Por unanimidade, o Colegiado do TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul) negou recurso do deputado federal Beto Pereira (PSDB) que acusava o trabalho jornalístico do Midiamax de ‘perseguição’. A série de reportagens trouxe à tona indícios de que o político teria atuado como chefe de esquema de corrupção no Detran-MS.
Além disso, o Jornal Midiamax revelou que Beto Pereira foi listado pelo TCE-MS como ‘político ficha suja’ para as eleições de 2024, por irregularidades na contas de quando foi prefeito de Terenos.
Com a decisão publicada no útlimo dia 8, a Justiça Eleitoral enterra o pedido do tucano (Recurso Eleitoral 0600348-76.2024.6.12.0036) e confirma que as denúncias divulgadas pelo Jornal Midiamax se mantiveram nos limites do jornalismo investigativo.
Já durante as últimas eleições municipais de Campo Grande, Beto Pereira foi à Justiça Eleitoral reclamando das notícias e tentando barrar o trabalho jornalístico.
Segundo ele, o jornal “de maior circulação [acesso] e credibilidade do Estado de Mato Grosso do Sul” teria divulgado matérias ‘desfavoráveis’ à candidatura como parte de um imaginado esquema de abuso de poder econômico. No entanto, Beto não provou nada do que alegou.
No voto do relator, o juiz Alexandre Antunes da Silva frisou contestação apresentada pelo Jornal Midiamax, que “apresentou suas notícias ‘de maneira técnica e imparcial’, garantindo ao eleitorado campo-grandense o acesso à informação livre de qualquer interferência”, consta em trecho da decisão que foi seguida pelo colegiado.
A decisão da Justiça Eleitoral destaca, ainda, a imparcialidade característica das coberturas jornalísticas do Midiamax.
Delação implicaria Beto e o irmão, mas foi ‘dificultada’
Na verdade, o Jornal Midiamax divulgou uma série de reportagens sobre esquemas de corrupção no Detran-MS, pauta que acompanha ao longo das últimas duas décadas, com diferentes agentes políticos implicados.
Muitos deles acabaram na cadeia.
A denúncia que implica Beto Pereira como chefe de suposto esquema de corrupção para cobrar propina de despachantes e donos de veículos, a fim de fraudar registros no Detran-MS, por enquanto, não teve desfecho nas instâncias que investigam os indícios.
David Chita, despachante que integrava o bando e está foragido porque diz ser marcado para morrer se for preso em MS, garante que tem provas para implicar Beto Pereira e o irmão dele, Gustavo Rezende Pereira, com o esquema. Os dois negam.
Porém, David Chita falou com exclusividade com o Jornal Midiamax. Escondido porque diz estar ‘marcado para morrer’, ele tenta um acordo de colaboração com as autoridades sul-mato-grossenses.
No entanto, as tentativas de delação foram explicitamente dificultadas nas instâncias que deveriam investigar o caso, como o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) ou a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul.
O despachante chegou a reunir farto acervo de provas e documentação para tentar uma delação premiada. No entanto, o pedido foi barrado pela PGR (Procuradoria-Geral da República), que apenas alegou que faltavam elementos, ao passo que não chegou sequer a pedir mais provas.
Enquanto isso, Beto Pereira terminou as eleições em terceiro lugar, sem ir sequer ao segundo turno, que Adriane Lopes (PP) venceu disputando com Rose Modesto (União).
Envolvido em fatos polêmicos
A população campo-grandense que acompanhou a cobertura das eleições do Jornal Midiamax teve acesso a informações relevantes envolvendo todas as chapas a prefeito, conforme confirmou o TRE-MS.
No entanto, Beto Pereira foi o único dos concorrentes à Prefeitura de Campo Grande a integrar a lista de gestores com ‘contas sujas’, publicada pelo Tribunal de Contas do Estado.
Além disso, o político foi apontado pelo despachante David Cloky Hoffaman Chita como chefe de esquema de fraudes no Detran-MS. Em vídeo, Chita, que está foragido por envolvimento no esquema, revelou ter sido chamado por Pereira meses antes das eleições, para levantar fundos para a campanha.
