A Câmara Municipal de aprovou nesta quinta-feira (5) moção de repúdio contra advogado, promotor e juiz no processo de estupro envolvendo a modelo Mariana Ferrer. O caso veio à tona nesta semana, quando trechos da audiência de julgamento mostraram a vítima chorando e pedindo respeito, diante da falas da defesa do empresário André Aranha, absolvido  no caso.

“Mariana é uma das tantas que não tem voz e isso só teve dimensão porque [o caso] foi vazado. Eu fico triste, porque nasci, cresci e ainda vivo no meio de uma comunidade machista”, afirmou a vereadora Cida Amaral (PSDB), quem propôs a medida durante a sessão. Antes disso, o vereador Eduardo Cury (DEM) tinha falado que concordava com a moção, mas gostaria que a menção ao juiz fosse retirada.

“Quero deixar bem claro, para aqueles que não leram a sentença, que leiam a sentença do honrado juiz. E se ater a postura dele durante o julgamento, que inclusive chamou atenção daqueles que estavam cometendo os excessos”.

Contudo, segundo o vereador (PSD), o documento apresentado pela vereadora não fala sobre a decisão escrita, mas sim a condução do magistrado durante a audiência, considerada pelos vereadores como ‘omissa'. “Não apenas um abuso, desrespeito na audiência, que deve se chegar a verdade e não reprimir as pessoas. Houve excesso por parte do advogado e, os demais que integram, foram omissos”.

Dharleng Campos, do MDB, manifestou apoio a colega e disse que ‘nenhuma mulher pode ser tratada' como a vítima do caso foi. “Constrangimento terrível, ele [advogado] tinha de ser parado desde o início. Mas infelizmente não vimos isso em momento algum, o que vimos foi uma mulher acuada, como tantas, vítima e tendo que se justificar, é um absurdo. Merece, sim, nota de repúdio”.

Para o pastor Jeremias Flores (), o ato foi ‘insano'. “Estamos tratando de pessoas, mulher profissional, dentro dos fatos que ficamos sabendo. Quero enaltecer a atitude da vereadora como mulher de respeito, mãe de família. Essa mulher [Mariana] não foi tratada com dignidade”.

Delegado da Polícia Civil, o vereador Wellington de Oliveira (PSDB) afirmou que a ‘grande preocupação' é com a exposição da vítima ao público e que, tal fato, pode ser mais doloroso do que o ato em si. “A modelo sofreu criminalização e acabou sendo mais exposta. Quem não sabia, ficou sabendo, é um absurdo. A mídia criou o tal estupro culposo. O mais repudiante foi o ato do advogado”.

O vereador (Avante) também se manifestou favorável ao repúdio contra os três citados, lembrando que, por coisas como essa, é importante a população escolher legisladores que defendam ‘boas causas'.

Caso

A decisão da 3ª Vara Criminal de Florianópolis que inocentou o empresário André Aranha da denúncia de estupro é de 9 de setembro, e o caso ganhou repercussão nesta semana após o site The Intercept Brasil divulgar detalhes da sessão de audiência onde o advogado Cláudio Gastão da Rosa Filho insultou a jovem.

Com o argumento de que a relação foi consensual, a defesa do empresário exibiu, na audiência, fotos sensuais feitas pela jovem antes do episódio, e sem qualquer relação com o fato. O advogado de Aranha, Cláudio Gastão, chegou a dizer que a menina tem como “ganha-pão” a “desgraça dos outros”. Apesar das intimidações, o juiz não repreendeu.

Em determinada altura da audiência, a jovem chegou a implorar ao magistrado por respeito. “Excelentíssimo, estou implorando por respeito, nem os acusados são tratados do jeito que estou sendo tratada, pelo amor de Deus, gente. O que é isso?”.