13 anos depois, réu diz que tentativa de matar genro foi acidente: ‘Maltratava minha filha’
José Dalberto foi preso somente em 2022, envolvido em outra tentativa de homicídio
Victória Bissaco –
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Treze anos separam o crime do julgamento de José Dalberto dos Santos Arcanjo, acusado de tentar assassinar o genro, que tinha 21 anos na época do crime, após uma discussão com a vítima na padaria da família, localizada no bairro Dom Antônio, em Campo Grande. Nesta sexta-feira (4), o réu disse que o caso não passa de um acidente.
Conforme relato de José aos jurados, a vítima e a esposa – filha do acusado – tinham um relacionamento perturbado. “Tinha dia que ela ia trabalhar [na padaria da família] e estava com a cara, o olho inchados. Eu perguntava o que era e ela dizia que não era nada, que acordou assim. […], mas eu tinha certeza que ele maltratava ela”, afirma.
O réu explicou que a filha morava em Ponta Porã, mas veio a Campo Grande para administrar outra padaria que o pai montou para ela. O esposo ficou na cidade da fronteira, pois servia o Exército, e visitava aos finais de semana.
Contudo, cerca de 5 meses antes do crime, o homem passou a morar junto à família. Desde então, os lucros na padaria abaixaram. Dois meses após a chegada do homem, ele informou a José que a padaria teria sido supostamente assaltada, mas ninguém na região chegou a ver o assalto. Então, o pai da família comprou uma arma e deixou no estabelecimento.
A esposa de José, Francisca também foi ouvida e relatou que o casal vivia um relacionamento conturbado. “Eles estavam sempre brigando, discutindo, às vezes eles estavam no quarto e ela saia de lá chorando, nervosa. Dizia que ‘aquele guri não a deixava em paz. Para mim não era nenhum um pouco [um relacionamento] saudável”.
“Queria só ameaçar”
José Dalberto disse em depoimento que comprou uma passagem de volta para Ponta Porã e mandou o genro embora. “Porque ele judiava da minha filha e eu estava cansado disso”, disse. No dia do crime, o acusado iria fazer uma entrega de pães e, ao passar na padaria, encontrou a vítima atendendo os clientes. Quando foi questioná-lo, obteve como resposta: “pergunta para sua filha porque eu voltei”.
O réu afirma que deu meia hora para que o genro fosse embora, mas a ordem não foi obedecida. Então, pegou a arma e os dois foram conversar nos fundos do comércio. José segurou a vítima pelo colarinho e o disparo foi feito.
“Eu não sei se ele foi reagir, mas o disparo foi feito. […] Foi sem querer, de onde que eu ia matar? Tinham 5 munições no revólver, se eu quisesse matar ele eu teria disparo mais, mas eu jamais faria isso”, disse.
A vítima foi alvejada na altura do pescoço e socorrida para a Santa Casa de Campo Grande.
“Não estava foragido”
O homem foi embora do local depois do tiro e se apresentou cerca de 48 horas depois na delegacia, com a arma. Ele não foi preso em flagrante pelo tempo decorrido após a tentativa de homicídio. Ainda, negou que ficou foragido.
O processo foi recebido pela Justiça em 2013, cerca de 2 anos após a tentativa de homicídio, mas foi suspenso tempo depois, pois o réu não foi encontrado. Em 2022, contudo, Jósé Dalberto foi preso em Coxim, envolvido em outra tentativa de homicídio ocorrida em 2003.
“Em nenhum momento eu fugi da justiça. Trabalhava aqui em Campo Grande, inclusive, de cobrador. Cheguei até a usar tornozeleira eletrônica por outro crime que eu já paguei. Como que eu estava foragido? Colaborei a todo momento com a Justiça”.
O réu responde por tentativa de homicídio qualificada por motivo fútil e recurso que dificultou a defesa da vítima. A defesa pede a desclassificação do crime para lesão corporal dolosa e das qualificadoras.
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