A dupla que matou os adolescentes de 13 anos, Aysla Carolina de Oliveira Neitzke e Silas Ortiz, por engano, planejavam outro atentado para a semana seguinte, no bairro Dom Antônio, em Campo Grande. O motorista de aplicativo, Georges Edilton, preso por dar fuga a dupla, revelou o plano em depoimento.

O depoimento de Edilton durou 22 minutos e 44 segundos, na sede do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros). Acompanhado de seu advogado, o motorista revelou que conheceu João Vitor dois meses antes do crime, quando começou a fazer corridas para ele todos os dias.

O caminho, segundo Georges, era da Vila Nhanhá até as Moreninhas. Quando questionado se desconfiava de alguma atividade ilícita ou se tinha participado de atividades ilícitas, o motorista disse desconfiar, já que o lugar onde sempre buscava João Vitor, na Nhanhá, era conhecido pelo tráfico de drogas.

Segundo Georges, no dia do crime, ele buscou João Vitor e o deixou no local solicitado. Em seguida, foi até um lugar para comer um lanche enquanto esperava a ligação para buscá-lo. Conforme o motorista de aplicativo, foram 10 minutos entre ele deixar João Vitor e voltar para buscá-lo.

Quando voltou para buscar, entraram João Vitor e Nicollas Inácio no veículo e estavam dando risadas. “Arrebentamos lá”, eles diziam. Porém, segundo Georges, ele não sabia de crime nenhum até que um deles falou em tiros, e foi neste momento que teria questionado porque não ouviu tiros de onde estava.

Ainda segundo Georges, eles conversavam no carro sobre ‘arrebentar’ uma pessoa no Dom Antônio, na semana seguinte. Logo depois, deixou cada um em um lugar, sendo um deles no Marcos Roberto e o outro nas Moreninhas.

Georges ainda revelou que João Vitor sempre andava com maços de dinheiro e falava em ‘arrebentar’ algum desafeto. Contudo, ele negou que sabia do crime. 

Kleverton Bibiano Apolinário, conhecido como ‘Pato Donald’, preso na Máxima e de onde teria partido a ordem de execução e Pedro Henrique, ficou em silêncio durante o depoimento.

Guerra do tráfico 

Silas e Aysla, de 13 anos, estavam tomando tereré em frente de uma casa, quando acabaram feridos nas costas e rosto. Informações são de que na região existem dois grupos rivais na venda de drogas e que o alvo do atentado seria o ‘correria’ do bairro. Uma tentativa de homicídio contra ‘Gordela’ seria o estopim para a disputa entre os dois grupos que passou a deflagrar uma guerra.

O modos operandi na tentativa de assassinato de ‘Gordela’ seria o mesmo usado no atentado praticado contra o ‘correria’ do grupo rival na venda de drogas, na região. Um grupo teria ‘Gordela’ à frente e o outro teria ‘Garrafinha’ como um dos comandantes. Esta guerra teria começado com trocas de socos e acabou evoluindo para diversos atentados entre os lados, envolvendo disparos de armas de fogo. 

Para os policiais, ‘Gordela’ negou participação nos crimes e disse estar em sua casa no momento do atentado que acabou na morte dos adolescentes. Um motorista de aplicativo acabou preso por envolvimento com os crimes.

‘Terminar’ serviço no hospital

Nicollas Inácio Souza da Silva, 18 anos, um dos presos envolvidos no atentado que acabou na morte do adolescentes contou que ele e o comparsa João Vitor de Souza Mendes, de 19, queriam ir até o hospital para ‘terminar’ de assassinar Pedro Henrique Silva Rodrigues, alvo da execução que foi ferido na perna.

Em depoimento no Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros), o rapaz contou ao delegado Guilherme Scucuglia, titular da especializada, que estava em casa, na região das Moreninhas, quando recebeu mensagem de João Vitor e decidiram executar Pedro Henrique no último dia 3. 

“Eu estava na Moreninha na parte da manhã, aí o João acabou mandando mensagem para mim e a gente acabou trocando ideia. E aí a gente chegou no assunto que falei para ele ‘mané, vamos acabar pegando o Pedro hoje, ele vai estar moscando na esquina do corre’. Ele falou ‘vamo’ e eu estava armado com a [pistola] 357 e ele com a 9 milímetros, e acabou que a gente foi para pegar ele”, contou. 

Conversa pelo WhatsApp no presídio

Com acesso à comunicação garantida, os detentos do Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande mantêm verdadeiro ‘serviço de contrainteligência’ para monitorar em tempo real investigações em andamento e orientar comparsas do lado de fora.

É o que mostram mensagens flagradas durante a busca pelos traficantes que executaram por engano duas crianças de 13 anos de idade no bairro Jardim das Hortênsias, em Campo Grande, no último dia 3.

No flagrante, o preso Kleverton Bibiano Apolinário, custodiado pela Agepen (Agência Estadual de Administração Penitenciária), e conhecido como ‘Pato Donald’, usa smartphone e aplicativos de comunicação instantânea nos aposentos da Máxima.

Nas mensagens, o detento orienta Nicollas Inácio Souza da Silva sobre como escapar’ de ser preso pelo crime. ‘Pato Donald’ é apontado como um dos chefes do narcotráfico na região das Moreninhas, e estaria expandido as atividades para os bairros Aero Rancho e Jardim das Hortênsias.

Assim, como ‘dano colateral’ da disputa por território, mandou Nicollas matar outro traficante por dívida de droga. Foi quando os adolescentes Aysla Carolina de Oliveira Neitzke e Silas Ortiz, ambos de 13 anos, foram assassinados sem ter nada a ver com o rolo dos bandidos. O alvo seria Pedro Henrique Silva Rodrigues, de um grupo rival de ‘Pato Donald’.

Na troca de mensagens rastreadas pelos policiais do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros) foi descoberto que logo depois do crime, ‘Pato Donald’ manda mensagem para Nicollas.

“Mina, vamos mocar essa arma. Vou mandar recolher ela de você. Tira de perto de você”, orienta uma das mensagens de ‘Pato Donald’.

Na mensagem enviada por Nicollas ao detento dizia: “Aqui ninguém vem, para casa que não vou. No cel do Jacaré tem o número da minha casa e eles podem ir lá”, falava.

As mensagens ainda traziam tratativas de como Nicollas poderia fugir para não ser preso pelo crime.

“Vou mandar dinheiro, fica de boa, eu coloquei você nessa. Você é meu filho”, dizia ‘Pato Donald’ a Nicollas. O ‘moleque’ era tratado como filho por Kleverton, que havia confiado seus negócios ilícitos nas ruas da Capital.