400 jazigos por dia: nem contrato de cemitério escapou de fraude comandada por Claudinho Serra em Sidrolândia

Delator afirmou que Claudinho Serra ‘nem tentou disfarçar’ corrupção no contrato, já que morrem pouco menos de 20 pessoas por mês na cidade

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JL Serviços recebeu, mas nunca prestou serviço no cemitério municipal de Sidrolândia (Divulgação)

Delação premiada do ex-chefe de compras de Sidrolândia – distante 70 km de Campo Grande -, Thiago Basso da Silva, revelou que esquema de corrupção no município atingiu até mesmo o cemitério. O ex-servidor disse em depoimento especial ao Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) que a empresa JL Serviços Empresariais e Comércio Alimentício Ltda recebeu R$ 160 mil para construir 400 túmulos que nunca foram feitos.

Conforme Thiago, a empresa foi contratada após carta convite para serviço de seis meses de manutenção, dedetização e construção de jazigos. No entanto, a delação traz informações de que a manutenção continuou sendo feita por funcionários da prefeitura no cemitério.

Ainda, Thiago afirma que questionou o vereador licenciado de Campo Grande, Claudinho Serra (PSDB) – genro da prefeita Vanda Camilo (PP) – se não seria melhor, então, a empresa colocar alguns funcionários uniformizados para ‘disfarçar’. Ao que foi respondido que era para deixar o contrato do jeito que estava.

Segundo relatório do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), trata-se de uma empresa de fachada, criada para fechar esse contrato específico, já que foi aberta poucos meses antes de ‘ganhar’ o contrato e que a sala que consta como sede – em Campo Grande – está fechada e vizinhança afirma nunca ter visto movimentação no local.

“Nem comporta isso [400 jazigos num dia]. No município de Sidrolândia deve morrer umas 20 pessoas por mês. Então, um valor bem exagerado”, argumentou Thiago sobre a discrepância do contrato.

A responsável pela empresa JL, Jacqueline Mendonça Leiria, é uma das réus na Operação Tromper. “Ela nunca foi a Sidrolândia pessoalmente. Nunca prestou serviço nenhum”, pontua Thiago.

O Jornal Midiamax entrou em contato com a empresa por mensagem, devidamente documentada, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria. O espaço segue aberto para manifestação da parte.

Thiago Silva durante depoimento no Gaeco. (Reprodução)

Claudinho Serra cobrava ‘mesada’ de 10% sobre contratos

Pagamento em dobro por um produto ou serviço, “mesada” de 10% cobrada de empresários e uso de contratos para interesses pessoais são alguns dos exemplos mencionados por Silva sobre como operava o grupo.

Thiago Basso da Silva descreveu como Claudinho Serra – na época secretário de Fazenda, Tributação e Gestão Estratégica – fazia cobranças aos empresários vencedores de licitações milionárias no município de Sidrolândia. 

“O Cláudio Serra cobrava, na época secretário de fazenda, uma porcentagem de 10% das empresas que tinham grandes contratos com o Município, uma porcentagem de 10% de tudo aquilo que era pago pelo Município. Então ele me fazia levantamentos, igual Ricardo Rocamora, outras empresas. Essa empresa recebeu R$ 30 mil neste mês do município, então você tem que cobrar dela R$ 3 mil neste mês. Dez por cento tem que pagar de comissão para a gente aqui”, afirmou Silva durante a delação. 

O ex-chefe do setor de licitações explicou que era responsável por ir pessoalmente falar com os diretores das empresas, enquanto as que tinham contratos de maior valor – como para obras de pavimentação – tratavam do assunto no gabinete de Claudinho Serra. 

Valor pago em dobro

Outro ponto abordado por Silva durante o depoimento no Gaeco era que os preços pagos pelos empenhos eram feitos em dobro. Se um serviço custasse em R$ 3 mil, por exemplo, a Prefeitura de Sidrolândia desembolsava R$ 6 mil. 

Além disso, Claudinho Serra usava os contratos para interesses pessoais, especialmente com a empresa de Rocamora. 

“Se o Claudio Serra precisasse de uma coisa, como dinheiro ou de algum item que ele necessitava, como compra de telha ou a compra de um poste de madeira para fazenda dele. ‘Compra lá, o Ricardo acerta e vamos pagar ele com nota da prefeitura’”, exemplificou.

Operação Tromper

Nas duas primeiras fases da Operação Tromper, os agentes investigaram corrupção na prefeitura de Sidrolândia, cidade distante 70 quilômetros de Campo Grande. Durante as investigações, foi descoberto, segundo o Gecoc, conspiração entre empresas que participaram de licitações.

Elas firmaram contratos com a Prefeitura de Sidrolândia, que somados chegam a valores milionários. Ainda segundo as apurações, também foi investigada a existência de uma organização criminosa voltada as fraudes em licitações e desvio de dinheiro público.

Além disso, foi apurado o pagamento de propina a agentes públicos, inclusive em troca do compartilhamento de informações privilegiadas da administração pública.

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