Oficialmente,  diz que não achou indícios do suposto esquema

Dois meses e oito dias após a denúncia feita em reportagem do Jornal Midiamax sobre um suposto esquema de narcotráfico que funcionaria no Presídio de Segurança Máxima, a Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) disse não ter encontrado indícios de tal prática.

Questionada sobre a investigação que teria iniciado após a denúncia, a Agepen disse que tanto a Corregedoria quanto a Gisp (Gerência de Inteligência do Sistema Penitenciário) participam e que até o momento não encontraram nenhum indício. Ainda assim, ao menos três pessoas citadas na denúncia foram transferidas ou retiradas do presídio.

O Jornal Midiamax denunciou em 2 de fevereiro o suposto esquema tráfico de drogas no Estabelecimento Penal Jair Ferreira de Carvalho, que seria comandado por presidiários e sob conhecimento do então diretor, João Bosco Correa. Depois de nove anos dirigindo a Máxima, Bosco foi substituído por um agente de carreira.

O ex-diretor saiu exatos dois meses após a denúncia e, segundo a Agepen, não foi realocado para um cargo, mas sim está se dedicando aos trabalhos da comissão responsável por elaborar a minuta de criação de um grupo especializado.

​“O objetivo da administração é que agora ele possa se dedicar mais efetivamente a esses trabalhos que irão possibilitar que os agentes, no futuro, desenvolvam outras atividades especializadas correlacionadas ao Sistema Penitenciário de Mato Grosso do Sul”, diz a nota da agência.

A Agepen não citou qualquer relação entre a denúncia e a saída do então diretor. No dia da divulgação da matéria pelo Midiamax, um documento recebido pela agência permitia a transferência com urgência de dois detentos denunciados. ‘Pé na Cova' e ‘Pirata' foram encaminhados ao Presídio Federal de Porto Velho (RO). Eles tinham pedidos de remoção desde 24 de janeiro.

O documento, originalmente encaminhado ao então diretor-presidente da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), Ailton Stropa, tinha como assunto “Inclusão emergencial de presos do Estado do Mato Grosso do Sul”. Não foi informado quando o pedido de transferência foi feito, mas a agência já havia sido consultada pelo jornal sobre o suposto esquema de narcotráfico um dia antes de a matéria ser divulgada. 

No texto, é explicado que os presos seriam transferidos por conta de atos inseridos no decreto 6.877, de 18 de junho de 2009. A transferência caberia em três incisos do artigo 3º.

“Art. 3° Para a inclusão ou transferência, o preso deverá possuir, ao menos, uma das seguintes características:

I – ter desempenhado função de liderança ou participado de forma relevante em organização criminosa;

IV – ser membro de quadrilha ou bando, envolvido na prática reiterada de crimes com violência ou grave ameaça;

VI – estar envolvido em incidentes de fuga, de violência ou de grave indisciplina no sistema prisional de origem.”

Tráfico na cantina da Máxima

Conforme as informações obtidas com exclusividade pelo Midiamax, um quilo de maconha, que custaria cerca de R$ 450 nas ruas da Capital, chegariam no presídio com valor inflacionado de R$ 800 a R$ 1 mil.

A droga chegaria ao estabelecimento penal com anuência da direção, em meio às compras feitas para a cantina, nas caixas de leite, pacotes de bolacha, entre outros produtos. Batidas nas celas de unidades prisionais de Mato Grosso do Sul que vazam para a imprensa, realizadas com apoio policial, sempre flagram porções de maconha e celulares.

Participariam do esquema de venda da droga no presídio desde traficantes com várias passagens pela polícia até servidores da Agepen. Até mesmo o diretor foi apontado como envolvido. Por telefone, ele negou conhecimento de qualquer esquema de narcotráfico no local que dirigia.