Criança internada após suposto acidente expõe vulnerabilidade, ameaças e conflito de versões

Menino de 2 anos está em estado grave na UTI da Santa Casa de Campo Grande

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(Alicce Rodrigues, Midiamax)

Uma criança de 2 anos internada em estado grave na Santa Casa de Campo Grande está no centro de um caso que expõe vulnerabilidade social, conflito de versões e até ameaças que movimentam as redes sociais e amedrontam parentes e vizinhos. A DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente) investiga o suposto acidente, que aconteceu em bairro da periferia de Campo Grande há uma semana.

O menino de 2 anos vive com a mãe, de 19 anos, e uma irmã de 4 anos. O pai das crianças é um ex-detento que deixou o presídio recentemente e, segundo apurou a reportagem, a mãe e os filhos não tinham paradeiro certo, se mudando de casa constantemente.

A mãe das crianças foi ouvida na DEPCA, na tarde desta segunda-feira (29), depois da própria mãe dela, avó das crianças, procurar a polícia para registrar o desaparecimento da filha depois que a criança foi internada.

A Polícia Civil não deu detalhes da investigação e não há confirmações se a mãe, o pai ou algum outro parente é tratado como suspeito de agredir a criança ou se o menino foi mesmo vítima de um acidente doméstico.

Na delegacia, o caso foi registrado a princípio por ‘abandono de incapaz se do fato resulta lesão corporal de natureza grave’. A mãe alega que o filho caiu de um degrau enquanto brincava com a irmã mais velha. Quando levou o filho para atendimento médico, a mãe também tinha uma lesão no corpo, que, segundo ela, foi causada por outra mulher durante uma briga.

Avó diz que filha não batia nas crianças

Avó da criança, de 2 anos, internada após suposta queda. (Alicce Rodrigues, Midiamax)

O Jornal Midiamax conversou com a avó das crianças nesta terça-feira (30). A família vive em uma casa de chão batido e recebe auxílio do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), com entrega de cestas básicas.

A mulher, que agora cuida também da neta de 4 anos, além de mais dois filhos dela, diz que a filha nunca bateu nas crianças. Simples e de família muito humilde, a mulher de 44 anos, lembrou que a filha é amorosa. Disse ainda que algumas vezes até repreendia a filha por deixar os netos ‘manhosos’. 

Na casa com duas peças e um banheiro, onde mora com o marido e outros dois filhos adolescentes, enquanto a neta mais velha brincava e comia biscoito recheado, a avó mostrava a moradia e relembrava o quanto a filha ama as crianças e que, na opinião dela, não seria capaz de agredi-las.

Analfabeta, a avó mostrou conversas em áudio que tem com a filha, que a todo tempo pergunta sobre o menino. Uma pessoa da família ficou de ir ao hospital ainda nesta terça-feira (30) buscar informações sobre o estado de saúde dele.

O menino segue internado em estado grave, em observação clínica rigorosa de leito de UTI Pediátrica.

Irmã do menino de 2 anos, criança de 4 anos agora está com avó (Foto: Alicce Rodrigues, Midiamax)

Família é ameaçada nas redes sociais

A avó conta que não sabe do paradeiro da filha e que tem medo diante de uma série de ameaças que passou a receber desde que o caso veio à tona, ainda na semana passada.

Postagens nas redes sociais com fotos da família têm sido divulgadas. Nos comentários, internautas fazem uma série de ameaças contra a mãe e o pai das crianças. Com medo da situação, a jovem não contou para mãe onde está.

Com a repercussão do caso, o pai das crianças, que acabou de sair de um presídio em Dourados, agora quer a guarda da filha mais velha.

Polícia investiga versão de acidente doméstico

No dia do acidente, a avó recebeu ligação da filha para que buscasse a irmã do bebê, pois ele havia se machucado enquanto brincava e ela estava na unidade de saúde, porém não poderia entrar com ele para fazer exames, já que estava com a outra filha.

“Ela disse que a filha mais velha estava brincando de correr com ele, quando ele caiu e bateu a ‘fonte’ e começou a convulsionar. Ela estava desesperada”, afirmou a avó lembrando do dia.

A avó até comentou que não poderia ir ao hospital, pois não tinha com quem deixar os outros filhos, irmãos da mulher, de 10 e 14 anos, mas ao ver o desespero da filha, pediu para que outra pessoa buscasse a neta.

A mãe da criança trabalha fazendo faxinas, mas a avó disse que não sabe onde ela está morando. “Eu ia conhecer a casa e ficar com as crianças lá, mas acabou acontecendo isso”, lembrou, dizendo ainda que não sabe como, nem onde aconteceu o fato.

A avó, que tem conversado com a filha por áudios através de um aparelho celular de outro familiar, relata que tem medo do que possa acontecer, já que a filha vem sendo ameaçada, e ela assustada não consegue comer, nem dormir. 

Família tem auxílio de cestas básicas para sobreviver (Foto: Alicce Rodrigues, Midiamax)

Hospital denunciou suposto acidente

Conforme o boletim de ocorrência, a criança deu entrada na Santa Casa na tarde de terça-feira (23) e ficou no CTI (Centro de Terapia Intensiva) em estado gravíssimo. A criança foi levada pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). 

Os médicos disseram à polícia que o menino apresentava lesões incompatíveis com o relato da mãe, de que a criança teria caído de um degrau.

Procurada pela polícia, a mãe contou que não havia outras testemunhas da queda. A mulher estava com um hematoma no olho direito e disse que se envolveu em uma briga de rua com uma ex-colega de escola. 

O Conselho Tutelar também foi acionado.

Avó procurou polícia após filha desaparecer

A avó da criança chegou a registrar boletim de ocorrência de desaparecimento na noite de domingo (28) após não conseguir notícias da filha. 

Ela contou que após as primeiras notícias sobre o caso serem publicadas, muitas pessoas já começaram a ameaçá-la, dizendo que ela teria maltratado o filho e, com medo, ela sumiu.

A mãe ficou preocupada porque não conseguia contato com ela desde o dia seguinte ao fato e registrou a ocorrência. O caso segue em investigação e a Polícia Civil afirmou que só repassará novas informações após o fim das investigações.

O Jornal Midiamax acionou o Conselho Tutelar da região para mais detalhes sobre o histórico da família, se as crianças eram acompanhadas e se há histórico de agressão, mas não houve retorno até a publicação deste texto.

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