Pela primeira vez, tatuador relata ataque de ex-namorada que o deixou cego
Rapaz falou com o Jornal Midiamax logo após receber diagnóstico de oftalmologistas de que não deve recuperar a visão
Danielle Errobidarte, Guilherme Cavalcante –
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“Ninguém desconfiava da maldade dela”. Com essa frase, o tatuador de 30 anos que ficou cego após ser atacado com líquido corrosivo na última quarta-feira (24), começou a relatar ao Jornal Midiamax os fatos que chocaram Campo Grande nesta semana. Vítima da ex-namorada, o rapaz disse acreditar que houve premeditação e que impedi-lo de trabalhar e de ter uma vida sem ela era o objetivo.
Sem enxergar e com o rosto ferido devido à corrosão, ele recorre à memória para detalhar os fatos à reportagem, em entrevista concedida na tarde desta sexta-feira (24), quando aceitou falar com a imprensa. Ele descreve uma sucessão de conflitos e de agressões com a ex, 11 anos mais velha, motivados basicamente por ciúmes.
“Sempre trabalhei em casa, meu estúdio sempre foi em casa, até mesmo quando morei com ela. Nós ficamos juntos por 4 anos e estávamos separados há 4 meses. Eu saí de casa porque ela tinha esse ciúmes”, disse. O tatuador relata que após o primeiro término, chegaram a reatar apenas uma vez – a gota d’água ocorreu quando ele teria sido agredido pela então namorada, que chamou a polícia e o acusou de ser autor de agressões contra ela.
“A gente chegou a reatar daquela vez. Eu tinha sofrido um acidente e machucado o pé. Estava usando muletas. Mas tivemos essa briga e ela me atacou. Eu coloquei as muletas na frente, para me defender, mas ela pegou e me deu um golpe na barriga e chamou a polícia, que disse pra eu me afastar dela. Quando a polícia chegou a ir em casa, terminei de vez”, disse.
Começou a ‘stalkear’
A partir disso, o rapaz alugou uma nova casa, onde também recebia os clientes, há cerca de quatro meses. Nesse período, a mulher de 41 anos teria começado a procurá-lo, passando-se por outras pessoas, até porque ela estava bloqueada no WhatsApp. A situação já havia sido relatada pelo Jornal Midiamax.
“Eu mudei de casa, montei outro estúdio. Mas ela fez vários perfis fakes, se passando por cliente, até conseguir o endereço da casa nova”. Nesse meio tempo, ele chegou a registrar boletim de ocorrência por calúnia e difamação, já que ela fazia postagens no Facebook dizendo para as clientes tomarem cuidado porque o profissional seria assediador.
“Depois que ela conseguiu o endereço, eu já tinha visto pelas câmeras de segurança que ela tinha jogado uma carta, na qual ela me pedia para voltar, insistindo em me ver. Foi quando eu percebi que ela estava me cercando. Pelas atitudes dela, sempre falei que não ia voltar”, conta.
Porém, o rapaz afirma que não desamparou a ex-companheira, que teria desenvolvido depressão devido ao término, ficando sem trabalho e dinheiro. “Fui tentar ajudar como ser humano. Ela não trabalhava e começou a vender as coisas de casa, para se sustentar e pagar o aluguel. Fiquei com dó e me propus a ajudar, até porque ela foi minha parceira durante um bom tempo. Mas, ela levou por outro lado e insistia para me ver”, disse.
“Como eu estava ajudando e percebia que ela insistia demais em voltar, falei para ela não confundir, que eu estava ajudando, mas que não ia voltar”, disse.
“Senti meu rosto pegando fogo”
Ao Jornal Midiamax, o tatuador afirmou que, no dia em que sofreu o ataque com líquido corrosivo, chegou a ver a ex-namorada na esquina de casa, enquanto ele pilotava uma motocicleta. Ela teria dito que estava ali com um óleo para passar no pé dele, para fazer massagem. Nas mãos, estava com uma jarra de plástico de aproximadamente 1 litro, a qual arremessou contra o ex-namorado.
