‘Sabia que ia acontecer tragédia’: Brigas entre mulher atropelada e marido eram frequentes

Familiar dele ainda relatou que havia aconselhado primo a se separar

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Marcas da tragédia na frente da casa (Ana Laura Menegat, Midiamax)

Faixas sinalizadoras indicam o endereço da tragédia na Avenida Cinco, no bairro Nova Campo Grande. Na manhã deste domingo (21), atordoados com o feminicídio de Andressa Fernandes Teixeira, de 29 anos, vizinhos e familiares contam que as brigas e discussões entre ela e o esposo eram frequentes. A vítima foi arrastada e morta atropelada pelo marido, de 24 anos, em frente aos filhos, na noite de sábado (20).

Uma vizinha, que preferiu o anonimato, disse que estava dormindo quando o incidente aconteceu; acabou não ouvindo o barulho do atropelamento no portão e as sirenes. Ela disse que ficava preocupada com as agressões entre o casal em frente às crianças.

“Era sempre constante (brigas). Todos os vizinhos ouviam. Ficava sempre preocupada se alguma coisa acontecesse. Eu tinha vontade de falar com ela, de dizer: ‘saia logo desse relacionamento, termine, pode acontecer uma tragédia’. Eu fiquei chocada com a notícia da morte”, disse.

Um primo dele, que preferiu não se identificar, disse que a família está abalada. Ele teria sido avisado pela esposa, que viu as notícias pelas redes sociais e pela imprensa. Ele se disse chocado, mas não surpreso com a situação.

“Eu sabia que ia acontecer uma tragédia. No domingo passado, eu o vi, ainda falei: Se separe, não dá certo, vocês brigam demais. Quando minha esposa me falou, eu fiquei sem reação. Quando ele bebia, viviam discutindo”.

Atropelada no portão

Ainda segundo o primo, Andressa costumava tentar impedir que o companheiro saísse de casa com o carro quando estava embriagado. “Ela tentava segurá-lo em casa, falava que podia acontecer alguma coisa”.

As agressões também eram frequentes, de acordo com o familiar. “Já havia boletim de ocorrência por causa das brigas. Ela arranhava ele, ele arranhava ela. Eles brigavam e se separavam, mas logo estavam juntos de novo. A família aconselhava, mas voltavam”.

Sobre as crianças, filhas do casal e que presenciaram a morte, ele diz que, por enquanto, podem estar na casa da avó materna. “Vim para ver se tinha alguém na casa, se ele estava preso. (As crianças) não estão com a minha família, podem estar com a mãe dela (Andressa)”.

Marcas

Além das faixas, que são instaladas pela polícia durante a investigação, há um amassado no portão da casa, entretanto, sem marcas de sangue.

No dia do crime, uma vizinha, que testemunhou o crime, contou à polícia que o casal estava bebendo, chegando a convidá-la por volta das 20h. Ela teria negado por ter compromissos. Quando retornou, ouviu o casal discutindo sobre a situação financeira, chegando a discutir sobre quem ganhava mais na casa.

Pouco depois, ouviu Andressa brigando com o companheiro, tentando impedi-lo de sair com o carro. As crianças, uma menina de 11 anos e um garoto de 3 anos, estavam na frente da casa. A vizinha ouviu o estrondo do portão e começou a gritar: ‘Para o carro, você vai matá-la’. O marido teria respondido: ‘Que se dane!’. Ele teria arrancado em primeira marcha. A moradora continuou pedindo para que ele desse ré no veículo: ‘Pense nos seus filhos. Você está levando ela’, momento em que ele desceu do carro.

A vizinha começou a gritar e outros moradores saíram para ver, impedindo o rapaz de tentar fugir, momento em que ele entrou no carro. Ela relatou que viu os dedos de Andressa se mexerem; o pneu estava sobre a mão dela. Familiares dele chegaram ao endereço e tiraram o carro de cima da vítima com força, em seguida, um parente teria pegado o carro e tirado do local do crime.

O Corpo de Bombeiros foi acionado, uma ambulância chegou rápido, entretanto, a equipe constatou o óbito após 1h. O marido teria ficado ‘em cima’ dos socorristas e precisou ser contido. Quando a Polícia Militar chegou, ele estava alterado e precisou ser reanimado. Ele dizia ‘O que eu fiz da minha vida’. Os filhos do casal gritavam.

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