Banco de dados com 201 DNAs de familiares em MS ajuda a colocar fim na busca por desaparecidos

Na semana passada, dois anos depois, homem encontrado carbonizado foi identificado após cruzamento com amostra de DNA da filha

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DNA da filha auxiliou na identificação de cadáver encontrado há dois anos – (Fotos: Henrique Arakaki, Arquivo/ Polícia Científica)

Na última semana, a família de Fábio Ferreira de Oliveira, de 39 anos, finalmente encerrou o capítulo da busca pelo homem. O corpo dele foi encontrado carbonizado na MS-010, em Campo Grande, em 2022, e passou esses dois anos sem identificação. Graças a uma intensiva investigação e o confronto do DNA dele com amostras do Banco de Perfis Genéticos de Mato Grosso do Sul, o cadáver passou a ter nome.

O maior obstáculo dessas investigações se ancorava no fato de que o corpo estava completamente carbonizado. A identificação veio por meio do DNA da filha de Fábio, enviado ao IALF (Instituto de Análises Laboratoriais Forenses da Polícia Científica) para cruzamento com as amostras do Banco de Dados.

Essa coleta dos materiais genéticos de familiares é fundamental para as investigações da Polícia Civil, tanto em casos de pessoas encontradas vivas, quanto mortas, sem identificação.

Conforme informado pela Polícia Científica, o banco de dados de Mato Grosso do Sul conta com 175 restos mortais não identificados e o DNA de 201 familiares de pessoas desaparecidas.

A perita criminal e diretora do IALF, Josemirtes Socorro Fonseca Prado da Silva, explica que, com as amostras coletadas por familiares, é possível realizar o cruzamento genético com os perfis cadastrados nos Bancos Estaduais, Distrital e Nacional de Perfis Genéticos. “Esse processo aumenta significativamente as chances de identificação, permitindo conectar famílias aos seus entes queridos, trazendo respostas e auxiliando na resolução de casos de desaparecimento”, relata.

O delegado titular da DHPP, Rodolfo Daltro, explica que a coleta de material genético, principalmente de parentes em primeiro grau, ou seja, pais, irmãos e filhos biológicos é a metodologia mais eficiente para buscar a localização de desaparecidos. Além disso, itens pessoais do desaparecido também são uma forma de coleta do material genético.

Após a coleta, os dados são colocados na rede integrada de perfis genéticos e, em caso de identificação de restos mortais, é feito o confronto mencionado pela diretora do IALF. Esse processo também é realizado em casos de pessoas desaparecidas por muitos anos e que não possuem informações precisas sobre a identidade a partir de características visuais.

Importante frisar que a coleta do perfil genético é indolor, obtendo-se o material por meio da saliva do familiar. Com essa metodologia, visa-se amenizar a dor das famílias que possuem entes queridos desaparecidos, uma vez que a resposta ameniza a situação ininterrupta de aflição; diz o delegado Rodolfo Daltro.

Coletas e registro policial

Em agosto, o IALF integrou campanha nacional para coleta de material genéticos de familiares de pessoas desaparecidas em Mato Grosso do Sul. Todos os dados coletados foram integrados ao banco nacional, com a expectativa de confrontar mais de 220 mil perfis genéticos registrados desde 2014.

Em Mato Grosso do Sul, a Mobilização foi coordenada pela Polícia Científica, via IALF e pela Polícia Civil, por meio da DHPP. A diretora do Instituto explicou que foram coletadas amostras biológicas de 53 familiares desde agosto. Ela também ressalta que as coletas são realizadas de forma contínua, não se limitando ao período da mobilização.

São três tipos de coleta: no local do crime ou na vítima, onde são recolhidos materiais biológicos, como fios de cabelo, sangue ou saliva; em familiares para reconhecimento de pessoas desaparecidas; em condenados por crimes hediondos, como homicídios, latrocínio, sequestro e estupro. Essa última coleta é obrigatória desde 2012, e auxilia na resolução de crimes sem solução, comprovar a inocência de suspeitos e ainda relacionar um determinado caso com outras investigações.

Coleta em unidades prisionais de MS (Reprodução/ Assessoria da Polícia Científica)

Josemirtes Socorro ressalta que as coletas só podem ser realizadas em casos criminais, com a apresentação do boletim de ocorrência por parte dos familiares. Em Campo Grande, o registro deve ser feito na DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa), enquanto no interior, nas Delegacias de Polícia Civil.

Depois que o boletim é registrado, os policias encaminham o familiar ao IALF, na Capital sul-mato-grossense, ou às Unidades Regionais de Perícia e Identificação da Polícia Científica para a coleta do material biológico.

O delegado da DHPP, Rodolfo Daltro, reforça que os casos de solução dos desaparecimentos e mortes a esclarecer é de 100% quando há a coleta do material genético de familiares.

Carbonizado

O crime foi registrado no dia 30 de maio de 2022, quando a vítima foi encontrada embaixo de um barranco às margens da MS-010. Um rapaz que fazia caminhada com uma colega encontrou o corpo às margens da rodovia e a polícia foi acionada.

Corpo estava completamente carbonizado – (Foto: Henrique Arakaki, Midiamax, Arquivo)

Antes da identificação na semana passada, o corpo não tinha nome, pois não foi havia sido identificado. O caso segue em investigação para elucidar o crime.