O despachante David Cloky Hoffmam Chita é considerado foragido da Justiça. Contra ele, existe mandado de prisão em decorrência de investigação por participar de esquema em que teria lucrado ao menos R$ 290 mil com fraudes no Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito). Ele é um dos implicados na Operação Vostok, deflagrada em 2018 contra esquema de pagamento de propinas da JBS a autoridades estaduais.

Conforme investigação do Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado), David teria conseguido liberar documentações de pelo menos 29 veículos com restrições. O esquema envolvia ainda participação de Yasmin Osório Cabral, servidora comissionada no órgão, que foi suspensa das funções pelo período de seis meses – a contar a partir de 12 de junho de 2024.

Durante cumprimento de mandado de busca e apreensão de documentos na casa do despachante, os policiais não encontraram David e foram informados de que ele teria viajado há cerca de dois meses com a esposa para o estado de São Paulo. Então, o mandado de prisão não foi cumprido e ele está foragido.

No entanto, a polícia identificou que a fraude envolveu mais de 200 veículos, principalmente, relacionados a caminhões com quatro eixos antes de regulamentação sobre esses veículos.

Conforme apurado, David já responde a ações penais por fraudes no Detran-MS com participação de servidores. No entanto, a polícia conclui que as fraudes “são a própria essência das atuações de David. Muito mais do que apenas reiterar na conduta delitiva, mesmo respondendo a ações penais, sofrendo medidas cautelares, o investigado continua a se aperfeiçoar e a lucrar em cima de esquemas ilícitos”.

Servidora recebeu iPhone e joias

Conforme relatório de investigação policial, que está em sigilo e o qual o Jornal Midiamax teve acesso, David pagava Yasmin pelos serviços. Foi apurado que ela ganhou iPhone 15 Pro Max – que foi entregue a ela em uma cesta dentro do Detran-MS, joia e eletrônicos como ar-condicionado e televisão, além de valores em dinheiro no Pix.

Como funcionava esquema de fraude no Detran-MS

O despachante recebia informações de servidores do Detran-MS sobre caminhões que estavam com restrições administrativas e, então, abordavam os proprietários dos veículos. Para liberar a documentação, cobravam R$ 10 mil pelo ‘serviço’.

Apesar de não ser função da servidora acessar o sistema que libera veículos, ela se utilizava da senha de outro servidor. Além de David, os despachantes Hudson Romero Sanches e Edilson Cunha Nogueira também acessaram documentos dos veículos que foram liberador irregularmente.

Assim, o relatório coloca David como provedor e coordenador das operações, ele apontava quais veículos era para dar baixa, assim como era responsável pela captação de clientes e distribuir os valores obtidos ilicitamente.

Já Yasmin era a servidora dentro do Detran-MS que conseguiu clandestinamente acesso ao sistema e liberar as restrições, bem como levantar os veículos que poderiam ser alvo do grupo. Hudson também era responsável por baixar os documentos já liberados, assim como ajudar na seleção de veículos alvos da fraude. Por fim, Edilson auxiliava David na tentativa de download de documentos e tinha escritório compartilhado com ele.

Confira nota emitida pelo Detran-MS sobre o caso: “A investigação em questão corre sob sigilo de justiça, de maneira que, como determina o devido processo legal, afastamentos e demais processos administrativos, cíveis ou criminais, devem ser tratados como prevê a legislação. 

O Detran-MS reforça que colabora com os órgãos de controle, interno e externo, para garantir apuração célere e punição rigorosa de eventuais servidores envolvidos em quaisquer práticas ilegais e/ou criminosas. 

Reiteramos que a identificação de atividade ilícita que culminou com as investigações em curso, só foi possível graças ao monitoramento ininterrupto feito pelo Departamento de Trânsito, que identifica ações ou operações atípicas dos servidores, gerando alertas para os departamentos responsáveis investigarem mais a fundo“.

Yasmin foi procurada pela reportagem para se posicionar sobre as acusações, mas não enviou resposta até a publicação dessa reportagem. O espaço segue aberto para manifestação.

Operação Vostok

Deflagrada pela PF (Polícia Federal) em setembro de 2018, a Operação Vostok teve objetivo de combater um esquema de pagamento de propina a representantes da cúpula dos Poderes Executivo e Legislativo estaduais, além do Tribunal de Contas do Estado, no Mato Grosso do Sul.

As investigações foram iniciadas tendo por base os termos de colaboração premiada de executivos de uma grande empresa do ramo frigorífico. Os colaboradores detalharam os procedimentos adotados junto ao governo do Estado para a obtenção de benefícios fiscais – TAREs.