Coronel reformado de MS admite à PF ter sugerido prisão de Alexandre de Moraes em um domingo

Áudio foi interceptado pela Polícia Federal e militar questionado durante interrogatório

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Viatura da PF no pátio da Superintendência em Campo Grande (Henrique Arakaki, Arquivo Midiamax)

Foi disponibilizado na íntegra o depoimento do coronel reformado Laércio Vergílio, de Campo Grande, com trechos de áudios interceptados pela Polícia Federal. Em um dos áudios, o militar afirma que o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes, deveria ser preso num domingo, “como ele faz com todo mundo”.

Laércio prestou depoimento na sede da Polícia Federal em Campo Grande, em 22 de fevereiro deste ano, nas investigações sobre os atos golpistas de 8 de janeiro, no âmbito da Operação Tempus Veriatis.

Assim, na transcrição do áudio consta o relato do coronel de que já estava na segunda quinzena de dezembro e que no início de janeiro Jair Bolsonaro (PL) deveria passar a faixa presencial “e aí sim seria um golpe de estado”.

Isso, porque, “enquanto Presidente, JAIR BOLSONARO teria a obrigação de defender a Constituição Federal e se iniciasse janeiro, ele já seria ex-Presidente e aí sim seria um golpe”, na explicação do militar.

Ainda consta no depoimento a transcrição de um áudio em que o coronel diz que “tem que ser dada a missão ao comandante da Brigada de Operações Especiais de Goiânia de prender o ALEXANDRE DE MORAES no domingo, na casa dele, como ele faz com todo mundo. E aí, na segunda-feira, ser lida a portaria ou as portarias, o decreto ou os decretos de garantia da lei e da ordem, e botar as Forças Armadas, cujo comandante supremo é o Presidente da República para agir”.

O ministro Alexandre de Moraes derrubou o sigilo dos depoimentos no dia 15 de março, sendo ao todo 27 pessoas. São os interrogados:

  • Jair Bolsonaro, ex-presidente da República;
  • Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022;
  • Carlos Almeida Baptista Junior, ex-comandante da Aeronáutica;
  • Marco Antonio Freire Gomes, general e ex-comandante do Exército;
  • Almir Garnier Santos; ex-comandante da Marinha;
  • Augusto Heleno, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) de Bolsonaro;
  • Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército;
  • Anderson Gustavo Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro;
  • Ailton Gonçalves Moraes Barros, major reformado do Exército;
  • Amauri Feres Saad; advogado
  • Angelo Martins Denicoli, major major da reserva do Exército;
  • Bernardo Romão Correa Netto, coronel do Exército;
  • Cleverson Ney Magalhães, ex-oficial do Comando de Operações Terrestres;
  • Eder Lindsay Magalhães Balbino, empresário de tecnologia;
  • Filipe Martins, ex-secretário para assuntos internacionais de Bolsonaro;
  • Guilherme Marques Almeida, tenente-coronel e líder do Batalhão de Operações Psicológicas do Exército;
  • Helio Ferreira Lima, ex-comandante da 3ª Companhia de Forças Especiais de Manaus do Comando Militar da Amazônia;
  • José Eduardo de Oliveira e Silva, padre na paróquia São Domingos, em Osasco (SP);
  • Laércio Vergílio, coronel reformado do Exército;
  • Marcelo Costa Câmara, ex-assessor de Bolsonaro e coronel do Exército;
  • Mario Fernandes, ex-comandante da Secretaria-Geral da Presidência;
  • Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro de Defesa;
  • Rafael Martins de Oliveira, major do Exército;
  • Ronaldo Ferreira de Araújo Jr., oficial do Exército;
  • Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros, major do Exército;
  • Tercio Arnaud, ex-assessor de Bolsonaro;
  • Valdemar Costa Neto, presidente do PL.

Depoimento na PF

O coronel reformado permaneceu na sede da PF por cerca de quatro horas. Além dele, outros militares foram intimados a prestar depoimento em outros estados do país.

Em Brasília, o ex-presidente ficou em silêncio sobre a suposta participação em uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

Ele ficou na PF por cerca de 30 minutos. Na saída da sede da corporação, o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência e advogado do ex-presidente, Fábio Wajngarten, afirmou que Bolsonaro não prestou depoimento por “estratégia” da defesa.

Segundo Wajngarten, a defesa do ex-chefe do Executivo não teve acesso à íntegra dos autos da investigação e à delação premiada do ex-ajudante de ordens da Presidência, tenente-coronel Mauro Cid.

“O presidente já saiu, fez o uso do silêncio, conforme a defesa antecipou. Esse silêncio, quero deixar claro, não é simplesmente o uso do exercício constitucional do silêncio, mas, uma estratégia baseada no fato de que a defesa não teve acesso a todos os elementos por quais estão sendo imputados ao presidente a prática de certos delitos”, afirmou Wajngarten.

Por esse mesmo motivo, a defesa de Bolsonaro tentou adiar o depoimento três vezes, mas o ministro do STF, Alexandre de Moraes, negou.

Além de Bolsonaro, o ex-ministro da Defesa e companheiro de chapa de Bolsonaro nas eleições de 2022, general Walter Braga Netto, também já deixou a sede da PF.

Investigados por golpe de Estado depõem

Os investigados na Operação Tempus Veritatis foram convocados para prestar depoimento. Ao menos 24 depoimentos foram marcados para a mesma data, ao mesmo tempo, de forma a evitar a comunicação entre os interrogados.

A maior parte foi agendada para a sede da Polícia Federal em Brasília, incluindo o depoimento de Bolsonaro. A corporação reservou 16 salas para as oitivas na capital.

Outras, nas superintendências da PF no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Paraná, em Minas Gerais, no Mato Grosso do Sul, no Espírito Santo e no Ceará.

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