Delegados disputam poder enquanto Polícia Civil de MS se afunda em crise

A Polícia Civil de MS está mais uma vez no foco dos problemas institucionais do governador Eduardo Riedel. Além de mostrar que Mato Grosso do Sul não consegue proteger as mulheres, o feminicídio de Vanessa Ricarte expôs o efeito mortal do racha entre delegados.
Oficialmente, notinhas, desagravos e repúdios tentam esconder o que reservadamente os delegados confirmam: a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul está rachada e enfraquecida.
A briga por poder e espaço começa nos corredores da DGPC (Delegacia-Geral da Polícia Civil) e se espalha delegacias afora. Assim, praticamente três grupos se digladiam atualmente.
“Desde as eleições ficou claro que havia um grupo ligado ao novo governo e outro que se sustenta ligado ao governo anterior. Agora, temos também um grupo que condena as táticas dos dois lados, porque são nocivas para a carreira”, explica delegado.
Os relatos são de que a dança das cadeiras para fortalecer grupos teria enfraquecido tecnicamente a gestão de áreas cruciais para a Polícia Civil de MS. “A gente não pode ficar nessa de grupo do interior porque o DG é do interior versus grupo da capital…”, alerta.
Enquanto isso, a PCMS se afunda em crise, apesar de índices de produtividade normais quando comparados com outros estados.
Quem segura a segurança?
Nos corredores da Segov, a segurança pública já é comparada por alguns com a ‘classe de alunos bagunceiros’ causando dor de cabeça para o governador Eduardo Riedel.
A lista dos ‘BOs’ explodindo sempre a partir da segurança pública já não era boa e já implicou diversas áreas: Bombeiros, PM, Agepen, corregedoria de trânsito.
Para pegar só do último ano para cá, Riedel já teve que aparecer se explicando por:
- destruição do Pantanal com incêndios descontrolados pegando o Estado desprevenido, apesar de ocorrerem todos os anos;
- policiais se metendo em guerra pelo controle do jogo do bicho;
- policiais flagrados ajudando traficantes e contrabandistas;
- policiais treinados para matar bandidos atirando na cabeça de indígenas;
- integrantes de quadrilhas nomeadas em corregedorias para monitorar investigações contra servidores;
- celulares entrando e funcionando melhor para bandidagem nos presídios que na rua…
Ademais, pior que os dissabores midiáticos e exposição negativa em âmbito nacional, as tretas entre delegados causam falhas estruturais. E, quando se fala de segurança pública, as falhas têm como efeito mortes. Geralmente, dos vulneráveis.
Falha antes da tragédia: no colo da Polícia Civil de MS
Agora, com o feminicídio de uma jornalista horas depois de pedir ajuda à Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) de Campo Grande, mais uma tragédia expõe Mato Grosso do Sul.
O susto pela proximidade com a vítima mobilizou a pauta da imprensa local como há tempos não se via, apesar de mulheres serem mortas em MS com frequência assustadora.
Hipocrisias à parte, a sociedade respondeu e o assunto ganhou proporção nacional. Políticos reclamaram, gravaram vídeos, o Ministério das Mulheres prometeu investigar… O governador foi a público e admitiu as falhas.
No entanto, apelar para as falhas estruturais, a falha como sociedade que não consegue criar filhos que não admitam qualquer gesto de violência contra mulheres, ou as falhas no sistema com judiciário engessado e lerdo, não vai segurar esse rojão.
Não tem como celebrar o “estado verde, digital, próspero e inclusivo” se ele não dá conta de proteger as mulheres dos marginais.
Quem matou Vanessa foi o porcaria do músico Caio Nascimento. Porém, a crise na Polícia Civil de MS ajudou a pesar a faca dele contra o coração da vítima.
Deam: Faltou experiência, vocação, treinamento ou tudo junto?
Entre os próprios delegados, as críticas relacionam o racha interno aos ‘erros de protocolo’ que deixaram a mulher sair da Deam direto para a morte.
Lidando com um suspeito que tinha 11 passagens por violência doméstica, entre elas uma por tentar matar a mãe, a delegada teria orientado a vítima a ‘conversar’ com o assassino!
Já tem gente dentro da PCMS cobrando explicação sobre porque uma delegacia tão importante para a atividade-fim da PCMS recebeu delegadas inexperientes.
Algumas, como essa que atendeu a jornalista, teria pulado na frente de colegas melhor colocados na fila das promoções para chegar à Capital.
Segundo relato da vítima gravado horas antes de ser assassinada com facadas no coração, a delegada deixou a péssima impressão de mau gosto com o trabalho e constrangeu quem deveria defender.
Outras delegadas que já passaram pela Deam não aceitam o fato de que disputas internas, supostos aconchavinhos entre aliados, ou ‘peixadas’, coloquem e mantenham na DEAM profissionais inexperientes ou não vocacionadas.
“Estou envergonhada e com nojo. Ficam esses marmanjos nos corredores da DG brigando por poder. Essa menina que eles colocaram na Deam está em estágio probatório e ficou claro que não está pronta. No mínimo, a gente não deixa a vítima sair da sala se sentindo mal tratada”, lamenta a colega que atuou anos na Deam.
“Se levassem um pouco mais a sério a opinião pública e a memória de todas as mulheres assassinadas nos últimos anos depois de entrarem no sistema pedindo ajuda, pedindo a proteção do estado, já tinham afastado as implicadas, ou elas teriam pedido para se afastar até o esclarecimento dos fatos”, conclui.
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