Com rotas que se cruzam no CMO (Comando Militar do Oeste), apoiadores e manifestantes contrários ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foram às ruas do Centro de Campo Grande neste 1º de Maio, Dia do Trabalhador. 

O movimento dos cidadãos favoráveis ao presidente incluiu concentração e adesivagem em frente à Praça do Rádio Clube, no Centro. Como de costume, as críticas ao STF (Supremo Tribunal Federal) foram um dos temas principais do protesto. Também houve críticas ao adotado por estados e municípios. Da praça, o grupo segue em buzinaço até o Comando, na Duque de Caxias, explicou Rafael Tavares, de 36 anos, representante do Movimento Endireita MS. 

Outro grupo de manifestantes, desta vez professores e minorias, como indígenas, reuniu-se em frente à Fetems (Federação dos Trabalhdores em Educação de MS). No grupo saído da Fetems, o trajeto teve início na sede da entidade, na Rua 26 de Agosto, seguindo pela Duque de Caxias até o Aeroporto Internacional. No retorno, o grupo tinha como rota a Avenida Afonso Pena até a Rui Barbosa, com finalização em frente à CUT (Central Única dos Trabalhadores) na Rua 14 de Julho. 

Em ambos os grupos, manifestantes falaram sobre a crise gerada pela pandemia e que muitas pessoas estão em situação de . Mas, atribuem diferentes causas ao problema. Para quem defende o presidente, a culpa é do lockdown. Já opositores creditam a situação à demora na compra de vacinas contra a Covid-19. 

Contra o lockdown e o STF

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Concentração pró-Bolsonaro foi na Praça do Rádio Clube. Foto. Henrique Arakaki.

O grupo pró-Bolsonaro reuniu, em sua maioria, aposentados. Aos 71 anos e inativo do serviço público federal, Raulino Moreira, de 71 anos, veio de Corguinho com a neta para apoiar o presidente. Já vacinado, ele conta que o fechamento do comércio teve forte impacto em seu município. “O pequeno comerciante está precisando pedir ajuda porque não tem com pagar as contas e arcar com os gastos”, disse. 

Luiz Carlos Muller, de 61 anos, conta integrar movimento nacional chamado B38. Sua participação no protesto, explica, é para apoiar que não seja implantado o comunismo nem o socialismo no Brasil. Entre os pedidos, está a ‘derrubada do STF'. “São eles [ministros do Supremo] que estão fazendo as leis e tirando o poder do presidente Bolsonaro”, acusou. Outro pedido é pelo voto auditado e impresso. Entre os argumentos, está que até na compra com cartão de crédito o consumidor recebe ticket impresso. Portanto, detalha, o eleitor deveria também ter como comprovar o voto.

O casal de comerciantes da Manoel Olavo, de 67 anos, e Aparecida Rita Rocha, de 66 anos, reclamou do fechamento do comércio por 45 e depois mais 15 dias. Com as restrições de horário, revelam quase ter ido à falência. “Estamos sendo prejudicados porque trabalhamos à noite”, pontuou Aparecida, afirmando que as máscaras usadas contra a pandemia são pra “tampar a nossa boca”. Sem delivery em suas bancas, Manoel conta que a única coisa que passou a chegar em casa eram as contas a pagar. 

Vindo de São Paulo para visitar a filha, Antonio Donizete, de 65 anos, fez questão de levar o neto de cinco anos para o protesto em favor de Bolsonaro, ‘para aprender a ser patriota desde pequeno'. Aposentado do serviço privado, ele disse ser contra o STF. 

Carreata da Solidariedade

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Professores arrecadaram alimentos para doação. Foto. Henrique Arakaki.

Presidente da Fetems, Jaime Teixeira explica que o nome do movimento foi dado porque durante toda a semana os professores arrecadaram alimentos. Como resultado, cerca de 200 cestas básicas serão distribuídas a famílias em situação de vulnerabilidade na Capital. A categoria segue com a arrecadação e os próximos donativos serão remetidos ao interior do Estado. Entre os pedidos dos professores, está a queixa pela desvalorização da categoria e o pedido pela volta do auxílio emergencial. 

Vindo da Aldeia Tereré, em Sidrolândia, o índio terena Márcio da Silva Rodrigues, de 38 anos, fez questão de participar do movimento com a esposa e duas filhas. A participação é uma forma de protestar contra a intimação da líder indígena Sônia Guajajara, intimada pela Polícia Federal a depor por criticar a atuação federal relacionada aos povos indígenas na pandemia. Para Márcio, ela está sendo atacada pelo Governo Federal por estar lutando pelo direito deles.

Para a professora Aparecida Natividade, de 66 anos, o pedido é por vacinação a todos os professores. Na avaliação dela, não havia condições de retorno das aulas, mesmo em sistema híbrido, sem imunização. Com a volta, conta, muitos profissionais acabaram contaminados. Ela afirma ainda que os estudantes estão sendo prejudicados com o ensino remoto. E entre os professores, muitos tiveram que arcar com despesas para continuar dando aula porque não tinha suporte tecnológico. 

Para Eugenia Portela, de 56 anos, o Dia 1º de Maio sempre foi marco de luta para a categoria. “É sempre feriado de comemoração, mas nesse ano é diferente porque não tem como comemorar com 400 mil mortes”, afirma. Entre os problemas, ela lista desemprego, fome e as falhas do sistema remoto na educação, com professores ‘tirando dinheiro do bolso para dar aula' e alunos que não conseguem acesso ao conteúdo em formato digital. “Isso poderia ter sido evitado se o Governo Federal tivesse comprado vacina pra todo mundo, se os professores tivessem entrado na lista de prioridade antes e não tivesse incentivo à desvalorização da ciência”, finaliza.