Aprovado na CMA (Comissão de Meio Ambiente) do Senado na última quarta-feira (3), projeto de lei 5.482/2020, conhecido como Estatuto do Pantanal, quer estabelecer as regras para conservação e restauração do bioma – fortemente afetado por incêndios florestais, os maiores em 40 anos e na história recente do Pantanal.

A proposta que tramita no Congresso Nacional, portanto, além de apontar as diretrizes de conservação, também quer estabelecer princípios para o uso do ecossistema, unindo desenvolvimento sustentável à economia, e até o manejo do fogo. Se não for apresentado nenhum recurso no Senado, a matéria já deve tramitar na Câmara dos Deputados.

Se aprovado, o Estatuto do Pantanal deverá ditar as políticas nacionais, estaduais e municipais no bioma, presente em dois estados brasileiros (MS e MT). Deverá, também, incentivar a adoção de práticas agrícolas, pecuárias e silviculturais que visem a reduzir os riscos de incêndios florestais e promover o uso adequado do fogo para manejo da vegetação e para controle do fogo.

O PL também pede valorização das práticas de uso tradicional e adaptativo do fogo por povos indígenas, comunidades tradicionais e do homem pantaneiro para promover o diálogo e a troca entre os conhecimentos tradicionais, científicos e técnicos.

Além disso, a proposta prevê a criação de programas de brigadas de prevenção e combate aos incêndios florestais, a implementação dos planos de manejo integrado do fogo e dos planos operativos para o combate aos incêndios florestais.

Uso do fogo limitado

Com o Estatuto do Pantanal, a utilização de fogo na vegetação passará por restrições, sendo permitido apenas em práticas agropastoris, queimas prescritas, atividades de pesquisa científica, práticas de prevenção e combate a incêndios, além de práticas culturais e de agricultura de subsistência por povos indígenas ou tradicionais. O fogo também será lícito se for para capacitação de brigadistas.

Mapeamento de Zonas de Risco

O PL também quer estabelecer diretrizes para políticas nacionais, estaduais e municipais no manejo do fogo, o que inclui o mapeamento de zonas de risco para incêndio florestal, além de monitoramento contínuo dos focos de calor por sensoriamento remoto, além da criação de programas de brigadas florestais permanentes no combate a incêndios.

Estatuto do Pantanal quer governança sobre ocupação

O estatuto também prevê a necessidade de governança sobre os processos de ocupação territorial e de exploração sustentável dos recursos naturais, o que pode envolver regularização fundiária, combate a ocupações desordenadas e o incentivo ao Cadastro Ambiental Rural.

Nesse contexto, a matéria também busca estabelecer mecanismos para garantir a efetiva participação dos povos indígenas, das comunidades tradicionais, do homem pantaneiro e do setor privado nas instâncias de controle social nestas decisões.

Integração e gestão descentralizada

A matéria também quer estabelecer a cooperação e gestão descentralizada no bioma, por meio da integração entre União, Estados e municípios, por meio do compartilhamento de ações administrativas – o que inclui o monitoramento e fiscalização ambientais.

Nesse campo, também é prevista a cooperação da sociedade civil e dos setores científico, acadêmico e privado. E o pagamento por serviços ambientais e programas de compensação por medidas de conservação. (Com informações da Agência Brasil)

Cenário preocupante

O mês de junho foi tenebroso quando o assunto é focos de incêndio, que atingem principalmente o Pantanal sul-mato-grossense. O Estado fechou com aumento de 806% de focos do incêndio em junho em comparação a maio.

De acordo com dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), junho terminou com acumulado de 2.737 casos contra 302 em maio. Como o Jornal Midiamax tem mostrado nas últimas semanas, 74% desses focos de incêndio são em Corumbá, no Pantanal.

No pódio do Brasil, Corumbá nunca saiu do primeiro lugar. A Cidade Branca é o município com mais queimadas acumuladas no país em junho, acompanhada por Porto Murtinho (324) e Poconé, no Mato Grosso (254).

Confira as imagens do repórter fotográfico Henrique Arakaki:

Jacaré morto em meio à vegetação seca e destruída pelo fogo. (Foto: Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)
Cobra adulta não escapou e morreu em banco de área próximo a vazante (Foto: Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)
Ossada da cabeça de um jacaré completamente carbonizada (Foto: Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)
Passagem aniquilada pelo fogo às margens da Estrada Parque Pantanal. (Foto: Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)
Carcaças de peixes mortos onde existia área alagada que secou com incêndio. (Foto: Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)
Outra cobra carbonizada, uma das centenas de répteis encontrados mortos no último mês. (Foto: Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)
Ossada de um jacaré na margem de lagoa onde peixes lutam para sobreviver. (Foto: Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)
Restos da ponte destruída pelo fogo no dia 18 de junho. (Foto: Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)
Lentos para fugir das chamas, caramujos são um dos animais que mais morreram nas queimadas. (Foto: Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)
Visão aérea de trecho queimado próximo à rodovia. (Foto: Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)
Área queimada às margens da rodovia. (Foto: Henrique Arakaki, Jornal Midiamax)