A Operação Ômega, deflagrada pela Denar (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico), opera em caráter permanente há mais de dois anos em Campo Grande e foi criada com o objetivo de combater o tráfico “formiguinha”, aquele feito por pequenos traficantes que atuam na ‘base’ da compra e venda de drogas na Capital. O Jornal Midiamax acompanhou de perto um dos cumprimentos de mandados feito pelos policiais no bairro mais conhecido pela presença de usuários, a Vila Nhanhá.

Ponto de concentração de usuários que não se intimidam nem mesmo com a chegada de forças policiais na região, seja com rondas feitas pela Polícia Militar ou com o passar de alguma viatura da Polícia Civil, a Vila Nhanhá é marcada há anos pela intensa presença de usuários pelas ruas.

Mais do que um problema de saúde pública, a presença desse ‘público’ na região faz valer o ditado da oferta e procura. Pequenos ‘vendedores’, que atuam na teia do tráfico de drogas, viram no bairro uma grande oferta de ‘compradores’. A prática funciona com a venda de pequenas porções de droga – seja maconha, pasta base de cocaína ou crack – para usuários que sempre têm necessidade de comprá-las.

A realidade do vício pode ser observada por quem passa pelo bairro – nas primeiras horas da manhã ou de madrugada – e se depara com usuários nas ruas comprando os entorpecentes em pequenas porções retiradas de bermudas daqueles que vendem muito em poucos minutos.

Preso em imóvel utilizado para o tráfico de drogas. (Foto: Henrique Arakaki – Jornal Midiamax)

Com direito a colete a prova de balas para a equipe de reportagem, acompanhamos o cumprimento dos mandados junto à assessoria da Polícia Civil. O cuidado é necessário, apesar do tipo de tráfico predominante nessa ocasião ser aquele denominado pelo delegado titular da Denar, Hoffman D’ávilla, como “formiguinha” – considerado a base do tráfico de drogas no Brasil, o famoso “tem quem vende porque tem quem compra”.

Em uma das casas alvo da operação neste dia, o delegado adjunto Bruno Santacatharina faz questão de vistoriar, pela segunda vez, o imóvel localizado na Rua Bom Sucesso, onde dois traficantes são presos. As drogas são encontradas nos lugares mais inusitados e dessa vez o crack e a pasta base de cocaína estão em vidros de cosméticos, mochilas e potes de arroz.

Droga encontrada em residência alvo da Operação Ômega. (Foto: Henrique Arakaki – Jornal Midiamax)

Da máquina de lavar ao livro sobre Jô Soares guardado em uma mala de viagem repleta de roupas, nenhum objeto, móvel ou utensílio doméstico passa despercebido aos olhos dos mais de 30 investigadores que foram escalados para o dia. Policiais e delegados da Defurv (Delegacia Especializada de Furtos e Roubos de Veículos), GOI (Grupo de Operações e Investigações), Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros) e Derf (Delegacia Especializada de Roubos e Furtos) se juntaram às equipes da Denar.

Operação contou com apoio de outras delegacias, incluindo Defurv. (Foto: Henrique Arakaki – Jornal Midiamax)

A ação começa no meio da tarde e só termina após o sol já ter ido embora há muito tempo. No meio do caminho, eles não deixam passar abordagem a ‘moradores’ suspeitos, que correm para frente das casas a fim de avisar sobre a chegada dos policiais. Mais de 10 pessoas são colocadas em um ‘paredão’, na Rua Luiz Louzinha, para abordagem e revista.

Abordagem na Vila Nhanhá (Foto: Henrique Arakaki – Jornal Midiamax)

Próximo dali, na Rua Antônio Bittencourt Filho, uma das equipes de apoio – com policiais do Garras – prende mais dois traficantes, em duas casas, assim que um deles entrega uma porção de crack a um usuário. O flagrante é importante para os policiais, já que a chance de serem soltos após audiência de custódia é menor – mas nem sempre o esperado pelos policiais ocorre.

No meio do caminho, os olhos atentos de um dos investigadores passa pela placa de um Fiat Uno preto. O veículo havia sido furtado na manhã do mesmo dia. Por isso, a equipe fica responsável por mais um flagrante que “caiu no colo”, como é falado entre eles, e o veículo é recuperado.

Enquanto isso, o cheiro de pão-francês recém-assado chama a atenção das equipes que continuam vistoriando o imóvel de quatro peças onde as porções foram encontradas. Junto aos dois autores, um carro que estava estacionado em frente ao sobrado em que eles moravam, é apreendido e também segue para a delegacia.

O veículo passará por perícia e o intuito é ver se mais entorpecente pode estar escondido em algum compartimento. O cheiro do pão durante o expediente, que já ultrapassa três horas de trabalho, chama atenção da equipe que ainda vistoria o local. A padaria improvisada na mercearia fica ao lado da parte térrea do imóvel, separada do primeiro andar por uma escada que passa pelo lado de fora.

Delegado Bruno Santacatharina durante vistoria em imóvel alvo da Operação Ômega. (Foto: Henrique Arakaki – Jornal Midiamax)

Apesar da padaria não ter relação com o imóvel, a estrutura do local chama a atenção dos investigadores, que logo descobrem que a chave dada por um dos presos como sendo de sua casa, na verdade, abre a porta dos cômodos de baixo, onde a droga estava escondida.

Assim como a mercearia, outros tantos comércios que ainda funcionam no bairro – a maioria com grades de proteção, mesmo durante o dia – são os mais prejudicados com o tráfico de drogas, ao lado dos moradores. “O tráfico doméstico incomoda a população, gera insegurança e fomenta a prática de outros crimes, como furto, roubo e até estupro”, explica o delegado Hoffman.

Operação Ômega

Segundo explicado pelo delegado, a Operação Ômega, além de ter caráter permanente e combater o tráfico doméstico, visa garantir um pouco de segurança à população que vive em regiões como a Vila Nhanhá. “É característica desse local a presença de inúmeros dependentes químicos, mas nosso foco é prender os traficantes. Nós podemos até retirar os usuários de circulação, mas por um determinado período”, afirma.

Preso pelo Garras durante a Operação Ômega. (Foto: Henrique Arakaki – Jornal Midiamax)

Hoffman ainda explica que com a criação da Lei 11.343, de 2006, não há mais privação de liberdade, ou seja, prisão para o crime de porte de droga para consumo pessoal. “Antigamente a Lei 6368 de 1976 contemplava a privação da liberdade pro usuário, então a Polícia Civil conseguia, além de fazer a captura e condução, autuá-lo em flagrante e manter preso”, explica.

O delegado ainda relata que o trabalho por trás das prisões durou cerca de 10 dias de preparação e envolveu um extenso serviço de inteligência. “Conseguimos mostrar que nós vamos atuar não só naquela região, como em outras onde há esse perfil, para combater o tráfico doméstico e levar um pouco de sossego à população. Então, não existe lugar onde a Polícia Civil não vá entrar”, finaliza.

Confira o vídeo da Operação: