Investigação de Razuk na Assembleia depende de denúncia partidária, explica Gerson Claro

Deputado é apontado como líder da organização criminosa dedicada à prática dos crimes de roubo majorado, exploração de jogos de azar e corrupção

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O deputado estadual Neno Razuk (Luciana Nassar, Alems)

Presidente da Alems (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul), Gerson Claro (PP) explicou nesta quinta-feira (22) que não há nenhuma denúncia contra o deputado estadual Neno Razuk (PL) na Casa, réu na Operação Sucessione e apontado como líder de organização criminosa que chefia o novo jogo do bicho no Estado.

“Fomos oficiados [pela juíza], mas só é uma obrigação legal da Casa se manifestar se tiver pedido [de investigação] de algum partido político. Ninguém pediu, e se ninguém pediu, fica do jeito que está. Está na lei, qualquer partido político pode pedir e, se pedir, temos que apreciar”, informou.

Gerson Claro explica que a Justiça informou à Casa que Neno é alvo de processo, mas que a investigação não tem respeito ao mandato. “A juíza informou que se trata de um crime comum, não relacionado ao mandato”, disse.

Jogo do Bicho

Denúncia apresentada em dezembro de 2023 contra o deputado estadual Neno Razuk (PL), Roberto Razuk Filho, e outros 14 envolvidos com o jogo do bicho em Mato Grosso do Sul foi recebida pela juíza May Melke Amaral Penteado Siravegna, da 4ª Vara Criminal do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), em fevereiro deste ano.

O deputado estadual Neno Razuk (PL), é apontado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) como novo líder do jogo do bicho em Mato Grosso do Sul.

Denúncia

Na denúncia da Operação Sucessione, o deputado é apontado como líder da organização criminosa dedicada à prática dos crimes de roubo majorado, exploração de jogos de azar, corrupção, entre outros.

O major Gilberto Luiz, apontado como gerente do grupo, tinha também a responsabilidade de não comprometer o líder, Neno Razuk. Havia um pedido de prisão temporária para o deputado na deflagração da operação, mas foi negado em razão do foro privilegiado.

“Não obstante a presença de fortes indícios de que o investigado Roberto Razuk Filho seja, de fato, líder da organização criminosa, e, embora o próprio crime de organização criminosa (autônomo), bem como os crimes cometidos pela organização criminosa (roubos praticados com o uso de arma de fogo), sejam inafiançáveis, o pedido da decretação da sua prisão temporária é juridicamente inviável diante da imunidade formal que socorre o investigado parlamentar, razão pela qual não resta alternativa senão o indeferimento do pedido em relação a ele.”

Ainda segundo o pedido da prisão negado, é relatado que: “Consigno, porém, que não obstante o pedido da prisão temporária tenha sido indeferido em razão da imunidade formal que impede a decretação da prisão de parlamentar, é certo que o crime de organização criminosa é permanente, e como tal comporta prisão em flagrante, nos termos do art. 303 do Código de Processo Penal, o que escapa à vedação legal e dispensa ordem judicial, podendo ser efetuada pela Autoridade Policial a qualquer momento.”

“Por fim, ressalto que após analisar, uma a uma, todas as medidas acautelatórias previstas no art. 319 do CPP concluo que nenhuma delas será eficaz no caso concreto, tanto que em razão da impossibilidade jurídica de decretação da prisão temporária do representado Roberto Razuk Filho este juízo não decretou nenhuma acautelatória em relação a ele, o que juridicamente seria possível em razão de não ser tal medida alcançada pela imunidade formal que lhe socorre, mas deixei de fazer em razão da ineficácia das medidas em questão, o que indica com total segurança que a decretação da prisão temporária dos demais representados é medida insubstituível e indispensável para a investigação criminal em curso, conforme já fartamente fundamentado acima”, relata o juiz de direito Robson Celeste Candeloro.

Reuniões com Neno

Consta na denúncia que Neno Razuk comprou uma casa, onde os membros da organização criminosa se reuniam todas as segundas, quartas e sextas-feiras. Um dia antes das máquinas do jogo do bicho serem apreendidas no Monte Castelo, foi decidido em uma dessas reuniões que eles ‘iriam para cima’ dos concorrentes.

Ainda de acordo com a denúncia, um veículo Volkswagen Polo, de cor branca, havia sido alugado para cometer os roubos dos malotes. Foram três malotes roubados de ‘recolhes’ do grupo rival, num total de R$ 15 mil.

