Pular para o conteúdo
Polícia

Investigação do Gacep apontou falhas nos atendimentos a vítimas de violência na Deam em Campo Grande

Procedimento preparatório sobre falhas da Deam foi convertido em inquérito civil
Thatiana Melo -
(Foto: Henrique Arakaki, Midiamax)

Desencorajamento a registrar boletim de ocorrência contra o agressor, vítima que relatou ter medo de companheiro que acabou solto mesmo sendo preso em flagrante por , falta de acolhimento: estas são falhas apontadas no relatório do Gacep (Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial), no atendimento da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher). 

O promotor de Justiça Douglas Oldegardo Cavalheiro dos Santos, coordenador do Gacep, é o responsável pelo procedimento. Uma sucessão de falhas em atendimento que acabaram em feminicídios. O relatório cita os casos de Vanessa Ricartes, morta aos 42 anos, pelo ex-noivo, como também de Ivone Barbosa da Costa Nantes, assassinada a facadas pelo companheiro. As duas mulheres pediram ajuda na delegacia, mas o descaso terminou em tragédia. 

No caso de Ivone, o relatório traz que a delegada deixou de ratificar a prisão de Wilton de Jesus Costa, que foi levado para a delegacia no dia 13 de abril, após a vítima pedir ajuda a Polícia Militar. Wilton foi solto e cinco dias depois matou Ivone a facadas. 

O relatório traz que, “Na delegacia, porém, a delegada plantonista deixou de ratificar a voz de prisão recostando-se no entendimento segundo o qual teriam ocorrido ‘lesões corporais recíprocas’, anotando em seu despacho que (1) os policiais militares não teriam presenciado o crime, (2) Wilton e Ivone apresentava lesões e (3) as versões eram contraditórias.”. 

Ivone havia relatado no Fonar (Formulário Nacional de Análise de Risco) que o Wilton já havia a agredido antes, mediante queimadura, enforcamento, soco, chute, tapa, empurrão e puxão de cabelo e que ela temia pela sia vida, e mesmo assim, ele foi solto na delegacia.

Outro ponto trazido pelo relatório é o de uma vítima que teve impedida a sua intenção de juntar provas de crime de perseguição, armazenadas em pendrive, sob o argumento de que a delegacia era local, apenas, para o registro da ocorrência, sendo necessário que procurasse a Defensoria Pública para adotar as providências necessárias para ver juntados os elementos que detinha em mãos.

O caso de Vanessa Ricartes, morta no dia 12 de fevereiro, foi citado no documento. O promotor chega a fazer um questionamento, “seu acompanhamento à residência para a retirada de pertences, sine petitione pendente, teria sido uma medida preventiva de devida diligência reforçada com potencial para alterar a história dos fatos?.”, diz Douglas Oldegardo. 

O promotor ainda discorre da falta de acolhimento quando mulheres em situação de vulnerabilidade procuravam a Deam e não encontravam. “Se na fala daquela vítima em situação documentada de vulnerabilidade que foi ao setor psicossocial da Casa da Mulher Brasileira relatar que fora desencorajada a registrar ocorrência dentro da própria DEAM houvesse narrativa oposta, de acolhimento, registro da ocorrência, diligência sobre o caso, apuração e punição pelo que houvera (se houvera) sofrido, poderia ter sido alterada sua situação de vulnerabilidade e a reincidência do agressor?.”, questiona.

Em outubro de 2024, a defensora Thais Dominato, responsável pelo Nudem (Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher), enviou ofício ao Nevid (Núcleo de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher), do MP, relatando que uma vítima de perseguição tentou entregar provas contra o ex-namorado, mas o material foi recusado.

Segundo o documento, o investigador afirmou que a delegacia servia apenas para registrar boletins de ocorrência e que as provas deveriam ser levadas à Defensoria.

Conforme o Plano Estadual de Segurança Pública, a média ponderada de feminicídios nos últimos cinco anos em aumentou (entre 2021 e 2024) na ordem de 36,4%.

De fevereiro até o fim de agosto já foram registrados 24 feminicídios em . Um Grupo Técnico foi criado para desafogar BOs da Deam.

Grupo Técnico 

O Grupo Técnico, criado para desafogar mais de 6 mil boletins de ocorrência da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), já instaurou mais de 1 mil inquéritos. O grupo foi criado após o feminicídio da jornalista Vanessa Ricartes, de 42 anos, no dia 12 de fevereiro deste ano.  

O grupo já instaurou 1.170 inquéritos. “Estamos instaurando os mais complexos de se instruir, primeiro. Exigem laudos de corpo de delito (lesões corporais). Aqueles que não são necessários laudos, como injúria, vias de fato, serão bem mais rápidos.”, disse o delegado-geral, Lupérsio Degerone ao Midiamax.

