Após comentários LGBTfóbicos sobre travesti envolvida em morte de caminhoneiro, associação busca MPMS

Associação de Travestis e Transexuais de MS protocolou denúncia na manhã desta segunda-feira (20)

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MPMS adotará acordos de não persecução para reduzir os processos disciplinares (Jornal Midiamax, Arquivo)
MPMS (Jornal Midiamax, Arquivo)

Após comentários LGBTfóbicos sobre a travesti, de 22 anos, envolvida no caso em que o caminhoneiro Jeferson Pontes Barbosa, de 32 anos, morreu em um motel na Vila Taveirópolis, em Campo Grande, a ATMS (Associação de Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul) busca justiça no MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul). 

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A morte de Jeferson aconteceu no último dia 8, há 12 dias. O caminhoneiro foi agredido pela travesti após discordância por conta de valores de programa sexual, porém a polícia acredita que a morte tenha sido natural, e não decorrente das agressões. 

Após as notícias veiculadas na imprensa, diversos internautas passaram a fazer comentários de ódio nas redes sociais pelo fato do caminhoneiro ter se encontrado com uma mulher trans, travesti. Por isso, na manhã desta segunda-feira (20), a Coordenadora Geral da ATMS, Mikaella Lima Lopes, foi até a 67ª Promotoria de Direitos Humanos protocolar uma denúncia. 

É inaceitável que, em momentos de dor e perda, algumas pessoas optem por propagar discursos de ódio e preconceito, desumanizando indivíduos e comunidades que já enfrentam tantas adversidades. Esses comentários não apenas ferem a memória da vítima e de seus entes queridos, mas também perpetuam um ambiente de hostilidade que afeta toda a comunidade LGBTQIA+”, diz trecho da publicação feita pela associação.

A denúncia foi protocolada após 12 dias da morte do caminhoneiro e em 24 horas do caso da travesti que teve 90% do corpo queimado por outras duas, na Vila Carvalho, em Campo Grande.

(Reprodução: ATMS)

A intenção da denúncia é que os responsáveis pelos comentários sejam identificados e punidos. “Fomos à Promotoria de Direitos Humanos para exigir que os responsáveis por esses comentários sejam identificados e que medidas sejam tomadas para responsabilizá-los. Acreditamos que a justiça e a dignidade humana devem prevalecer sobre o ódio e a intolerância”, diz a ATMS. 

Na publicação, a associação ainda comenta a gravidade da disseminação de discursos de ódio nas redes sociais. “É fundamental que haja uma resposta efetiva das autoridades competentes para coibir esse tipo de comportamento e garantir que todos possam expressar sua dor e luto sem o medo de serem atacados”, diz a Associação de Travestis e Transexuais. 

Caminhoneiro e travesti brigaram após limite de Pix excedido

Conforme o delegado Sam Suzumura, que investiga a morte de Jeferson, a vítima havia combinado o programa sexual com uma travesti e um garoto de programa. Por volta das 6 horas da manhã, chegou ao motel acompanhada da travesti, e, na sequência, chegou o terceiro envolvido, o garoto de programa.

Com isso, eles usaram drogas dentro do quarto e, ao final, a vítima teria pagado o motel e também a travesti. Mas, seu limite de Pix acabou sendo excedido e ele não conseguiu efetuar o pagamento do garoto de programa, momento em que as discussões iniciaram.

Após os levantamentos da polícia e perícia no motel, a travesti e o garoto de programa foram encaminhados para prestar esclarecimentos na delegacia.

Nesta segunda (20), o delegado explicou ao Jornal Midiamax que ainda não chegaram os laudos que comprovem a real causa da morte da vítima. Por enquanto, o caso segue em investigação como morte a esclarecer.

Associação repudia tentativa de assassinato contra travesti que teve 90% do corpo queimado

Ainda nesta segunda (20), a associação publicou uma nota de repúdio em relação ao caso que vitimou uma travesti, de 31 anos, na Vila Carvalho.

Solidarizamo-nos com Pamela Mirela, mulher trans, vítima de um atentado ocorrido no último final de semana em Campo Grande. Embora os atos tenham sido praticados por outras duas pessoas trans, é inadmissível que toleremos tais violências. Independentemente de conflitos pessoais ou de quaisquer fatos envolvidos, este ato de violência é mais um triste reflexo de uma sociedade intolerante que precisa urgentemente evoluir no respeito ao próximo”.

A nota diz ainda que apesar do Brasil liderar o ranking de violências contra LGBTQIAPN+ no Mundo, a classe enfrenta situações degradantes praticadas entre travestis e transexuais.

A agressão a Pamela é mais do que um ataque a uma pessoa; é uma afronta à dignidade humana e aos direitos fundamentais, incluindo a violabilidade de domicílio. Em pleno século XXI, episódios de violência como este são inaceitáveis, especialmente quando cometidos dentro da própria comunidade”.

Manifestamos nossa solidariedade a Pamela Mirela e a todas as pessoas que enfrentam, diariamente, violências, discriminações e preconceitos. A luta por dignidade, respeito e igualdade é um compromisso coletivo, e nós, da ATTMS, reafirmamos nosso compromisso inabalável com esta causa, independentemente de quem sejam os culpados.

Que este lamentável episódio sirva como um chamado à reflexão e à ação, para que possamos construir uma sociedade mais justa, acolhedora e comprometida com o bem-estar, a vida e os direitos humanos de todos”, finaliza a nota.

O crime

A travesti que teve 90% do corpo queimado está internada em estado gravíssimo na Santa Casa da Capital desde a manhã de domingo (19).

Aos policiais, uma testemunha relatou que estava na frente de sua residência quando viu a autora chegando na casa da vítima com um galão de gasolina, momento em que ela começou a despejar o líquido por baixo da porta, pelas frestas e ainda jogou pelas escadas do imóvel. Na sequência, fechou uma porta de grade e ateou fogo, fugindo do local.

Essa testemunha controlou as chamas e retirou a vítima, que estava queimada, do local. Contudo, a autora do incêndio retornou minutos depois.

Uma segunda testemunha relatou aos policiais que conseguiu identificar a autora como uma travesti também. Isso porque, na noite anterior, em uma boate, a vítima e a autora teriam se desentendido por questões relacionadas aos serviços de prostituição.

Duas suspeitas, de 22 e 35 anos, estão presas desde a madrugada desta segunda-feira (20) por tentativa de homicídio contra a vítima, sendo que uma delas está envolvida na morte do caminhoneiro ocorrida no motel há 12 dias.

A princípio, a informação é de que a mandante do crime seria outra pessoa, que inclusive já havia ameaçado a vítima anteriormente, porém, as duas presas confessaram o crime.

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