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Polícia

‘Violência com cara de cuidado’: Caio proibia Vanessa de dirigir e se passava por ela em mensagens

Inquérito policial conclui que Vanessa sofria violência psicológica há meses
Thatiana Melo -
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Caio exaltava ser 'homem de Deus' nas redes sociais. (Reprodução, Redes Sociais)

Uma violência psicológica silenciosa travestida de ‘cuidados’, atenção exacerbada que acabam envolvendo a vítima em um ciclo de um falso amor, que na realidade são uma forma de controle de seu alvo: Assim foram os últimos meses de vida de Vanessa Ricarte, morta a facadas aos 42 anos, pelo ex-noivo, Caio Nascimento.

Vanessa foi colocada dentro de uma ‘bolha de amor’ por Caio, que no começo do relacionamento era um príncipe concordando com tudo, apresentando ter os mesmos gostos, o que era um relacionamento dos sonhos se tornou um pesadelo, que só foi percebido pouco antes do crime por Vanessa. 

O relatório da (Delegacia Especializada de Atendimento Móvel de Urgência) aponta as manipulações que Vanessa viveu por parte de Caio. A jornalista não dirigia o próprio carro há meses, já que Caio estava ‘cuidando’ de sua segurança. “Ele colocou sua vítima em uma bolha de amor e ela começou a se afastar de tudo e de todos. Começou a se abrir menos do seu relacionamento com os amigos e familiares. Vanessa marcou o seu casamento sem contar para ninguém, porque Caio a manipulou.” ,diz o relatório.

Vanessa  chegou a ter de prestar contas de seu dia-a-dia para Caio que a controlava  como forma de ‘amor’. O músico tinha um esboço da rotina completa da jornalista, que ainda era rastreada por Caio, para saber onde Vanessa estava.

O músico era quem nos últimos meses respondia as mensagens de Vanessa para os amigos da jornalista. “Ninguém entra em um relacionamento abusivo por vontade própria, pois na maioria das vezes começa aparentando ser o “amor da vida” e muitos questionamentos surgem no sentido de “fulana é tão inteligente e bonita aceita estar em um relacionamento assim?”. Justamente porque começa com cara de grande amor. Porém, CAIO  NUNCA AMOU VANESSA! Ele fazia com ela uma enxurrada de manipulações.”, fala o relatório.

A mãe de Vanessa em seu depoimento na Deam, relatou a dependência emocional de Caio. Ela ainda relatou que não mantinha um bom relacionamento com Caio, pois ele apresentava um comportamento desagradável, com o notório intuito de controlar Vanessa.

Vanessa passou cinco dias em cárcere privado, sem se alimentar antes de sua morte, enquanto Caio usava , que a jornalista foi obrigada a comprar com seu dinheiro. Antes de ser assassinada a facadas ao retornar para  sua casa, a jornalista passou a madrugada com seu carro estacionado em um mercado, onde tinha câmeras de segurança.

“Vanessa estava imersa em um ciclo de violência com fases alternadas entre tensão, agressão e lua-de-mel, quando o agressor se emprenha em agradar, faz juras de amor (CARTAS DO CAIO apreendidas no Inquérito), ele disse que iria mudar, prometeu que foi a última vez. VANESSA estava tão debilitada emocionalmente que acredita no CAIO e não conseguiu sair desse ciclo.”, diz o relatório. 

Músico indiciado

O músico Caio do Nascimento Pereira foi indiciado pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) pelo feminicídio que vitimou a jornalista Vanessa Ricarte, de 42 anos, em Campo Grande, no dia 6 deste mês.

O feminicídio ocorreu na tarde do dia 12 de fevereiro quando a jornalista foi esfaqueada pelo ex-noivo na própria casa. Caio está preso desde o dia do crime e sua defesa insiste em exames para provar que o cliente estava sob efeito de drogas ao matar Vanessa.

No indiciamento, consta que o músico manteve Vanessa em cárcere privado por cinco dias e obrigou ela a lhe dar R$ 1 mil para pagar entorpecentes.

Durante as investigações, com a oitiva de testemunhas, foi constatado ainda que a jornalista estava indo trabalhar com roupas longas, mesmo em dias de calor, o que gerou desconfiança dos colegas de trabalho.

