimento de mandados em endereços ligados a Marcelo, tanto em Campo Grande como no Rio de Janeiro, a PF apreendeu R$ 510.200,00 em dinheiro em espécie.

Em 2023, já morando no Rio de Janeiro, Marcelo recebeu das mãos de Papy (PSDB) título de ‘cidadão campo-grandense’.

Leia também – Empresários pagavam propina de 5% para ex-servidores da SED fraudarem licitações milionárias
Citado em denúncia sobre desvio milionário no RJ
Marcelo foi citado em denúncia do Gaecc-RJ (Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção), em 2018, em esquema que desviou R$ 44,7 milhões do Estado do Rio de Janeiro.
Apesar de Marcelo não constar entre os denunciados, o nome dele aparece com ligação ao ‘chefe’ do esquema, o empresário Carlos Felipe de Paiva.
Conforme o documento, Paiva tinha contrato com a agência prisional do RJ para fornecer lanches, mas teve contrato suspenso por determinação do Tribunal de Contas.
Então, ele indica nomes ligados a eles, ‘laranjas’, para a diretoria de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público chamada Iniciativa Primus, que assume o contrato de R$ 76 milhões, que seria superfaturado, segundo o Gaecc.
Assim, Marcelo assume a vice-diretoria da OSCIP, em 2010, por indicação de Paiva. Além disso, as investigações apontam que Marcelo era sócio de Wedson Gedeão de Farias, ex-funcionário de Paiva e apontado como ‘laranja’ no negócio.
Na época, reportagem do O Globo esteve no endereço que seria da iniciativa e não encontrou nenhuma referência à OSCIP no local. Além disso, o telefone cadastrado era de um consultório dentário.
A reportagem acionou contatos oficiais cadastrados junto à Receita Federal ligados a Marcelo, mas não obteve resposta até esta publicação. O espaço segue aberto para posicionamento.
A Secretaria de Administração Penitenciária informou que rompeu unilateralmente o contrato com a Iniciativa Primus.

✅ Clique aqui para seguir o canal do Jornal Midiamax no WhatsApp
Alvo de operação em MS
A casa do empresário Marcelo Américo dos Reis, no Rio de Janeiro, foi um dos alvos da Operação ‘Vox Veritatis’. No local, a PF apreendeu R$ 146,8 mil em bolos de dinheiro.
O empresário, principal alvo da operação, mora em apartamento do bairro de Ipanema, em que imóveis de luxo podem chegar a R$ 3 milhões. Além disso, ele mantém empresas em Mato Grosso do Sul e no Rio de Janeiro, onde atua no ramo dos calçados masculinos — com diversas lojas na Zona Sul.
Durante esta manhã, a PF e Receita Federal estiveram no apartamento cumprindo um mandado de busca e apreensão. Não há informação se Marcelo, que é irmão de um empresário do ramo da comunicação em Campo Grande, estava em casa.

✅ Clique aqui para seguir o Jornal Midiamax no Instagram
Operação Vox Veritatis
Nesta quarta (21), a PF cumpriu oito mandados de busca e apreensão na Capital e um mandado no Rio de Janeiro. A operação Vox Veritatis é para apurar suspeitas de fraudes milionárias em contratos da SED.
A ofensiva é desdobramento das operações “Mineração de Ouro” e “Terceirização de Ouro”, que também investigaram desvios de recursos públicos federais no Estado. Em Campo Grande, a polícia ainda apreendeu R$ 363 mil dentro de cofre em um apartamento vazio, em prédio de luxo.
Segundo a investigação, empresários, em parceria com servidores da SED, manipulavam o processo de adesão a atas de registro de preços de outros órgãos públicos. Os contratos, fechados com sobrepreço, garantiam o repasse de comissões de 5% sobre o valor negociado aos intermediários do esquema. Essa comissão era então dividida com os servidores públicos envolvidos.
Os responsáveis poderão responder pelos crimes de peculato, corrupção, lavagem de dinheiro, além de outros crimes em licitações e contratos.
Sabe de algo que o público precisa saber? Fala pro Midiamax!
Se você está por dentro de alguma informação que acha importante o público saber, fale com jornalistas do Jornal Midiamax!
E pode ficar tranquilo, porque nós garantimos total sigilo da fonte, conforme a Constituição Brasileira.
Fala Povo: O leitor pode falar direto no WhatsApp do Jornal Midiamax pelo número (67) 99207-4330. O canal de comunicação serve para os leitores falarem com os jornalistas. Se preferir, você também pode falar com o Jornal direto no Messenger do Facebook.