“Eu estava com o visor do capacete aberto e ela jogou o líquido em mim. Primeiro eu pensei que era gasolina, porque ela já tinha tentado incendiar nossa casa. Fiquei com medo dela acender um isqueiro, colocar fogo. Não desliguei a moto, segui pilotando por umas quatro casas. Aí senti meu rosto arder como se estivesse pegando fogo”, disse.
O rapaz conta que, na hora, estava passando um adolescente de bicicleta. “Fiquei com medo dela voltar e segui pilotando. Achei que era ‘casinha’ e pensava que ela ia querer acabar de me matar”. Foi quando um rapaz saiu de uma das casas e o ajudou, chamando a PM e o Corpo de Bombeiros.
“Pedi pra ligar pra minha mãe”
Na ambulância, enquanto era levado para a Santa Casa de Campo Grande, o tatuador afirmou que já não enxergava. “Eu estava com o celular no bolso e pedi para acharem o contato da minha mãe. Liguei pra ela e falei que minha ex tinha jogado ácido na minha cara e que eu não estava enxergando”.
O jovem atendeu à reportagem do Jornal Midiamax logo após passar por consultas com oftalmologistas, especialistas na saúde dos olhos. As notícias foram desanimadoras. A informação é que a cegueira é irreversível, devido aos danos ocasionados pelo corrosivo. “Como ele não sente dor nos olhos, não tem mais sensibilidade, os médicos disseram que afetou o nervo ótico”, complementou à reportagem uma das irmãs da vítima.
“Não reconheci meu irmão quando o vi”
No local, o rapaz estava acompanhado da mãe e das duas irmãs – uma delas, que mora em Ponta Porã. Ao Jornal Midiamax, ela relatou que a ex-namorada teria procurado uma ex-patroa e apresentado versão diferente ao pedir ajuda. “Ela disse que eles discutiram e que saíram no soco, mas a câmera de segurança mostrou que era o contrário“.
A irmã do tatuador também afirmou que, ao encontrá-lo na Santa Casa, ficou chocada com a forma como se deparou com o irmão. “Eu passei mal, demorei a me recompor. Eu simplesmente não reconheci o rosto dele”, disse.
“Acho que ela fez tudo sozinha”
O tatuador seguiu a entrevista, marcada por várias interrupções familiares, que ajudavam a complementar um detalhe ou outro do relato.
“Acho que possivelmente ela pediu ajuda para alguém, acho que alguém pode ter ficado com dó dela, porque ela sempre se fazia de vítima. Eu acho que, a respeito do potencial que ela tem de maldade, ela fez tudo sozinha. Eu via que ela carregava ódio e vingança”.
O rapaz também disse acreditar que a autora deve ter pesquisado como ter feito o produto corrosivo e que ela pode ter ido para a casa da mãe, que é em Foz do Iguaçu (PR).
“Acho que foi tudo premeditado para eu não trabalhar mais. Ela achava que eu ia me relacionar com outra pessoa, mesmo eu falando que estava focado no meu trabalho. Ela via que essas difamações não estavam me afetando e pensou de que forma ela ia conseguir me afetar. Eu me pronunciei de ajudar ela a sair da depressão, ela estava dormindo praticamente no chão”.
“Eu ajudava com o dinheiro, inclusive para ela comer, enquanto ela estava se fortalecendo. Mas, ela confundia as coisas. Agora estou pagando o preço por ter ajudado alguém. É uma coisa que vou pagar para o resto da vida. Na hora [que percebeu que ficaria cego] fiquei com muita raiva, fiquei pensando em vingança, mas tenho fé e quero que ela pague o preço por tudo que ela fez comigo. Deus sabe de todas as coisas. São coisas que acontecem na nossa vida, mas que não estamos preparados. Vou deixar nas mãos de Deus e das autoridades”, concluiu.
A reportagem optou por não identificar o nome ou fotos do tatuador.
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