Com os roubos, o grupo liderado por Neno tinha como objetivo trazer os ‘recolhes’ e apontadores de São Paulo para a organização, e por isso, os assaltos sempre vinham com ameaças aos membros do grupo rival.

Os veículos usados nos roubos aos malotes eram um Volkswagen Polo, um Fiat Pálio e um Hyundai HB20. Ainda segundo a denúncia, o grupo que seria liderado por Neno estava oferecendo além de R$ 4 mil para os ‘recolhes’ mais uma comissão de 5%.

A denúncia fala que “é representativo de uma reunião extraordinária da organização criminosa com todos os responsáveis pelos crimes, para discussão específica sobre fatos que motivaram as práticas (disputa pelo monopólio do jogo do bicho), resultados, planos de contingências, entre outros.”.

“Esse comportamento denota expertise do grupo criminoso na atividade ilícita, na medida em que permite que as discussões sobre a prática de crimes ocorram pessoalmente, sem deixar rastros em aparelhos celulares ou permitir a captação das conversas pelo Estado por interceptação telefônica etc., o que resulta da participação de pessoas acostumadas com investigações criminais (policiais).”, diz a denúncia do Gaeco.

Pedidos de prisão temporária da 1ª fase da Sucessione

  • Diego de Souza Nunes
  • José Eduardo Abdulahad, conhecido como ‘Zeizo’
  • Júlio César Ferreira dos Santos
  • Luiz Paulo Bernardes Braga
  • Major Gilberto Luiz dos Santos, conhecido como ‘Barba’
  • Mateus Aquino Júnior
  • Roberto Razuk Filho, Neno Razuk, que foi indeferido
  • Sargento Manoel Luiz Ribeiro, conhecido como ‘Manelão’
  • Taygor Ivan Moretto Pellissari
  • Tiano Valdenor de Moraes
  • Valmir Queiroz Martinelli

Segunda fase da Sucessione

Jonathan Gimenez Grance, conhecido como ‘Cabeça’, sobrinho de Jarvis Pavão, Gerson da bateria, ex-fornecedor da Sejusp-MS (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul), e o militar aposentado, Carlito Gonçalves Miranda conhecido como ‘Gambá’ foram alvos de busca e apreensão na segunda fase da Operação Sucessione, deflagrada pelo Gaeco.

Segundo apurado, os alvos das buscas em Campo Grande não foram encontrados, já que pelo menos dois estariam viajando. Conversas extraídas dos celulares apreendidos na primeira fase teriam apontado para os nomes alvos de busca nesta segunda fase da Sucessione.

O ex-fornecedor da Sejusp prestava serviços de manutenção nos veículos da secretaria junto de outras credenciadas, mas atualmente não presta mais o serviço à Sejusp. Nesta segunda fase, havia pedido de prisão para o militar aposentado, além do mandado de busca. Doze prisões foram convertidas em preventivas.

Organização integrada por policiais militares

Segundo as investigações, a organização é integrada por policiais militares da reserva e de um ex-policial militar, que se valiam de sua condição, especialmente do porte de arma de fogo, como forma de subjugar a exploração do jogo ilegal aos mandos e desmandos da organização criminosa, tudo para tornar Campo Grande novo território sob seu comando.

Assim, 15 pessoas foram indiciadas no dia 19 de dezembro de 2023, por integrarem organização criminosa armada, estruturalmente ordenada e com divisão de tarefas, voltada à exploração ilegal do jogo do bicho, roubos triplamente majorados, corrupção, entre outros crimes graves.

Investigação confirmou denúncia de servidores que vincularam ‘guerra do jogo do bicho’ com contravenção na Sejusp, conforme antecipou o Midiamax em reportagem no mês de outubro.

O deputado Neno Razuk (PL) foi alvo da operação que cumpriu contra ela um mandado de busca e apreensão. Quatro assessores do deputado foram presos.

O empresário José Eduardo Abdulahad foi alvo de mandado de prisão no dia 5 de dezembro. Segundo as investigações, a organização criminosa era responsável por diversos roubos praticados em plena luz do dia e na presença de outras pessoas, em Campo Grande, na disputa pelo monopólio do jogo do bicho local.

As investigações constataram, ainda, que a organização criminosa tem ‘grave penetração’ nos órgãos de segurança pública e conta com policiais para o desempenho de suas atividades, revelando-se, portanto, dotada de especial periculosidade.

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