Assim, a decisão da Justiça Eleitoral reconheceu que “se tratou de fato notório que o candidato BETO PEREIRA esteve envolvido em polêmicas e denúncias“.
A sessão foi presidida pelo desembargador Sérgio Fernandes Martins e também contou com voto do desembargador Luiz Tadeu Barbosa Silva, Mariel Cavalin dos Santos, Carlos Alberto Almeida de Oliveira Filho, Fernando Nardon Nielsen e Márcio de Ávila Martins Filho.
Tentativas de censura
Diante das acusações feitas por David sobre esquema de corrupção no Detran-MS, Beto Pereira ingressou, na época, com série de ações na Justiça na tentativa de censurar o Jornal Midiamax de falar sobre o caso, todas sem sucesso.
O político teve pedido negado e apresentou recurso para impedir a reportagem de publicar matérias sobre o caso. Porém, o TRE-MS confirmou que se tratavam de denúncias sérias. “A jurisprudência do TSE tem reconhecido que o perigo de dano, em matérias veiculadas pela imprensa, só se configura em situações de flagrante falsidade ou manipulação dos fatos, o que, na análise sumária, ainda não se verifica no caso“, traz trecho da decisão judicial.
Ainda, conforme trecho da decisão do desembargador Sideni Soncini Pimentel, “o jornal pode divulgar o material que recebeu, preservando assim a liberdade de imprensa e o direito à informação”, pontuou o desembargador sobre a matéria jornalística.
Apesar de sempre ser procurado pela reportagem para se posicionar diante das denúncias, assim como de praxe pelo Jornal Midiamax, Beto Pereira e sua assessoria nunca responderam aos questionamentos sobre as acusações de Chita. Apenas foram às redes sociais, negando em vídeos de propaganda eleitoral.
Fraudes no Detran-MS

Foragido sob alegação de ser um ‘arquivo vivo’ sobre envolvimento de políticos do PSDB em esquemas de corrupção, David Chita teve, recentemente, pedido de revogação de prisão negado pela Justiça.
Ele é réu em um esquema desmantelado em junho do ano passado, pela Polícia Civil. Juntamente dele, a apadrinhada política Yasmin Osório Cabral, que tinha cargo de comissão no Detran-MS e foi exonerada do cargo somente nesta terça-feira (12).
Segundo David, ela havia sido nomeada estrategicamente na corregedoria do órgão, para acessar o sistema e operar o esquema. Além dela, Beto teria articulado a nomeação da prima Priscila Rezende de Rezende, na diretoria de registro de veículos, cargo que ocupa até hoje, para blindar o esquema e permitir que ele pudesse ‘esquentar’ registros.

Conforme documentos obtidos com exclusividade pela reportagem, David detalha verdadeira trama orquestrada em reunião no escritório de Beto Pereira, no Bairro Tiradentes, em Campo Grande, em dezembro de 2022.
Na época, apresentou prints com detalhes do que relatou como pagamentos de R$ 30 mil a Pereira, todo dia 10. Já o ex-diretor do Detran e ex-prefeito de Nova Alvorada do Sul, Juvenal Neto (PSDB), receberia R$ 20 mil, todo dia 20.
“E tem muito mais. O que estou contando para vocês não é nem 30% de tudo que eu sei. Tem muito mais coisas que podem aparecer se quiserem investigar e se não me matarem antes”, alerta David, justificando estar foragido por temer pela própria vida.
Segundo ele, ao menos R$ 1,2 milhão foram repassados ao grupo chefiado pelo deputado federal no período em que o esquema criminoso operou.
PGJ errou até nome em ‘atestado’ para Beto Pereira
Sem responder aos questionamentos da reportagem do Jornal Midiamax sobre as denúncias envolvendo o Detran-MS, Beto Pereira conseguiu rapidamente papel assinado pelo PGJ, Romão Ávila Milan (Milhan) Júnior, com nome errado, informando que o político não estaria sendo investigado.
No entanto, o documento assinado de forma atrapalhada pelo chefe do MPMS apenas constatou o óbvio: de que o nome de Beto não havia sido citado por David no pedido de delação, já que o despachante buscava primeiro uma autorização do MP para, depois, apresentar nomes e provas do que acusou.
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