Réu falta, mas motorista e esposa, alvos de 11 tiros na Afonso Pena, relembram desespero e ‘arma na cabeça’
Gabriel Zampiere foi convocado em edital e não compareceu ao julgamento popular
Victória Bissaco –
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Mesmo com o banco de réus vazio, o julgamento popular de Gabriel Zampiere de Mattos Bezerra, acusado de perseguir e tentar matar o motorista de um caminhão e a esposa dele na Avenida Afonso Pena, em fevereiro de 2022, ocorre normalmente nesta terça-feira (8). As vítimas foram ouvidas e se emocionaram ao relembrar a perseguição e os disparos.
O acusado foi convocado em edital, mas faltou ao júri. Ele responde por tentativa de homicídio qualificado por motivo fútil.
O motorista do caminhão, que atualmente é gerente de uma fábrica, explicou que Gabriel e o comparsa – Elias Maldonado, morto a tiros em 07 de julho deste ano – passaram a persegui-los por acreditarem que o casal atingiu o carro deles em conversão.
Conforme relato da vítima, ele e a esposa haviam acabado de deixar pacotes de gelo em uma boate na Avenida Afonso Pena, pela rua lateral, a Rua Espírito Santo. O casal retornaria para a fábrica, mas se deparou com a Land Rover dos acusados parada em fila dupla, quase no cruzamento entre a Avenida e a Rua.
“Embiquei o caminhão e fiquei esperando eles saírem, minha esposa comigo, mas não saíram. Eu ia dar uma ré para pegar outra rua, mas minha esposa ‘falou espera, acho que está saindo’. Eles encostaram à direita, eu saí com o caminhão, sem buzinar nem nada, e eles deram o primeiro tiro do lado da minha esposa, ela gritou e abaixou e eu fugi. Nós dois ficamos em desespero”, afirma.
O casal continuou pela Afonso Pena, sentido ao Parque dos Poderes, e foi seguido pela dupla, que dispara no veículo. Um dos tiros atravessou o baú do caminhão e atingiu a cabine do motorista, quase acertando o condutor.
O motorista passou o Pontilhão da Avenida Ceará, e a perseguição não parou. “Nós fizemos o retorno que tem em frente ao shopping e eles passaram reto, pois acreditaram que iríamos continuar. A gente tinha a esperança de eles desistirem, mas eles vieram atrás de novo”.
Quando o motorista chegou quase na esquina com a Rua Rio Grande do Sul, Gabriel e Elias conseguiram ‘fechar’ o caminhão do casal. “Eu falei amor, não tem jeito de a gente escapar deles”.
Os suspeitos desceram cada um com uma arma na mão e gritavam “desce, seu vagabundo. Ajoelha aí”. Então, passaram a dar coronhadas na vítima, sob justificativa de que ele havia estragado o veículo deles. O motorista ficou sob a mira da arma de Elias e a esposa dele, de Gabriel.
A mulher também foi ouvida e contou que foi ameaçada de morte por Gabriel. “Elias pegou meu esposo e falou ‘vem aqui que eu vou te mostrar o que você fez no meu carro’. Eu tentei ir atrás, mas o Gabriel não deixou. Ele falou ‘fica quieta sua vagabunda, senão eu vou te matar’”, disse aos prantos.
O veículo não estava danificado. Mesmo assim, Elias colocou o motorista ajoelhado novamente e fez mais um disparo próximo a ele. Depois, fugiram do local.
‘Anotou a placa?’
Assustados e em choque, o casal retornou para o caminhão e saiu do local. Na esquina, foram parados por trabalhadores da Solurb, que perguntaram sobre o ocorrido. “Você anotou a placa?”, perguntou um deles. O motorista negou, pois disse estar muito nervoso na hora.
Contudo, os funcionários da empresa haviam anotado e informaram a placa às vítimas. “Nós fomos para a Depac [Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário] e fomos orientados a procurar a Santa Casa, porque eu estava com a cabeça sangrando por causa das coronhadas”.
Depois de ser atendido e passar por exames para averiguar possíveis fraturas, o motorista voltou para a delegacia, acompanhado da esposa. “Quando estávamos chegando, nós vimos de novo a Land Rover. Entramos em desespero eu e minha esposa, mas o policial disse par eu ficar tranquilo porque já haviam pegado eles”, disse.
Conforme consta no boletim de ocorrência, os dois suspeitos foram encontrados, junto a uma mulher, os três com sinais de embriaguez. O de 26 anos estava sentado no banco traseiro e, ao ser revistado, foi encontrada uma pistola glock com ele, junto a três munições intactas. Com o segundo suspeito, de 34 anos, também foi encontrada uma pistola Glock ao lado do banco do motorista, onde ele estava, com nove munições. Ainda conforme o registro policial, a Land Rover tinha sinais de colisão e pneus furados.
Executado com tiros na cabeça
Elias havia diversas passagens na Polícia, como essa tentativa de homicídio, além de roubo, ocorrido em agosto de 2014, no Recanto dos Rouxinóis. Elias e outros dois colegas, além de um adolescente, roubaram R$ 9 mil em dinheiro, além de joias e semijoias avaliadas R$ 180 mil, mediante grave ameaça e violência.
Em julho de 2022, no Recanto dos Rouxinóis, Elias foi flagrado transportando uma arma de fogo com 7 munições. O flagrante aconteceu depois que a polícia foi acionada através de denúncia de disparos de arma de fogo e policiais avistaram o carro Evoque fazendo manobra brusca para tentar fugir. Em novembro de 2022, na Avenida Gunter Hans, no bairro Aero Rancho, ele foi novamente flagrado com arma de fogo.
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