Ex-prefeito nega que empreiteiras fizeram ‘casca de ovo’ na gestão dele

Na rua de onde a última chuva levou o asfalto, Jerônimo de Albuquerque, no bairro Nova Lima, ainda está cravado no canteiro central um totem de inauguração da obra na gestão de André Puccinelli (PMDB), ex-governador que foi prefeito da Capital por oito anos (1997-2004). Além da placa, as águas deixaram para trás pedaços de asfalto e moradores indignados.

Mesmo assim, o ex-prefeito garante que a culpa pela fragilidade do asfalto, chamado de ‘casca de ovo’ pela população, não é dele. Segundo Puccinelli, é a falta de drenagem da via pelo entupimento das galerias e falta de manutenção da limpeza das bocas de lobo que faz os asfaltos da gestão do PMDB se esfarelarem durante as chuvas.

Antes de falar da rua ‘levada’, Puccinelli rebateu. “O PMDB, asfalto meu, não. Veja os asfaltos que eu fiz. Não confunda PMDB com todo mundo”, tentou se safar. Lembrado do caso da Jerônimo de Albuquerque, no entanto, ele partiu para as explicações técnicas que carrega na ponta da língua.

“O inimigo do CBUQ (Concreto Betuminoso Usinado a Quente) não é a chuva em si, mas a falta de drenagem. Ele tem uma resistência maior e tem que durar, no mínimo, dez anos com a manutenção correta. Lembrando que eu deixei a prefeitura em 2004”, explicou em tom didático.

Puccinelli disse que há drenagem na rua, mas que a falta de manutenção das bocas de lobo pode ter causado o estrago.

Entretanto, a via não é a única pavimentação da gestão do peemedebista que apresenta problemas. Como governador, André anunciou asfalto na Avenida Graciliano Ramos, Rua Ponta das Pedras, Avenida Santa Quitéria e Rua Poços de Caldas ao custo de R$ 1.033.913,90, e previsão de entrega em julho de 2014, o que não foi feito.

Em outras partes já prontas, o asfalto que não foi concluído apresenta buracos. Sobre a Avenida Norte Sul, que desmoronou no final da gestão de , André explica que pode ter faltado manutenção.

“Falaram que o André fez asfalto mal feito, mas não. O que acontece é que eu fazia manutenção no meu tempo. Acabava aquela chuva e as equipes iam lá e jogavam pedra pulmão, um pedregulho grande e permeável”, ensina.

“Posso responder por mim, pelo Nelsinho, não”

André afirma que fez 8 milhões de metros quadrados de asfalto em Campo Grande, aumentando para 65% a área pavimentada e que quando assumiu a prefeitura, apenas 35% da cidade tinha essa cobertura. 

Ele ainda cita a Europa para negar a fama de ‘casca de ovo’ para os asfaltos que as empreiteiras fizeram em Campo Grande no período em que o partido dele administrou a cidade. “Fiz muito pouco recapeamento e um tipo de revestimento de lama asfáltica que é só para impermeabilizar e que dura cerca de três anos. O pessoal fala muito em casa de ovo, mas vai lá e mede. Se tem 3 centímetros e é CBUQ, está perfeito, segundo normas de engenharia da Alemanha, Suíça”, defende-se.

Sobre operações de tapa-buraco, que seriam desnecessárias já que há, segundo Puccinelli, garantia de dez anos prevista nos projetos da sua gestão, o ex-prefeito é enfático. “Posso responder por mim, pelo Nelsinho, não. Eu gastei muito pouco com tapa-buraco”.

De acordo com levantamento feito pela Seintrha (Secretaria Municipal de Infraestrutura, Transporte e Habitação) em 2015, de 2010 até o início do ano passado, os serviços de tapa-buracos nas ruas de Campo Grande custaram R$ 372,5 milhões aos cofres municipais.

Neste período, o maior custo foi em 2012, último ano da segunda gestão de Nelsinho Trad, correspondendo a quase 30% do total e praticamente o dobro do verificado nos demais anos.

Foram 34 contratos com 12 empreiteiras responsáveis pelo serviço na cidade. Pelos números apresentados e divulgados pela Câmara, dos R$ 372,5 milhões gastos no período, o montante aplicado em 2012, de R$ 109,9 milhões, é o maior. Foram R$ 51,9 milhões em 2010; R$ 64,5 milhões em 2011; R$ 68,2 milhões em 2013; mais R$ 71,2 milhões no ano seguinte.