‘A droga destruiu minha família’: esse é o relato de Thaysa Ourê Santos, de 29 anos, filha mais velha da 18ª vítima de feminicídio em Mato Grosso do Sul, Michely Rios Midon Oure, de 48 anos. O crime ocorreu em Glória de Dourados, cidade a 259 quilômetros de Campo Grande.
Ela perdeu a mãe na última quinta-feira (3), sendo que o acusado pelo crime é seu próprio irmão, Alfredo Henrique, de 21 anos. Ao Jornal Midiamax, Thaysa contou que o irmão era usuário de drogas há vários anos.
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“A droga destruiu minha família. Ele estava há três dias usando cocaína e, naquele dia [do crime], caiu o salário. Ele queria sair para usar mais, mas minha mãe provavelmente não deixou ele sair”, disse Thaysa.
A irmã mais velha contou que Alfredo faz tratamento para depressão desde os 13 anos e, por isso, estaria em surto por não tomar os medicamentos necessários e fazer uso de drogas no lugar. “Estava em tratamento para depressão e bipolaridade, tomava muitas medicações, ficou oito meses sem usar drogas. Provavelmente estava em surto, alguns dias não queria tomar por conta das drogas”, contou.
Thaysa ainda disse que Alfredo era um risco para ele mesmo. “Ele era um risco para ele, a gente sabia disso, por isso meus pais faziam de tudo para salvar ele”, completa.
Todo o contexto de vida de Alfredo leva Thaysa a crer que ele não planejou o crime. “Não foi nada premeditado, tem como provar. Ele nem lembra o que fez. Contratamos advogado, não estamos com raiva dele, porque sabemos quem ele é. Sabemos que ele não faria nunca isso se estivesse bem”, finalizou.
Feminicídio causa comoção em Glória de Dourados e Sidrolândia
Ao Jornal Midiamax, uma amiga de Michely, que acompanhou o velório na cidade na última sexta-feira (4), informou que o clima é de profunda tristeza. Isso porque Glória de Dourados se abalou com a trágica notícia.
“A Michely era muito conhecida aqui em ‘Glória’. Todo mundo conhecia ela, está todo mundo abalado. Não tinha quem não gostasse dela. Era uma pessoa querida, onde ia, sempre estava sorrindo e animando todo mundo”, disse Leia Pio, de 48 anos.
Leia contou que conheceu a vítima quando ela estava grávida do seu filho caçula, Alfredo. “Ela estava grávida do Alfredo. Conheci ela a vida inteira”, frisou.
Michely morou por um longo período em Sidrolândia e, por lá, também fez muitas amizades. Assim, a cidade também se comoveu com a notícia.
“Glória de Dourados reagiu com muita revolta, porque a ‘Mi’ lutou como uma leoa pela criação dos filhos, em especial do Alfredo. Tanto Glória de Dourados quanto Sidrolândia estão em choque com essa notícia. Quem conheceu a Mi sabe o quanto ela amava a família e os amigos”, pontuou Mariléia Centurion Saraiva, de 49 anos.
‘Apaixonada pela família’, lembra amiga
‘Apaixonada pela família’: essas palavras foram utilizadas por uma amiga para descrever a 18ª vítima de feminicídio em Mato Grosso do Sul.
Nas redes sociais, a mulher esbanjava paixão pela família e, principalmente, por Alfredo. Antes de ser morta, ela chegou a gravar uma linda homenagem ao feminicida.
“Oi, meu filho, nenhum presente que eu ganhasse hoje substituiria o amor que tenho por você. Nada seria melhor do que ter você na minha vida. Nada é melhor do que ver você se tornar um homem de bem, de bom coração”, falava a vítima no vídeo.
Assim, uma amiga de Michely confirmou também o amor que ela tinha pela família. “Semana passada, estávamos nós duas conversando sobre nossos filhos. Rimos tanto. Você sempre tão apaixonada pela sua família, me mostrou tantas fotos. Eu jamais imaginaria receber essa notícia do seu falecimento de forma tão trágica”, lamentou.
Preso em ‘boca de fumo’
Alfredo Henrique, de 21 anos, acusado do feminicídio da mãe, Michely Rios Midon Orue, de 47 anos, morta a facadas, foi preso nesta sexta-feira (4), enquanto dormia em uma boca de fumo, em Dourados, a 225 quilômetros de Campo Grande.
Quando preso, ele disse aos policiais que estava arrependido do crime. A mulher foi morta dentro de casa, com cinco facadas, em Glória de Dourados. O corpo dela foi encontrado no quintal de casa por amigos que estranharam seu sumiço e não conseguiram contato com ela.
Ao lado do corpo de Michely, os policiais encontraram uma calça jeans e um par de tênis, sujos de sangue, que seriam de Alfredo. O marido de Michely estava viajando e, segundo informações, o filho da vítima seria usuário de drogas e agressivo. Logo após o crime, ele fugiu com o carro da família. Michely teria sido assassinada no horário do almoço.
2º feminicídio na cidade
Conforme os dados da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), o último feminicídio registrado em Glória de Dourados, havia sido em 2015. Assim, Michely se tornou a segunda vítima na cidade — após 10 anos do último registro.
Mato Grosso do Sul registrou 18 feminicídios em 2025
- Karina Corim (Caarapó) – 4 de fevereiro
- Vanessa Ricarte (Campo Grande) – 12 de fevereiro
- Juliana Domingues (Dourados) – 18 de fevereiro
- Mirielle dos Santos (Água Clara) – 22 de fevereiro
- Emiliana Mendes (Juti) – 24 de fevereiro
- Gisele Cristina Oliskowiski (Campo Grande) – 1º de março
- Alessandra da Silva Arruda (Nioaque) – 29 de março
- Ivone Barbosa (Sidrolândia) – 17 abril
- Thácia Paula (Cassilândia) – 11 de maio
- Simone da Silva (Itaquiraí) – 14 de maio
- Olizandra Vera Cano (Coronel Sapucaí) – 23 de maio
- Graciane de Sousa Silva (Angélica) – 25 de maio
- Vanessa Eugênio Medeiros (Campo Grande) – 28 de maio
- Sophie Eugenia Borges, filha de Vanessa Eugênio Medeiros (Campo Grande) – 28 de maio
- Eliana Guanes (Corumbá) – 6 de junho
- Doralice da Silva (Maracaju) – 20 de junho
- Rose (Costa Rica) – 27 de junho
- Michely Rios Midon Orue – (Glória de Dourados) – 3 de julho
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