Iphan-MS: acordão por reformas pode render cargo à esposa de Paulo Duarte

Apadrinhamentos já causam protestos de servidores do órgão federal

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Apadrinhamentos já causam protestos de servidores do órgão federal

Servidores suspeitam que negociações políticas envolvendo apoio a votações polêmicas no Congresso devem definir a troca na titularidade da superintendência do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em Mato Grosso do Sul. Estão em andamento conversas para que Norma Daris Ribeiro, atualmente no cargo, seja substituída por Maria Clara Scardini, esposa do ex-prefeito de Corumbá Paulo Duarte (PDT).

Ela foi diretora-presidente da Fuphan (Fundação de Desenvolvimento Urbano e Patrimônio Histórico) de Corumbá durante a gestão do marido, que não se reelegeu nas últimas eleições municipais, mas coincidentemente  foi nomeado assessor técnico da presidência da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, junto ao deputado estadual Junior Mochi (PMDB).

Houve rumores de que as negociações envolveriam também a ida de Duarte para o PMDB, mas Mochi desmentiu o convite. Entre os servidores federais do Iphan em Mato Grosso do Sul, a notícia da mudança, embalada por acertos políticos e apadrinhamento, causou reação.

A substituição de Norma Ribeiro é dada como certa, mas ninguém quer se manifestar por ora, temendo represálias. As informações, no entanto, são de que as mudanças estariam seguindo movimento nacional de acomodação política em troca de apoio ao governo em temas polêmicos, como a reforma da previdência.

Por telefone, a esposa de Paulo Duarte confirmou que estão em andamento conversas para ela ser nomeada no posto. Porém, disse que não havia ainda nada confirmado. “Não chegou ainda a meu conhecimento. Era bom você me ligar outro dia. Amanhã, talvez”, esquivou-se.

Ela não comentou os rumores de que a nomeação no cargo seria parte de acordos políticos em troca de apoio ao governo de Michel Temer.

Crise do Iphan

Sede do Iphan-MS em Campo Grande durante ocupação por artistas, em 2016 (Acervo Midiamax)

Fato semelhante, a propósito, ocorre na superintendência estadual do Iphan no Rio de Janeiro, onde a resistência de servidores do órgão ganhou forma de protesto.

Lá, a servidora de carreira Mônica da Costa, que desempenha o cargo, deverá ser substituída pelo ex-secretário de educação estadual do Rio de Janeiro, Cláudio Roberto Mendonça, que teria sido indicado pelo deputado Áureo Ribeiro (SD-RJ). A medida gerou indignação dos servidores, que publicaram uma carta aberta pela manutenção de Costa no cargo.

Na superintendência regional da Paraíba, a nomeação do ex-governador Lacerda Neto (PSD) para o posto em agosto de 2016 também acirrou os ânimos de servidores e da comunidade artística local. Ainda em 2016, logo após o afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), houve várias mobilizações criticando uma ‘dança das cadeiras’ que teria como objetivo buscar apoio ao impeachment, que também gerou abaixo-assinado.

Vale lembrar, claro, do escândalo envolvendo o Iphan da Bahia, em novembro de 2016, quando houve a exoneração do ex-ministro Geddel Vieira Lima (Governo), após denúncias do também ex-ministro Marcelo Calero (Cultura) de que Geddel praticava tráfico de influência e havia ‘pedido a cabeça’ da superintendente da Bahia, quando esta vetou a construção de um arranha-céu em área histórica de Salvador. Geddel, no caso, era um dos investidores no empreendimento.

Nepotismo

Em 2015, o MPE (Ministério Público Estadual) abriu investigação contra o então prefeito Paulo Duarte, na época, filiado ao PT, por ter nomeado Maria Clara Scardini ao posto de diretora-presidente da Fuphan. Duarte justificou a nomeação alegando a competência técnica de Scardini e recusou-se a exonerar a primeira-dama do cargo. Posteriormente, a primeira-dama deixou o cargo para dedicar-se à campanha de reeleição de Duarte.

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Luso Queiroz
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