No banco ou no carro, vítimas de violência doméstica aguardam atendimento há 14 horas na Deam

Atraso nos atendimentos nesta segunda-feira não foi explicado pela Polícia Civil de MS

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Vítimas aguardam mais de 14 horas por atendimento na Delegacia da Mulher em Campo Grande. (Nathalia Alcântara, Midiamax)

Machucadas, sem roupas, com a filha sequestrada. Esses são relatos de mulheres vítimas de violência doméstica que aguardam há 14 horas por atendimento na Deam (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher), em Campo Grande. 

O Jornal Midiamax ouviu pelo menos quatro delas. Uma comerciante, de 34 anos, informou que foi agredida pelo ex-companheiro. Disse que foi levada pela polícia à Deam por volta das 20h, mas até as 8h desta segunda-feira (11) não havia sido atendida para o registro da ocorrência.

Ela contou que passou pelo setor psicossocial, mas, até o momento, ninguém comenta o motivo da demora para a continuidade do atendimento.

A mulher estava na delegacia na companhia da filha pequena, que ficou por um tempo na brinquedoteca. Ao perceber a demora, a tia da criança acabou indo buscá-la.

Outras mães teriam dormido com crianças no carro. Uma comerciante afirmou ter presenciado pelo menos 5 outras vítimas indo embora sem atendimento.

“A gente se sente humilhada porque teve que passar pelo trauma da agressão e aqui ninguém dá satisfação”, afirmou. Ela contou ainda que o agressor dela fugiu, e que percebeu que só foram atendidas as vítimas de autores que foram presos em flagrante.

O mesmo informou uma técnica de laboratório, de 31 anos. Ela chegou por volta das 19h na delegacia, após o ex-marido ter sequestrado a filha pequena. Ele descumpriu a medida protetiva e levou a filha, sem permissão. 

A mulher conta que está muito preocupada porque não sabe como a filha está, nem o paradeiro dela.

Ao questionar sobre a demora, ela recebeu como resposta apenas que teria que esperar. 

“A gente teve que ver uma mulher entrando no caixão para ser levada direto pro IML. Estamos aqui porque precisamos ou vamos ter que ser morta para sermos atendidas”, reclamou uma manicure, de 39 anos, que chegou às 18h30.

Outra vítima, que está a espera de atendimento desde as 18h20, uma residente, de 35 anos, contou que está sem roupas, depois que o companheiro rasgou todas as vestimentas dela. Nem trabalhar ela consegue, pois está sem uniforme, só com a roupa do corpo, então o jeito é esperar para conseguir registrar o boletim de ocorrência

Ela contou que a filha está dormindo no carro e durante a madrugada presenciou várias outras mulheres dormindo no carro e nos bancos da recepção. Disse ainda que ficou sabendo que uma mulher foi embora às 5h30, sem atendimento, pois estava com ferimento de faca na barriga. 

Ela foi informada que os policiais estariam dando prioridade ao feminicídio que aconteceu na cidade. 

“Vou ter que ficar para registrar porque não tenho nem roupa para trabalhar por causa do que ele fez”, afirmou.

A reportagem entrou em contato com a assessoria da Polícia Civil para entender o motivo da demora, e aguarda retorno.

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