O breve encontro entre movimentos de apoio ao presidente Jair Bolsonaro e de sindicalistas e grupos de esquerda simpáticos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Campo Grande pode ser encarado como uma “prévia” do que virá em 2022, quando os dois políticos poderão se enfrentar nas urnas. Não houve confronto, mas gestos e trocas de “gentilezas” entre as duas manifestações dão o tom do que poderá vir na próxima eleição, que depois seguiu das ruas para as redes sociais.

Como “água e óleo”, os atos até se assemelhavam, como ao reconhecerem os efeitos nefastos da pandemia de coronavírus na economia. Contudo, com pouco esforço, seus integrantes deixavam claras as diferenças: os defensores do presidente da República criticaram o lockdown imposto por governadores para frear a Covid-19, enquanto o grupo mais alinhado à esquerda cobrava do pressa na vacinação da população.

As pautas do grupo que marchou de verde e amarelo, cores usadas por quem defende Bolsonaro, ainda traziam assuntos comuns à órbita presidencial: críticas ao Supremo Tribunal Federal por “tirar poderes” do presidente e exigência do voto impresso. Eles saíram da Praça do Rádio pela Avenida Afonso Pena tendo como destino final o CMO (Comando Militar do Oeste), um aceno tanto à ala militar do Governo Federal como à defesa da intervenção.

Da Fetems (Federação dos Trabalhadores na Educação de Mato Grosso do Sul), sindicatos e movimentos simpáticos à esquerda (e à Lula) foram ao Aeroporto Internacional e retornaram pela Afonso Pena até a sede da CUT (Central Única dos Trabalhadores), no Centro. Os educadores protestaram contra o retorno às aulas sem vacina, outro ponto cobrado do Governo Federal devido aos atrasos na imunização da população.

Os dois grupos se avistaram com ocupantes de carros ostentando faixas de apoio a Bolsonaro ouvindo gritos em defesa de Lula em 2022. Alguns manifestantes ficaram com os ânimos mais exaltados, gesticularam entre si e se provocaram, mas não há notícias sobre confrontos. O Batalhão de Choque da Polícia Militar acompanhou os atos.

A rivalidade dos grupos, ao longo do sábado, trocou as ruas pelas redes sociais (ambiente que cada vez mais ganha espaço nos debates e campanhas políticas), envolvendo defesas a Lula e Bolsonaro e ataques entre apoiadores dos mesmos.

Palanque virtual

Nacionalmente, conforme levantou a reportagem, o encontro dos rivais foi inusitado, já que, ao menos nas principais cidades do país, protestos pró e contra Bolsonaro partiram de locais diferentes.

Nacionalmente, um palanque virtual foi preparado para reunir adversários de Bolsonaro, que se tornou alvo de críticas. Lula, e Fernando Henrique Cardoso, ex-presidentes, somaram-se a Guilherme Boulos (Psol), (PDT), Marina Silva (Rede) e Flávio Dino (PC do B), além de parlamentares de esquerda e centro-direita, como o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A promessa ainda foi de exibição de clipes de governadores com sindicalistas.

O 1º de Maio Unitário das Centrais Sindicais ergueu bandeiras como a vacinação contra a Covid e o auxílio emergencial de R$ 600 até o fim da pandemia.

Bolsonaro, por sua vez, também escolheu um front virtual, em um primeiro momento. Ao lado da ministra Tereza Cristina (Agricultura), discursou em participação on-line na abertura da 86ª ExpoZebu de Uberaba (MG).

Pela manhã, conforme o Estado de Minas, afirmou que o Dia do Trabalhador tem “bandeiras verde-e-amarela” no lugar das vermelhas tremuladas, e que são erguidas por “homens e mulheres que trabalham de verdade”.