A sessão desta terça-feira (21) da Alems (Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso do Sul) foi marcada por emoção. Deputados estaduais lembraram de Amarildo Cruz (PT), que morreu na sexta-feira (17).

Pedro Kemp (PT) anunciou que irá apresentar um projeto de lei elaborado pelo colega que trata da preservação do Pantanal, impondo regras sobre lavouras no bioma. “O deputado Amarildo discutia, pesquisava, principalmente o avanço da soja, e com muita preocupação ele planejou esse projeto”, comentou.

O petista disse que vai assinar a matéria como coautor, mantendo o nome de Amarildo como idealizador. O texto será publicado ainda hoje no SGPL (Sistema Gestor de Projetos de Lei).

Kemp ainda divulgou um áudio do colega pedindo apoio para a proposta. A gravação teria sido enviada na última terça-feira (14), horas antes de Amarildo ser internado no Hospital Proncor. Os demais parlamentares aplaudiram a lembrança.

Lídio Lopes (Patriota) também lamentou a perda. “Na terça, há uma semana, estávamos aqui conversando, até demos umas risadas. Realmente uma perda repentina. Perde esse parlamento, perde este Estado”, avaliou.

Outros deputados também falaram sobre a morte de Amarildo, como Junior Mochi (MDB) e Rinaldo Modesto (Podemos).

Velório e sepultamento na cidade natal

Amarildo Cruz foi sepultado na tarde de sábado (18) em Presidente Epitácio (SP), onde nasceu. Ele foi velado na Câmara Municipal. 

Segundo a assessoria do político, mais de 500 pessoas passaram pelo local para prestar as últimas homenagens. Por fim, ele foi sepultado no Cemitério Horto da Igualdade.

Amarildo Cruz
Corpo deixou Campo Grande pela manhã. (Foto: Wagner Guimarães/Alems)

Cortejo de despedida

Servidores, amigos e políticos se despediram de Amarildo logo cedo. O cortejo foi acompanhado pelo governador Eduardo Riedel (PSDB), que também prestou condolências durante o velório.

“Pessoa que sempre priorizou pelo diálogo, consenso, defendendo aqueles que mais precisam e fazia com que prestássemos atenção nas políticas públicas para atendê-los de fato. Ele vai deixar muitas saudades, primeiro pela sua defesa ao social, segundo pela sua capacidade de construir pontes, naquilo que ele defendia, política pública na prática, às pessoas que tinham esperança nele de dias melhores. Vai fazer muita falta, como canal de voz ativa na Assembleia. Deixa todo um protagonismo que tinha e conversamos muito no último dia antes dele internar, sobre projetos animados. Vai fazer falta insubstituível à família, eu peço a Deus que os conforte”, declarou.

O deputado estadual Junior Mochi (MDB) também esteve presente e lembrou como era trabalhar ao lado do colega.

“O Amarildo foi um extraordinário parlamentar, um cidadão combativo, mas sensato, equilibrado, que buscava o consenso. Iniciei junto no Parlamento com ele. Lembrei que já percorremos o Estado juntos por duas vezes em audiências públicas e na CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] da Saúde. Ele deixa um legado muito grande, uma referência como ser humano, como amigo, pessoa que sempre procurou com suas atitudes levar o bem. Nesse momento, mesmo com toda a tristeza, é preciso relembrar a vida e agradecer a Deus pelo privilégio da sua presença. Ele com certeza terá um lugar entre os justos”, disse.

Ex-deputado e atualmente secretário de Estado da Casa Civil, Eduardo Rocha, ressaltou que o petista era aberto ao diálogo, mesmo com quem divergia dele.

“A paixão e a garra pelas pessoas que estão lá na ponta, lá estava o Amarildo. Um homem honrado e correto, muito trabalhador. Uma morte repentina que nos pega de tristeza. Mato Grosso do Sul vai lembrar daquele Amarildo combativo, mas muito respeitoso. Tinha amizade com todo mundo, lutava pela sua corrente partidária, mas sabia fazer a boa política”, considerou.

Velório na Alems

O deputado foi velado no Palácio Guaicurus, onde trabalhou por quase duas décadas. Presidente da Alems, Gerson Claro (PP) lamentou a morte do colega.

“Amarildo fez história no Parlamento Sul-Mato-Grossense. Foi referência na luta contra desigualdade, defendendo com veemência e fervor suas causas. Nós estamos consternados, não conseguimos entender sua morte prematura. Seu legado permanece e se torna símbolo para Mato Grosso do Sul”, declarou.

Amigo do petista, Pedro Kemp (PT) o homeneageou cantando “Noites Traiçoeiras” e reforçou o legado que fica. 

“A voz de Amarildo ainda ecoa nos corredores da Assembleia, pois aqui ele defendeu o que acreditava. Ele não passou por esta Casa de forma despercebida e seu trabalho não acaba aqui, nós vamos continuar a sua luta por justiça social, defendendo as minorias, combatendo o racismo e pelo meio ambiente. Amarildo entra para história, pois escolheu lutar pelas questões mais essenciais da vida. O que conforta os nossos corações é que ele está com Deus”, disse.

O deputado federal Vander Loubet (PT) destacou que espera que Amarildo inspire outras pessoas. “Ele sabia trabalhar com as convergências em condições firmes. Um grande debatedor e um grande homem para nosso partido. Que muitos Amarildos possam nascer a partir do legado deixado por este amigo”, ressaltou.

Apesar das diferenças, João Henrique Catan (PL) fez questão de se despedir de Amarildo. “Sempre tive uma relação boa com meus colegas parlamentares e sempre destaquei na tribuna a importância de termos bons tribunos, debatendo pontos divergentes. Vim prestar minhas homenagens à história de luta do deputado, minhas condolências, meu respeito a sua família e amigos”, comentou.

Deputado foi velado na Assembleia Legislativa. (Foto: Luciana Nassar/Alems)

Vida e carreira de Amarildo Cruz

Paulista de Presidente Epitácio, Amarildo Valdo da Cruz chegou a Mato Grosso do Sul aos 18 anos, em 1981, após ser aprovado em concurso para fiscal tributário estadual. Era graduado em Direito e em Ciências Contábeis, pós-graduado em Gestão Pública e especialista em Ciências de Direito.

Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores em 1984. Foi um dos fundadores e presidiu o Sindifiscal/MS (Sindicato dos Fiscais Tributários do Estado). No Governo do Estado, foi superintendente da Central de Compras.

Entre 2003 e 2006, foi diretor-presidente da Agehab (Agência de Habitação Popular), na gestão de José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT. Deixou o cargo para concorrer a deputado estadual, sendo eleito pela primeira vez.

Na eleição seguinte, em 2010, ficou apenas como primeiro suplente. Assumiu a superintendência do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) no Estado em 2011.

Dois anos depois, foi convocado para assumir uma cadeira na Assembleia. Em 2014, conquistou mais um mandato nas urnas. Nesta legislatura, foi 2º secretário da Mesa Diretora.

Nas eleições de 2018, ficou novamente como suplente. Neste período, comandou a Unidade de Educação Fiscal da Sefaz (Secretaria de Estado de Fazenda).

Foi empossado para o quarto mandato em 2021, após a morte do então deputado Cabo Almi, e na ocasião, se aposentou como fiscal tributário após 39 anos. No último pleito, em 2022, foi reeleito.