Cara a cara, Lula usa covid para atacar Bolsonaro e presidente recorre a Petrolão

O debate foi marcado por discussão sobre temas relacionados à pandemia da covid-19, Petrolão, disseminação de fake news e STF

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Foto: Reprodução Uol

O primeiro confronto direto entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) foi marcado por discussão sobre temas relacionados à pandemia da covid-19, Petrolão, disseminação de fake news e STF (Supremo Tribunal Federal). O debate entre os candidatos à Presidência da República foi promovido pelo UOL, em parceria com a Band, Folha de S. Paulo e TV Cultura.

Lula subiu ao palco antes de Bolsonaro, que entrou e não cumprimentou o petista. Na primeira pergunta do confronto, o ex-presidente saiu do púlpito e respondeu ao questionamento andando —ao longo do debate os adversários ficaram mais à frente do palco.

O embate foi dividido em três blocos e durou quase duas horas. Segundo o Uol, Lula se perdeu com tempo no último bloco e Bolsonaro conseguiu discursar sem interrupções por mais de cinco minutos. A campanha do petista tentou sinalizar que o tempo do ex-presidente estava acabando, mas não teve sucesso.

Pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira (14) mostrou Lula com 49% das intenções de voto e Bolsonaro com 44%. Outros 5% disseram que devem votar em branco ou nulo; 1% está indeciso. O levantamento tem margem de erro de dois pontos percentuais. O segundo turno está marcado para acontecer dia 30 de outubro.

Como foi o debate:

Pintou um clima’. A entrevista dada por Bolsonaro a um podcast na última sexta-feira (14) em que ele se referiu a um encontro com venezuelanas dizendo que havia adolescentes “arrumadas para ganhar a vida”, insinuando prostituição infantil, e que “pintou um clima”, foi citada ainda antes do início do debate.

Lula criticou o adversário e disse que o candidato à reeleição agiu “de má-fé”. Já Bolsonaro se defendeu e disse que passou “por 24 horas terríveis”.

Aos jornalistas, conforme o Uol, questionado sobre o que quis dizer com a expressão “pintou um clima”, Bolsonaro desconversou e disse que usa a fala em outros contextos. Sobre a insinuação que as jovens venezuelanas estariam se prostituindo, o presidente disse que “não fez acusação direta de nada”.

Broche: Lula foi ao debate usando um broche na lapela de seu terno em homenagem à Campanha Nacional de Mobilização de Combate a Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes.

Staff: Além dos responsáveis pela campanha de cada candidato, nomes como o da deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP), ao lado de Lula, e do exjuiz e senador eleito Sergio Moro (União Brasil-PR), na plateia de Bolsonaro, marcaram presença.

Pandemia no centro. Nos primeiros minutos do bloco inicial do debate, Lula usou temas relacionados a pandemia para atacar Bolsonaro. O atraso da vacina e o discurso do atual presidente a favor de medicamentos sem eficácia comprovada foram alguns dos assuntos.

“O Brasil tem 3% da população mundial. E o Brasil teve 11% das mortes da pandemia no mundo. Por que que houve tanta demora para se comprar vacina? O senhor não se sente responsável? O senhor não carrega nas costas um pouco do sofrimento dos brasileiros de ser responsável pelo menos por 400 mil mortes nesse país?”, disse Lula a Bolsonaro.

O candidato à reeleição, por sua vez, ficou na defensiva. “A vacina, seu Lula, não é para quem está contaminado, a vacina é para quem ainda não foi contaminado”.

Bolsonaro voltou a criticar a CPI da Covid e as medidas de isolamento que foram adotadas para impedir o avanço do coronavírus no Brasil.

Petrolão. Já Bolsonaro usou o Petrolão, que definiu como o “maior esquema de corrupção da história da humanidade”, para atacar Lula.

Em sua resposta, o petista disse que foi responsável por fazer a capitalização de R$ 70 bilhões da Petrobrás e transformou a estatal “na segunda maior empresa de energia do mundo”, o que tornou o Brasil um país “autossuficiente”.

O petista disse que prenderam quem roubou a Petrobras porque houve investigação nos governos do PT, sem sigilos nas ações do governo.

