A Derf (Delegacia Especializada em Repressão a Roubos e Furtos) prendeu quatro integrantes de uma organização criminosa formada, segundo a polícia, por travestis, na terça-feira (18), em Campo Grande.

A quadrilha abordava pessoas nas ruas – clientes ou não – e as obrigava a fornecer cartões de bancos para que elas pudessem realizar transferências e compras. Uma das vítimas registrou boletim de ocorrência, dizendo que o grupo teria entrado em seu carro e a ameaçado.

Eles exigiam seus cartões de crédito e faziam transações em maquininhas de cartão, realizando compras e transferências para determinadas contas bancárias. A polícia encontrou outros vários boletins de ocorrência com a mesma forma de agir da quadrilha.

De acordo com a polícia, as travestis, em tese, abordavam pessoas na rua e mediante violência ou ameaça, realizavam diversas transferências bancárias e compras com os cartões de crédito das vítimas, tendo como beneficiárias as mesmas contas bancárias e pessoas jurídicas.

Identificação

Pelas transações, a polícia identificou o CNPJ de um lava jato, que pertencia a um homem de 24 anos. Em consulta, a investigação constatou que o autor tinha utilizava um nome feminino nas redes sociais, ao lado no nome masculino.

Ainda durante as investigações, um novo boletim de ocorrência foi registrado na Derf, tendo a vítima relatado que três travestis o teriam ameaçado e pegado seu cartão bancário para realizar transferências, porém, como tais transferências não deram certo, as criminosas subtraíram seu aparelho celular, uma aliança e pulseira de ouro, além de R$ 250 em cédulas e demais objetos.

Diante de detalhes obtidos neste caso, foi possível identificar as demais envolvidas, apurando-se que todas as quatro residiam no mesmo local.

Perante a constatação do crime de associação criminosa, a equipe se deslocou até a residência das investigadas, capturando as quatro integrantes do grupo criminoso, sendo uma de 22 anos, duas de 27 e a quarta de 24, dona do lava jato. Nove maquininhas de cartão de crédito e diversos objetos identificados como produtos dos crimes de roubo cometidos pelas autoras, foram apreendidos.

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Uma das integrantes criou pessoa jurídica para cometer os crimes (Foto: Divulgação, Derf)

Treinamento

Em interrogatório, todas as investigadas confessaram a prática dos crimes. Elas revelaram que passaram por um ‘treinamento’ com outra travesti de Santa Catarina, que lhes ensinou o modo de agir para conseguir roubar os valores de clientes através das máquinas de cartão.

Inclusive, disseram recusar pagamento dos programas em dinheiro, pois, assim, frustraria parte do esquema criminoso, em que era necessário o acesso ao cartão da pessoa, para retê-lo e realizar as transações financeiras. Ainda disseram ter passado por outros estados do Brasil e terem procedido da mesma forma, antes de chegarem à Capital sul-mato-grossense.

A travesti dona do lava jato informou que, a partir disso, criou uma pessoa jurídica com finalidade exclusiva de cometer crimes, solicitando máquinas de cartão de crédito vinculadas a tal empresa para receber os proventos dos roubos.

Confessou ainda que o modus operandi da quadrilha consistia em iniciar um programa sexual com o cliente e no momento do pagamento do serviço, enquanto a vítima estava em situação de vulnerabilidade, pedia para a mesma pagar no cartão de crédito, proferindo ameaças e assim subtraindo mais valores da vítima.

Segundo a Polícia Civil, as vítimas eram escolhidas por elas de forma aleatória, independente de serem clientes ou não. A maioria dos roubos ocorreu na Vila Progresso.

Alerta

Apurou-se ainda que a maioria das investigadas é soropositiva e possui ciência disso, entretanto realizavam alguns programas sem o uso de preservativo. Diante dessa constatação, a Polícia Civil alerta para que possíveis vítimas procurem o sistema de saúde para realização de exames, e caso seja necessário, procurem novamente a Derf para fornecerem mais informações, tendo em vista que as autoras podem ser responsabilizadas criminalmente também por este fato.

A operação foi um desdobramento de outra realizada em fevereiro deste ano, onde a Derf identificou três travestis que praticavam roubos em Campo Grande, sendo que duas delas foram presas. Ao todo, foram detidas seis travestis, todas do Amazonas, que vieram para o Mato Grosso do Sul com o intuito de praticar crimes.

A Polícia não descarta a possibilidade da existência de outras vítimas e segue com as investigações para identificar a existência de outros membros do grupo.