Operação ‘Velatus’ do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) e Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção) revelou como funcionava o que os promotores chamam de “farra das empresas convidadas”. A investigação implica a gestão do PSDB no município de Terenos – a 31 km de Campo Grande – por esquema de fraudes em licitações.

Conforme o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), quatro empreiteiras se revezavam para vencer licitações, repassavam dinheiro umas às outras e até mesmo faziam empréstimos para os ‘parceiros’ darem conta de tocar obras as quais venceram licitação e, supostamente, teriam condições de executar.

Para isso, os quatro empreiteiros criaram uma espécie de ‘irmandade’ em que eles se ajudavam e repartiam os ‘lucros’ obtidos com os contratos fraudulentos. “Uma parceria na qual prestam suporte mútuo por meio da utilização de suas empresas”, pontuam os promotores de Justiça Eduardo de Araújo Portes Guedes e Bianka Machado Arruda Mendes.

Vale ressaltar que as investigações concluíram que as empresas foram abertas sem que tivessem condições de executar obras complexas. Até um atestado de capacidade técnica – documento exigido em licitações – foi fornecido de um empreiteiro investigado para outro.

Documento da ‘parceria’ tem divisão de tarefas e obrigações de empreiteiros (Reprodução)

Assim, em interceptações telemáticas, os investigadores destacam um achado importante no aparelho celular de Cleberson José Chavoni Silva, proprietário da empreiteira Bonanza Comércio e Serviços Eireli. “Importante destacar o nome do arquivo contendo a expressão ‘Caixa Geral Parceria’”.

Diálogos interceptados pela investigação revelam a proximidade de Cleberson com Sandro José Bortoloto (Angico Construtora e Prestadora de Serviços Ltda) era tão próxima que os dois compartilhavam até planilha de pagamentos. O documento obtido pelos investigadores mostra gastos das duas empreiteiras em uma mesma planilha como ‘abastecimento’ e ‘compra de cimento’ com o nome de quem fez o pagamento.

São investigados os empreiteiros: Sandro José Bortoloto (Angico), Genilton da Silva Moreira (Genilton Moreira), Sansão Inácio (Sansão Inácio Rezende Eireli), Hander Luiz Corrêa Grote Chaves (HG empreiteiro) e Cleberson José Chavoni Silva (Bonanza). Tiago se enquadra tanto como servidor quanto como empreiteiro nas investigações, por também ter se favorecido de sua empresa, a D’Aço Construção e Logística.

Empreiteiro investigado por corrupção na gestão do prefeito do PSDB, Henrique Budke, após deixar delegacia (Nathália Alcântara, Jornal Midiamax)

Esquema implica ex-chefe de gabinete de prefeito tucano

Também com informações obtidas no aparelho do empreiteiro, os investigadores chegaram até o taxista que virou chefe de gabinete do prefeito do PSDB, Henrique Budke – que posteriormente também virou empreiteiro.

Isso porque Tiago Lopes de Oliveira era “destinatário de recorrentes transferências bancárias provenientes da empresa Angico, inclusive enquanto ocupava o cargo em comissão de na Prefeitura de Terenos”, destaca a 1ª Promotoria de Justiça de Terenos.

Foram captados áudios entre os empreiteiros Cleberson e Sandro em que discutem porcentagens de repasses para Tiago. “Dá um jeito de pagar esse filho da p$%#a desse Tiago daqui de Terenos”.

Ainda, um comprovante de transferência de R$ 50 mil da empreiteira de Cleberson para a empresa D’Aço, que foi aberta por Tiago dias antes de pedir exoneração do cargo em comissão na prefeitura de Terenos.

Todos esses elementos demonstram pagamentos de vantagens indevidas a servidor e a íntima relação entre os investigados Cleberson Silva e Sandro Bortoloto, da empresa Bonanza Comércio, com Tiago Lopes de Oliveira, desde a época em que ocupava cargo em comissão na Prefeitura de Terenos até depois da constituição da empresa D’ Aço, sendo que eles participaram conjuntamente da Tomada de Preços n. 02/2022“, diz trecho do documento de investigação do MPMS.

A reportagem tentou contato com o prefeito Henrique Budke (PSDB), que não atendeu as ligações nem respondeu as mensagens – todas devidamente documentadas. O espaço segue aberto para posicionamento.

Tiago também foi procurado pela reportagem, mas não respondeu aos questionamentos.

Os empreiteiros Sandro e Cleberson também foram procurados pela reportagem através de e-mail oficial cadastrado na Receita Federal – com mensagens devidamente documentadas. No entanto, não obtivemos resposta até esta publicação.

O espaço segue aberto para posicionamentos que podem ser incluídos após a publicação deste material.

Taxista virou chefe de gabinete e tornou-se empreiteiro com contrato milionário em Terenos

Empreiteiro com contratos para tocar obra milionária durante a gestão do PSDB – prefeito Henrique Wancura Budke – no município de Terenos, Tiago Lopes de Oliveira estava trabalhando como taxista dois anos antes.

Tiago atuou até meados de 2020 como taxista em Terenos, cidade com cerca de 18 mil habitantes, em “função destoante da de proprietário de empresa de engenharia”.

Porém, o fato que mais chamou atenção dos promotores de Justiça foi que o ‘empreiteiro de sucesso’ havia exercido cargo de confiança do prefeito Henrique Budke (PSDB) como chefe de gabinete entre 2021 e 2022.

A publicação com a exoneração de Tiago é datada do dia 25 de fevereiro de 2022, um dia após a abertura da sua empreiteira, a D’Aço Construção e Logística Ltda (CNPJ 45.432.169/0001-59).

Saiba mais – Taxista virou chefe de gabinete em prefeitura do PSDB e se tornou empreiteiro com contratos milionários em MS