Nos primeiros 15 dias de trabalho do grupo formado por  20 delegados foram analisados 642 BOs, com 380 inquéritos policiais instaurados; sendo destas duas representações de prisão preventiva e duas representações por busca domiciliar e apreensão. 

O grupo é formado por 20 membros, sendo composto pelos delegados Wellington de Oliveira, Marcelo Alonso, João Reis Belo, Juliano Cortez Penteado, e os escrivães Steven Souza e William Eduardo Rocha, além da investigadora Priscila Rodrigues.

Também integram o grupo outros 13 delegados nomeados como membros. O grupo terá 90 dias para concluir os trabalhos, prazo que pode ser prorrogado pela DGPC (Delegacia Geral de Polícia Civil de Mato Grosso do Sul). 

Delegadas não erraram

A Corregedoria da Polícia Civil concluiu o inquérito sobre os protocolos seguidos no caso do feminicídio da jornalista Vanessa Ricarte, de 42 anos, em fevereiro deste ano, pelo músico Caio Nascimento, pela Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher). Segundo o relatório da Corregedoria do dia 20 de março, todos os protocolos foram seguidos, apesar do governador Eduardo Riedel apontar falhas. O inquérito segue em sigilo.

Áudios de Vanessa apontavam que a jornalista teria ido à Deam durante a madrugada do dia 12 para o registro do Boletim de Ocorrência, voltando na parte da tarde para buscar a medida protetiva. Conforme o inquérito, todo o fluxograma da Lei Maria da Penha, da Cartilha das Diretrizes da Casa da Mulher foi seguido.

Informações obtidas pelo Jornal Midiamax são de que o inquérito da Corregedoria traz que ‘não houve quebra do protocolo’ na Casa da Mulher, e nem das delegadas que atenderam a jornalista. A falha seria atribuída à demora na notificação de Caio Nascimento pela Justiça. Vanessa não teria relatado todo o problema, como ter sido mantida em cárcere privado.

Ainda conforme o relatório, agentes da Guarda Civil Metropolitana foram notificados sobre a medida protetiva e para acompanhamento de Vanessa a sua casa, o que não ocorreu. O Midiamax entrou em contato com a Prefeitura sobre o caso, e até a publicação da matéria não houve resposta. O espaço segue aberto para futuras manifestações.

Após o caso Vanessa, foi determinado um pente-fino e um Grupo Técnico foi criado para revisar cerca de 6 mil boletins de ocorrência da Deam. No dia 17 deste mês, foi firmado um convênio com o Governo para que policiais civis e militares façam a intimação de agressores de mulheres, no caso de medidas protetivas, como maneira de dar celeridade ao processo.

💬 Fale com os jornalistas do Midiamax

Tem alguma denúncia, flagrante, reclamação ou sugestão de pauta para o Jornal Midiamax?

🗣️ Envie direto para nossos jornalistas pelo WhatsApp (67) 99207-4330. O sigilo está garantido na lei.

✅ Clique no nome de qualquer uma das plataformas abaixo para nos encontrar nas redes sociais:
Instagram, Facebook, TikTok, YouTube, WhatsApp, Bluesky e Threads.

Compartilhe

Notícias mais buscadas agora

Saiba mais

Policiamento na Praça dos Três Poderes é reforçado para julgamento de Bolsonaro no STF

No estilo ‘Todo Mundo Odeia o Chris’, primas gravam vídeo para ajudar professora em cirurgia de R$ 50 mil

Ex-piloto de Fórmula 1 é preso por receptação de veículo de luxo

Desastres Digitais: Como a Recuperação de Dados Salva Empresas e Memórias

Notícias mais lidas agora

Julgamento de Bolsonaro começa na terça e terá oito sessões

Suspeito de matar filho de policial, ‘Rato’ é investigado por agiotagem e venda de armas

lua

Decepcionante para MS? Confira o cronograma de espetáculos celestes de setembro

Médicos Sesau

Está na lista? Sesau divulga nova convocação de médicos temporários

Últimas Notícias

Cotidiano

Infestação do Aedes aegypti apresenta risco médio em 21 cidades de MS

Com maior volume de chuva neste ano, balanço indica aumento de risco quando comparado ao mesmo período de 2024

Cotidiano

Nova lei oficializa cargos efetivos na Fundação de Cultura de Campo Grande

Os cargos criados correspondem às vagas já ocupadas por servidores efetivos que atuavam anteriormente na Secult

Mundo

VÍDEO: CEO milionário causa revolta ao roubar boné de criança em torneio de tênis

CEO milionário, Piotr Szczerek tomou o boné que o tenista Kamil Majchrzak havia dado a um menino enquanto atendia fãs no US Open; veja o vídeo

Política

Adiado mais uma vez, relatório final da ‘CPI do busão’ tem novo prazo

O estudo que investiga irregularidades do Consórcio Guaicurus foi adiado duas vezes e deve ser entregue até dia 22 de setembro