Os filhos, de 3 e 11 anos, de Andressa Fernandes Teixeira, de 29 anos, presenciaram o momento em que o pai deu ré no veículo e matou a mãe atropelada na noite de sábado (20), no bairro Nova Campo Grande. A mais velha chegou a pedir ajuda para a família em grupo de mensagens.

(Victória Bissaco, Midiamax)

Segundo a delegada titular da Deam (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher), Elaine Benicasa, o casal, que estava junto há 12 anos, estava ingerindo bebida alcoólica, quando brigaram porque o marido queria ir pela terceira vez comprar bebida alcoólica e a mulher não queria deixar. Ele já havia ingerido três caixas de bebida alcoólica.

Andressa estava sentada no portão da residência com os filhos, quando o autor entrou no carro deu ré e a atingiu. À polícia, primeiro ele contou que não sabia que ela estava atrás do veículo, depois contou que ela foi para atrás do veículo, quando ele deu ré, passando por cima dela e destruindo o portão. 

“A filha pediu ajuda em um grupo da família. Os familiares começaram a chegar e tiraram ela debaixo do carro, porque ela teria ficado presa, em tese com vida, mas quando o socorro chegou ela já não tinha sinais vitais”, explicou.

Após atropelar e prensar a esposa contra o portão, o marido ainda a arrastou por cerca de 10 metros em via pública. A polícia ainda aguarda laudos para saber se ela foi atropelada mais de uma vez e investiga se ele parou para prestar socorro, segundo a delegada Marianne Souza.

Preso, o marido estava bastante transtornado no local e até tentou interferir na cena durante a perícia.

O casal tem dois filhos, um de 11 anos e outro de 3. 

Vizinhos relataram que o relacionamento era conturbado, pois frequentemente ouviam brigas vindo da residência.

Feminicídio

Por volta das 22h, a vítima estava sentada no portão, de costas para a residência, quando o marido avançou com o Volkswagen Polo em sua direção, a arrastando. O corpo parou embaixo do carro, quando vizinhos impediram que ele fugisse.

Uma vizinha, que testemunhou o crime, contou à polícia que o casal estava bebendo, chegando a convidá-la por volta das 20h. Ela teria negado por ter compromissos. Quando retornou, ouviu o casal discutindo sobre a situação financeira, chegando a discutir sobre quem ganhava mais na casa. Pouco depois, ela pediu uma pizza e viu Andressa ainda no portão, chegando a brincar com a vítima, mas foi ignorada. Andressa ainda teria questionado o motoentregador da pizza por olhar “demais” para a casa. A vizinha pegou a encomenda e entrou na residência.

Pouco depois, ouviu Andressa brigando com o companheiro, tentando impedi-lo de sair com o carro. As crianças, uma menina de 11 e um garoto de 3 anos, estavam na frente da casa. A vizinha ouviu o estrondo do portão e começou a gritar: “Para o carro, você vai matá-la”. O marido teria respondido: “Que se dane!” Ele teria arrancado em primeira marcha. A moradora continuou pedindo para que ele desse ré no veículo: “Pense nos seus filhos. Você está levando ela”, momento em que ele desceu do carro.

A vizinha começou a gritar e outros moradores saíram para ver, impedindo o rapaz de tentar fugir, momento em que ele entrou no carro. Ela relatou que viu os dedos de Andressa se mexerem; o pneu estava sobre a mão dela. Familiares dele chegaram ao endereço e tiraram o carro de cima da vítima com força, em seguida, um parente teria pego o carro e tirado do local do crime.

O Corpo de Bombeiros foi acionado, uma ambulância chegou rápido, entretanto, a equipe constatou o óbito após 1h. O marido teria ficado “em cima” dos socorristas e precisou ser contido. Quando a Polícia Militar chegou, ele estava alterado e precisou ser reanimado. Ele dizia “O que eu fiz da minha vida”. Os filhos do casal gritavam.

Relacionamento conturbado

A testemunha relata que o casal costumava brigar com frequência e tinha um relacionamento conturbado, mas ela não se intrometia por receio das atitudes dele.

Na noite de ontem, ela afirmou aos policiais que o rapaz sabia que a esposa estava no portão, pois ele havia confrontado o motoentregador. A vizinha ainda disse que acredita que o rapaz tinha passagens por outras brigas do casal, mas que Andressa não tinha medida protetiva ou denunciado o marido por violência.

Uma vizinha, que preferiu o anonimato, disse que estava dormindo quando o incidente aconteceu; acabou não ouvindo o barulho do atropelamento no portão e as sirenes. Ela disse que ficava preocupada com as agressões entre o casal em frente às crianças.

“Era sempre constante (brigas). Todos os vizinhos ouviam. Ficava sempre preocupada se alguma coisa acontecesse. Eu tinha vontade de falar com ela, de dizer: ‘saia logo desse relacionamento, termine, pode acontecer uma tragédia’. Eu fiquei chocada com a notícia da morte”, disse.

Um primo dele, que preferiu não se identificar, disse que a família está abalada. Ele teria sido avisado pela esposa, que viu as notícias pelas redes sociais e pela imprensa. Ele se disse chocado, mas não surpreso com a situação.

“Eu sabia que ia acontecer uma tragédia. No domingo passado, eu o vi, ainda falei: Se separe, não dá certo, vocês brigam demais. Quando minha esposa me falou, eu fiquei sem reação. Quando ele bebia, viviam discutindo”.