“Eu não tenho nenhum problema de explicar o petrolão, quero que você explicar é a forma sigilosa que você colocou tantas coisa na sua vida”, afirmou Lula.

Lula no Complexo. Bolsonaro falou sobre a ida de Lula ao Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, na última quarta-feira (12) para um ato de campanha e mentiu ao dizer que não havia a presença de policiais “apenas traficantes”.

Ao responder, o petista afirmou ter “orgulho” de ser um candidato com “coragem de entrar em uma favela sem colete de segurança”.

“O candidato sabe que quem cuida de crime organizado não sou eu. Quem tem relação com miliciano e crime organizado, ele sabe que não sou eu, e sabe quem tem. Sabe inclusive da culpabilidade que foi o crime organizado que matou a Marielle no Rio de Janeiro”, disse Lula a Bolsonaro.

Lula se reuniu com lideranças comunitárias para tratar de projetos sociais, política de armas, cultura e segurança pública. Depois, fez uma caminhada de cerca de 1 hora pela Estrada de Itararé.

No comício, o petista usou um boné com as iniciais CPX. O item foi atacado por bolsonaristas que afirmaram que o acrônimo é de uma gíria de grupos criminosos, o que não é verdade. Hoje, no debate, Bolsonaro voltou a mentir sobre o termo.

“CPX” é abreviação para “complexo”, como são chamados os conjuntos de favelas cariocas. A simplificação é usada pelos moradores dos locais, pela Polícia e pelo governo— a sigla também aparece na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) para 2023 do estado do Rio.

Fake news. Ao responder sobre divulgação de notícias falsas, Bolsonaro citou a polêmica sobre a pedofilia e disse que a campanha de Lula tentou atingi-lo com o que tem de “mais sagrado: defesa da família brasileira, defesa das crianças”.

Em seguida, o atual presidente usou uma decisão do ministro Alexandre de Moraes contra o PT (Partido dos Trabalhadores) para atacar o petista.

“Você tem que falar do seu passado, que não tem nada que preste no seu passado. Tem que mentir para tentar denegrir a imagem dos outros”, disse Bolsonaro a Lula.

Sem mexer no STF. Questionados pela jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, sobre aumentar o número de ministros da Corte, os candidatos se comprometeram a não mudar.

A ideia foi aventada e defendida por aliados do Planalto para aumentar de 11 para 15 a 17 cadeiras, garantindo maioria ao governo Bolsonaro em caso de reeleição.

A medida, imposta pelo Ato Institucional nº 2 (AI-2), de 27 de outubro de 1965, e durou até 1969. Neste ínterim, três ministros da Corte sem ligação com os militares foram cassados, diminuindo ainda mais o poder de atuação do Judiciário.

Personal space? “Fica aqui, Lula. Fica aqui”, disse Bolsonaro, no meio do terceiro bloco, tocando no ombro do petista. “Estou à disposição”, respondeu o ex-presidente.

Não há registro de contato físico entre os dois no mínimo desde 2018, quando Bolsonaro concorreu à presidência. Nos bastidores dos debates neste ano, nunca apertaram as mãos.

Problemas do primeiro debate. Apoiadores de Lula e Bolsonaro ficaram separados por uma grade, seguranças e até vasos de plantas. Mas a verdade é que o espaço não foi muito prestigiado —havia mais jornalistas que convidados dos candidatos.

A medida não havia sido adotada no debate antes do primeiro turno. Na ocasião, o deputado André Janones (Avante-MG) e o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles discutiram e quase trocaram socos em uma sala reservada para os convidados dos presidenciáveis.

A briga começou após a reação da comitiva de Bolsonaro em uma das falas de Lula. Bolsonaristas gritavam “ladrão” no momento em que o petista falava.

Corpo fala. Ao longo do debate, os adversários ficaram longe do púlpito. Na hora de perguntar e responder, Lula, por exemplo, falava olhando para as câmeras e ao final de sua fala olhava diretamente para Bolsonaro.

Já o candidato à reeleição fugia o olhar tanto para Lula, quanto para as câmeras —o que mudou no final do primeiro bloco.

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