O deputado federal por Mato Grosso do Sul, Marcos Pollon (PL), está entre os cerca de dois milhões de pessoas com TEA (Transtorno do Espectro Autista) no Brasil. A busca pelo diagnóstico começou em 2024, ano eleitoral, quando a carência de diálogo ficou aparente nas relações interpessoais do parlamentar sul-mato-grossense.
Nesta terça-feira (11), a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei nº 3124/23, para atendimento prioritário de mães atípicas na rede pública de saúde. O parlamentar de MS se emocionou ao agradecer a aprovação da matéria. “Ano passado, eu recebi o diagnóstico da característica e ainda estou tentando me adaptar e entender o que está acontecendo”, comentou.
Ao Jornal Midiamax, Pollon contou detalhes do diagnóstico, o processo de descoberta e impactos que o TEA trouxe para a vida política. Integrante da ‘bancada da bala’ no Congresso Nacional, o deputado do PL disse que as dificuldades ficaram aparentes na corrida eleitoral do ano passado.
“Quando presidi o PL, eu tinha uma dificuldade muito grande de responder o WhatsApp e fazer ligações e por conta da rigidez cognitiva. Achava que conversando uma vez, estava bem conversado. Você cumpria sua parte e a outra parte a cumpria dela”, explicou como via as relações comunicativas.
No entanto, conduzir os diálogos desta forma gerou carência em quem convivia com o parlamentar. “Um dia o Beto Figueiró, inclusive foi que me falou, disse que eu tinha um problema. Porque as pessoas se sentiam carentes e queriam atenção. Então tinha que ficar ligando, tinha que mandar mensagem e eu não conseguia entender esse meu bloqueio”, revelou.
Impactos na vida política
Com o apontamento e as movimentações acaloradas das eleições municipais, Pollon acabou sentindo impactos na vida política. “Como eu acabei me posicionando de maneira muito inflexiva em relação à intenção da minha palavra no desfecho dos apoiamentos do partido, o partido acabou tomando um rumo que eu disse que eu não aceitaria”, lembrou.
As tratativas do PL com o PSDB em 2024 foram alvo de vídeo de Pollon nas redes sociais em junho daquele ano. “Soco no estômago”, disse na gravação em que confirmou a pré-candidatura à Prefeitura de Campo Grande.
“No final aconteceu”, relembrou sobre as eleições nesta terça-feira (11) ao Midiamax. O PSDB lançou candidatura — não consagrada na Capital — apoiada pelo PL e outros sete partidos.
Busca pelo diagnóstico
Então, Pollon partiu para a busca pelo diagnóstico. “Eu procurei investigar porque que eu não tinha essa maleabilidade, eu não conseguia ter esse cuidado que todo mundo que atua na política tem, porque que eu não consigo. Eu tenho um bloqueio”, admitiu.
“O processo de descobrimento foi bem longo, foram vários meses, com várias pessoas, equipe multidisciplinar, é bem acurado, é bem complexo”, detalhou o deputado por MS. Pollon passou por neurologista, psiquiatra, psicoterapeuta e uma equipe completa multidisciplinar para chegar ao diagnóstico.
“Eu achava que eu não tinha. Eu não sei direito a palavra certa, mas eu achava que todo mundo era igual, eu achava que todo mundo tinha o mesmo jeito de ver o mundo, o mesmo jeito de pensar”, revelou.
Uso do cordão
“Eu uso o cordão normalmente quando eu estou numa situação de crise, para que eu possa me resguardar. Normalmente eu estou de boné ou de fone, que é uma situação específica”, disse o deputado. Além disso, comentou que faz o uso da identificação quando está em debates sobre o tema.
“A diferença que eu senti em utilizar o cordão é que você consegue se resguardar mais, o próprio diagnóstico te dá mecanismos para você começar a entender que algumas coisas, alguns limites, você tem que respeitar”, explicou Pollon.
O deputado pontuou que vive melhor depois do diagnóstico. “Minha qualidade de vida aumentou absurdamente, eu não me exponho com algumas coisas que são gatilho para desencadear algumas reações, justamente por entender que eu tenho esse diagnóstico e quando você tá com o cordão a maioria das pessoas tende a te respeitar, respeitar o seu espaço”.
Mudanças
“Muita gente fala que é frescura, que você não tem cara de quem tem o transtorno”, admitiu Pollon sobre as reações pós-diagnóstico. “Algumas pessoas vão sofrer muito preconceito por causa disso, enquanto é algo que é meio novo”, afirmou.
Contudo, disse que está “disposto a pagar [o preço] para jogar um pouco de luz nesse tema”, enquanto deputado federal que atua no Congresso Nacional.
“A importância de se identificar é você, principalmente, mostrar que é possível você ter uma vida funcional”, ressaltou Pollon. O deputado admitiu que “não é fácil, é bem complicado, tem muitos limitadores, não é algo simples, mas é possível”.
Ao Midiamax, comentou que o esforço acaba sendo maior em algumas atividades. “A gente acaba tendo que se esforçar bem mais do que uma pessoa comum, muita coisa que eu achava que todo mundo não fazia”.
Então, disse que só depois do diagnóstico, começou as dificuldades. “Comecei a entender que eram limitações que sofri, então comecei a respeitar mais essas limitações. Mas o fato de publicizar dá a possibilidade de combater o preconceito e fazer mais pessoas se interessarem por isso, buscando conhecimento e respeito”.
Assumir o Transtorno do Espectro Autista
Pollon afirmou que a decisão de tornar o diagnóstico público partiu de vivência em Bonito, quando presenciou uma criança com TEA em uma situação delicada. “Vi que era importante eu dar esse testemunho, poder dividir isso, porque algumas pessoas têm esse nível de medo, de desespero”. Assim, explicou que abrir o diálogo sobre o assunto foi bom “até para entender que não é o fim do mundo, que é possível você construir um futuro bom”.
A partir da descoberta, Pollon adicionou o TEA nas pautas que leva para o Congresso. “Todas as minhas pautas, elas têm uma relação muito visceral com a minha vida. Eu trabalho com as pautas que eu vivo, que fazem parte da minha vida”, pontuou.
Como principais pautas destacou acesso a armas, legítima defesa, direitos e garantias fundamentais. “A vida inteira eu estudei isso, a vida inteira eu pesquisei isso, a vida inteira eu lecionei isso, então é algo muito importante para mim”, justificou.
No mesmo sentido, contou ao Midiamax que a prática de esportes após passar por problemas de saúde e o TEA entraram na lista de pautas. “Quando você se vê no meio dessa situação, você se sente obrigado a usar todas as forças que você tem para tornar a vida das pessoas que sofrem com isso menos penosa”, disse Pollon.
Porém, deixou claro que “teve bastante rejeição, tem bastante preconceito” em meio ao apoio que recebeu após compartilhar o diagnóstico.