Ainda segundo o MPMS, após desferir as facadas contra a jornalista naquele 12 de fevereiro, Caio ligou para um primo dizendo que ‘fez coisa errada’.

Reconstituição do feminicídio

A reconstituição do crime ocorreu no dia 25 de fevereiro. O vizinho de Vanessa Ricarte – morta a facadas pelo ex-noivo em casa – lembrou o grito desesperador da jornalista e lamentou não ter conseguido salvá-la do feminicídio naquele 12 de fevereiro. A Polícia Civil realizou a reprodução simulada do crime no bairro São Francisco, em Campo Grande.

No local, o vizinho da jornalista reproduziu à polícia o passo a passo feito no dia do feminicídio. Ele contou à reportagem do Jornal Midiamax que ajudou os policiais a abrirem o portão da residência de Vanessa naquela tarde. 

“A reprodução simulada foi tranquila, eu me sinto até melhor, mas o fato de não ter conseguido salvar ela (Vanessa) foi muito difícil. Quero que a justiça seja feita”, disse o vizinho. 

Feminicídio

A jornalista Vanessa Ricarte era servidora pública no MPT-MS (Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso do Sul). Ela foi esfaqueada três vezes na região do tórax e depois levada em estado gravíssimo à Santa Casa, onde veio a óbito.

No dia do crime, o feminicida disfarçou calma e disse que aceitava o fim do relacionamento. Mas o que veio a seguir foram facadas desferidas contra Vanessa.

Vanessa tinha voltado da delegacia, onde foi buscar a medida protetiva contra Caio, que não recebeu a intimação a tempo, quando se deparou com o músico na residência. A jornalista estava na companhia de um amigo e foi ao local para buscar seus pertences.

Na madrugada do dia da morte de Vanessa, ela foi até a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), acompanhada de um amigo, para registrar um boletim de ocorrência por agressão contra Caio e pedir medida protetiva.

No período da tarde, ela foi até sua casa, acompanhada do mesmo amigo, para pegar seus pertences. Chegando à residência, ela foi esfaqueada por Caio.

O caso ganhou repercussão após áudios gravados por Vanessa hora antes de morrer apontaram descaso e erros no atendimento que ela recebeu quando procurou ajuda na Casa da Mulher Brasileira. 

📍 Onde tentar ajuda em MS

Em Campo Grande, a Casa da Mulher Brasileira está localizada na Rua Brasília, s/n, no Jardim Imá, 24 horas por dia, inclusive aos finais de semana.

Além da DEAM, funcionam na Casa da Mulher Brasileira a Defensoria Pública; o Ministério Público; a Vara Judicial de Medidas Protetivas; atendimento social e psicológico; alojamento; espaço de cuidado das crianças – brinquedoteca; Patrulha Maria da Penha; e Guarda Municipal. É possível ligar para 153.

☎️ Existem ainda dois números para contato: 180, que garante o anonimato de quem liga, e o 190. Importante lembrar que a Central de Atendimento à Mulher – 180, é um canal de atendimento telefônico, com foco no acolhimento, na orientação e no encaminhamento para os diversos serviços da rede de enfrentamento à violência contra as mulheres em todo o Brasil, mas não serve para emergências.

As ligações para o número 180 podem ser feitas por telefone móvel ou fixo, particular ou público. O serviço funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana, inclusive durante os finais de semana e feriados, já que a violência contra a mulher é um problema sério no Brasil.

Já no Promuse, o número de telefone para ligações e mensagens via WhatsApp é o (67) 99180-0542.

📍 Confira a localização das DAMs, no interior, clicando aqui. Elas estão localizadas nos municípios de Aquidauana, Bataguassu, Corumbá, Coxim, Dourados, Fátima do Sul, Jardim, Naviraí, Nova Andradina, Paranaíba, Ponta Porã e Três Lagoas.

⚠️ Quando a Polícia Civil atua com deszelo, má vontade ou comete erros, é possível denunciar diretamente na Corregedoria da Polícia Civil de MS pelo telefone: (67) 3314-1896 ou no GACEP (Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial), do MPMS, pelos telefones (67) 3316-2836, (67) 3316-2837 e (67) 9321-3931.

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