Propostas para alterar projeto da foram rejeitadas

Mato Grosso do Sul perdeu a chance de sediar um laboratório de toxicologia de ponta voltado para a análise de diversos tipos de agrotóxicos utilizados na lavoura e pecuária. O projeto do Centro de Referência de São Gabriel d’Oeste, que custaria R$ 2,8 milhões, foi abandonado pela Prefeitura do município.

Praticamente todos os recursos seriam fornecidos pela Funasa (Fundação Nacional de Saúde). Desde 2010, o órgão nacional disponibilizou o montante para a implantação do laboratório, porém, após sete anos, um jogo de “empurra-empurra” fez com que o convênio com a União fosse expirado.

O convênio previa que a Funasa desse mais de R$ 2,7 milhões ao município, que deveria entrar com contrapartida de R$ 56 mil. Diante das tentativas da Prefeitura de alterar o projeto inicial da Fundação, a vigência do convênio encerrou em julho, sem renovação.

São Gabriel D’Oeste foi escolhida para sediar o laboratório devido à sua utilização de agrotóxicos tanto nas lavouras como na criação de suínos. Mas a Prefeitura do município, que a princípio pretendia desistir do projeto, decidiu que implantaria o Centro de Referência desde que ele se tornasse de baixa complexidade.

Maquete do laboratório fornecida pela Funasa.

Outra proposta, justificada com a dificuldade da execução do projeto no município do interior, era que o governo do Estado arcasse com a implantação do laboratório, em Campo Grande, em anexo ao Lacen (Laboratório Central).

Ambas as propostas foram levadas, em junho, à Funasa de Brasília. Porém a Fundação desistiu do convênio, uma vez que “não seria possível a mudança do local de construção” do laboratório, e a Prefeitura de São Gabriel d’Oeste “vinha com a indecisão sobre o início da obra”, desde 2015, já com o projeto aprovado.

Jornal Midiamax tentou entrar em contato com a Prefeitura de São Gabriel d’Oeste para comentar a perda do convênio, porém não obteve respostas até a publicação desta reportagem.

Laboratório de Ponta

MS perde verba para laboratório de ponta na análise de agrotóxicos

Com mais de 80 páginas de especificação e uma maquete eletrônica pronta desenhada pela arquiteta Tereza Cristina Alcântara, o Centro de Referência de São Gabriel d’Oeste deveria ter salas para recebimento de amostras dos pesticidas, pesagem, extração de solventes, análise e descontaminação.

Em um documento que estabelece as diretrizes para os projetos de contrução dos laboratórios, a Funasa calculava cerca de 160 salas voltadas para análises físico-químicas e microbiológicas, além de atividades de ensino, pesquisa e extensão.

Em junho, quando o Jornal Midiamax denunciou a possibilidade da perda do convênio da Funasa, o Fórum Estadual contra os Agrotóxicos alertou que a mudança no projeto original pretendida pela Prefeitura de São Gabriel d’Oeste iria descaracterizar os objetivos do laboratório.

“Passando de média para baixa complexidade, o laboratório somente analisaria 24 tipos de agrotóxicos listados pela Anvisa, e nós sabemos que em Mato Grosso do Sul existem agrotóxicos contrabandeados”, explica o médico Ronaldo Costa, membro do Fórum.

“Esses [agrotóxicos contrabandeados], mais nefastos, ficarão de fora da análise”, completa. Ele acredita que o projeto inicial da Funasa era necessário para que fosse possível analisar a totalidade da contaminação causada pelos agrotóxicos no solo, na água, no ar e na comunidade.