Médica conta em julgamento que mãe não olhou para Sophia ao saber da morte e questiona reação
Pediatra que atendeu Sophia na UPA disse que Stephanie ficou olhando para o celular ao invés de olhar para a filha
Layane Costa, Lívia Bezerra –
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A médica pediatra que atendeu Sophia Ocampo, de 2 anos – morta e torturada em janeiro de 2023 – disse que Stephanie de Jesus da Silva teve uma reação atípica ao receber a notícia da morte da pequena.
Stephanie e Christian Campoçano Leitheim – na época padrasto de Sophia – estão sendo julgados desde o início da manhã desta quarta-feira (4), no Fórum de Campo Grande. O júri popular terá dois dias de duração.
Uma das testemunhas que presta depoimento nesta tarde é a médica pediátrica Thayse Capel, que trabalhava na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Coronel Antonino e foi chamada para a área vermelha logo que Sophia deu entrada na unidade.
Aos jurados, a médica conta que, ao notar a rigidez do corpo, constatou que Sophia já estava morta e questionou a Stephanie sobre o que estaria ocorrendo, quando notou uma reação atípica da mãe. Neste momento, a profissional percebeu que o caso era de polícia e acionou as autoridades.
“Quando nós damos uma notícia de óbito para uma mãe, a primeira coisa que a mãe faz é olhar para o filho de maneira desesperada. E ela não tirou os olhos do celular enquanto eu falava com ela”, disse a médica.
Ainda no plenário, a profissional de saúde relatou que a mãe de Sophia se quer chorou ao ser informada da morte da pequena, apenas demonstrava ansiedade. “Estava ansiosa, mexendo no celular, não estava chorando, mesmo após o anúncio e não deu nenhuma reação”, falou.
A médica pediátrica ainda revelou que Stephanie só ficou desesperada ao ser informada pela profissional de que ela iria chamar a polícia.
Defesa contrata psicólogo que em pouco mais de 2 horas de sessão disse que Stephanie teria síndrome de Estocolmo
Nesta tarde, uma das testemunhas arroladas pela defesa da mãe de Sophia foi o psicólogo forense Felipe Martins Pousada Gomez, que contou que realizou três entrevistas psicológicas com a acusada de 50 minutos cada, de forma telepresencial. O depoimento do profissional ocorreu por videoconferência no Tribunal do Júri.
“Em resumo, eu coloquei ali algumas hipóteses, então eu apresento algumas possibilidades, como transtorno de estresse pós-traumático, ansiedade generalizada, episódios depressivos, além de observar sinais consistentes com a de Síndrome de Estocolmo, no contexto de um relacionamento abusivo”, disse aos jurados.
Levada 30 vezes para unidades de saúde
Foram 30 vezes que Sophia foi levada a uma unidade de saúde, sempre com algum machucado, passando mal, mas também sempre havia uma desculpa para a criança estar com aqueles roxos pelo corpo como: ter sido agredida pelo ‘irmão’ – filho de Christian – ou ter se machucado brincando.
Mas, o que foi descoberto depois deixou uma sociedade inteira horrorizada: Torturas, beliscões, xingamentos, gritos e até estupro. Nos dois anos em que Sophia viveu, ela foi agredida pelo padrasto. A mãe nega que sabia das agressões à filha, mas conversas recuperadas pelo Gaeco demonstram o contrário.
Nas conversas entre Stephanie e Christian, a mãe de Sophia combina com o companheiro a melhor forma de relatar os motivos para os machucados na menina. “Vamos dizer que caiu no parquinho.”, dizia uma das mensagens trocadas.
Em agosto de 2022, a mãe de Sophia questiona o marido sobre uma marca de mordida no braço da menina, e ele responde: “sabe que não controlo a mordida, ela é macia demais”.
No dia 16 de novembro, em mais uma mensagem enviada do padrasto da menina para a mãe de Sophia, ele fala que deu uma surra na criança, e que percebeu que ela ficou com um galo na cabeça e estava com a boca sangrando.
A perita Rosângela Monteiro, que atuou no caso Nardoni, em 2008, teria apontado que a menina foi abusada várias vezes. “A violência sexual foi claramente identificada pelo rompimento de hímen, a heperemia em partes da vagina e esquimoses na face interna das coxas, e o rompimento do hímen já estava cicatrizado, portanto, fora realizado em data anterior da morte da vítima”, diz parte da análise.
Os dois ainda teriam sido denunciados por tortura contra Sophia quando ela teve a perna quebrada a chutes por Christian. A cena foi presenciada pelo filho do autor que prestou depoimento falando sobre o episódio. “Foi meu pai, meu pai que chutou ela pra rua, chutou ela duas vezes, aí deixou ela machucada.
A menina tinha um trauma na coluna vertebral, o que na época foi dito pelo médico legista, que uma força muito grande pode ter feito com que o pescoço tenha girado em 360º e poderia ter causado a morte instantânea de Sophia.
Assassinato de Sophia
Sophia morreu em janeiro de 2023, após passar por várias internações. Assim, as investigações mostraram que a mãe levou a menina até uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), já sem vida. A mulher chegou ao local sozinha e informou o marido sobre o óbito.
Além disso, a polícia identificou indícios de estupro na vítima. Ainda durante as investigações, uma testemunha contou que após receber a informação sobre a morte de Sophia, o padrasto teria dito a frase: “minha culpa”.
Também uma das contradições apontadas na investigação é o fato da mãe dizer que antes de levar a filha para atendimento médico, a menina teria tomado iogurte e ido ao banheiro.
Essa versão é contestada pelo médico legista, que garantiu que com o trauma apresentado nos exames, a criança não teria condições de ir ao banheiro ou se alimentar sozinha.
Por fim, a autópsia apontou que Sophia pode ter agonizando por até seis horas antes de morrer. Após o início das investigações, a polícia prendeu o padrasto e a mãe da menina. Eles seguem presos.
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