PCC planejou ação contra Lira e Pacheco e atentado a bomba contra Moro

O Primeiro Comando da Capital (PCC) enviou para Brasília uma equipe para uma ação que ia ter como alvo o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o presidente Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A facção mobilizou uma célula com três de seus integrantes e bancou seus custos – cerca de R$ 44 mil […]

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Agência Brasil/Arquivo

O Primeiro Comando da Capital (PCC) enviou para Brasília uma equipe para uma ação que ia ter como alvo o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o presidente Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A facção mobilizou uma célula com três de seus integrantes e bancou seus custos – cerca de R$ 44 mil -, como estadia, celulares, aluguéis, seguro, IPTU, mobília, transporte e até compra de eletrodomésticos. As investigações encontraram ainda explosivos, que seriam usados em um atentado a bomba contra o senador Sérgio Moro (União-PR).

A existência do relatório feito pelo Ministério Público de São Paulo e encaminhado à Polícia Federal (PF) em 23 de novembro de 2023 – Lira e Pacheco também receberam cópias e foram avisados sobre os planos da facção – foi revelada pela Folha de S. Paulo. O Estadão obteve cópia do documento. De acordo com ele, Janerson Aparecido Mariano Gomes, o Nefo, que comandava o plano para sequestrar Moro em 2022, movimentou três integrantes da Sintonia Restrita, o setor do PCC responsável por ataques a autoridades e planos de resgate de presos, para Brasília.

Os bandidos envolvidos nos planos da facção eram Sandro dos Santos Olimpio, o Cisão, e dois outros conhecidos como Felipe e Neymar. As prestações de contas dos meses de maio, junho e junho de 2023 da chamada Sintoni Restrita para a Sintonia Final da facção – a cúpula chefiada por Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola -, mostram que havia “uma missão no Distrito Federal”, onde alguns de seus integrantes alugaram um imóvel por R$ 2,5 mil por mês para servir de base de apoio. Em 29 de maio, há uma anotação sobre o uso de transporte por aplicativo durante 15 dias para “correr atrás do terreno para compra”.

O dinheiro, ainda segundo o relatório, era bancado pelo caixa da chamada FM da Baixada, a célula que gerencia a venda de drogas na Baixada Santista, uma das principais da facção paulista. A primeira vez que o possível plano contra os presidentes das duas casas legislativas chegou ao conhecimento dos federais foi durante a apuração do plano contra o senador Sérgio Moro, alvo da operação da PF em março deste ano, quando nove pessoas foram presas, entre elas Nefo.

Em meio ao material apreendido na operação, os federais encontraram, nos celulares encontrados com os acusados, imagens das residências oficiais dos presidentes da Câmara e do Senado, capturadas em 29 de novembro de 2022, com comentários , bem como uma pesquisa no site Trovit sobre imóveis na “Península dos Ministros”, no Lago Sul, bairro nobre de Brasília. Essas movimentações demonstram, segundo o relatório, que a cúpula da facção realizava “levantamentos das referidas autoridades da República”.

A PF ainda demonstrou o planejamento, a preparação e como seria a execução do atentado contra Moro, cuja coordenação esteve a cargo de Nefo. No dia 19 de julho, os federais encontraram, no imóvel da Rua Coronel José Ribeiro de Macedo Junior, em Curitiba, uma casa usada pelo grupo, explosivos e materiais para acionamento remoto dos artefatos. Eram 26 rompedores de rocha da marca Pyroblast de tamanhos variados, 31 iniciadores elétricos e uma maleta de acionamento eletrônico da mesma marca. Para a perícia, tudo seria usado em um atentado.

De acordo com o depoimento de Nefo aos federais, a Sintonia Restrita da facção foi criada para atuar em situações diferenciadas, de alto grau de sigilo e risco, normalmente a partir de ordens da cúpula, em casos de grande repercussão nacional, ligados a atentados contra autoridades e servidores públicos, não só contra integrantes das forças de segurança, mas também contra membros dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. A “restrita” foi criada em 2014, quando o PCC estabeleceu uma aliança com a guerrilha paraguaia do EPP (Exército do Povo Paraguaio), grupo responsável por sequestros e atentados no país vizinho.

De acordo com o relatório, um dos pontos dessa aliança seria o treinamento de integrantes do PCC pelos guerrilheiros, que incluía prática de tiro, conhecimento de emprego de explosivos e táticas de guerra. Essas preparações eram feitas para qualificar o grupo de elite do PCC que seria utilizado em missões que necessitavam de “resposta morte”. Além de Nefo, a polícia prendeu Cisão em 10 de outubro de 2023 por policiais da Rota.

Treze anos antes, Cisão havia sido preso fazendo escolta armada de um ônibus de familiares de presos que se dirigia à Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP), onde estava detida a cúpula da facção antes de sua transferência para o sistema prisional federal em 2019. Mais tarde, Cisão teria participado de um grupo responsável pela tentativa de resgate de um integrante da facção.

A polícia obteve a informação de que, depois da prisão de Nefo, os planos da sintonia restrita foram retomados apesar da advertência dada por Nefo para Patric Veliton Salomão, o Forjado, responsável pela Sintonia Final da Rua. É atribuído a este outro grupo a chefia da facção fora dos presídios.

Não era possível saber até que ponto do plano contra Moro e as autoridades a PF havia descoberto a PF. Por isso, o relatório afirma que Nefo mandou mensagem sugerindo que Lelê – Ulisses Scotti Toledo -, um dos cabeças da Sintonia Restrita, suspendesse as ações temporariamente para proteção dos planos e dos criminosos. A sugestão é que mudassem “todo o tabuleiro”, carros, homens e casas.

As ações dos presos teriam como objetivo derrubar a proibição, feita em 2017, das visitas íntimas nos presídios do sistema federal, onde estão as cúpulas das facções criminosas do País, como PCC e Comando Vermelho. Além disso, segundo o relatório, os bandidos procuram derrubar a Lei 13.964, de 2019, que criou dificuldades extremas, endurecendo o regime carcerário, para que os líderes dos grupos comandem seus negócios de dentro do sistema prisional.

Como o Supremo Tribunal Federal (STF) recusou ação que visava a derrubada da lei, as lideranças do PCC teriam se voltado para o planejamento de ações violentas, como “as hipóteses de tentativa de resgate de lideranças ou ainda partir para atentados contra autoridades dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como do Ministério Público”. “A liderança do PCC, durante esses 30 anos de sua existência, sempre optou por ações violentas preconizando o ‘terror’ contra o Estado, quando se procurou impor limites aos seus objetivos criminosos, como ocorreu, por exemplo, nos atentados de maio de 2006 em São Paulo”, conclui o documento.

Em seguida, o relatório lista os acusados de envolvimento no plano contra Moro, Lira e Pacheco: Janeferson Aparecido Mariano Gomes, o Nefo, Sandro dos Santos Olimpio, o Cisão, Patric Velinton Salomão, o Forjado, Pedro Luiz da Silva Moraes, o Chacal, Ulisses Scotti de Toledo, o Lelê. Estes três últimos estão foragidos.

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