Em 11 de junho de 2020, o 747-400F pousou no Aeroporto Internacional de Florianópolis (SC), proveniente da . A aeronave estava carregada com 10 milhões de máscaras de proteção contra o coronavírus e EPIs (Equipamentos de Proteção Hospitalar), que foram adquiridos por empresa ligada a Sérgio Roberto de Carvalho, ex-major da PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul).

A Polícia Federal identificou que a importação do material de combate à covid foi feito por uma empresa investigada por suspeita de ligação com a organização criminosa liderada por Carvalho. O ex-major, réu em processos por tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro, está foragido e é procurado pela Interpol.

Conforme o colunista Josmar Jozino, da UOL, entre 2018 e 2019, o criminoso movimentou R$ 2,25 bilhões, exportando 45 toneladas de cocaína para , Espanha, Itália, França, Bélgica, Holanda e Alemanha. Além disso, ainda se ‘aproveitou' da pandemia para lavar dinheiro, importando insumos da China.

A descoberta aconteceu após a Operação Enterprise, deflagrada em 23 de novembro de 2020. A ação cumpriu 66 mandados de prisão, um deles contra a irmã de Sérgio, Lucimara de Carvalho, de 56 anos. O celular da ré foi apreendido e a PF identificou troca de mensagens dela com o irmão.

Foi apurado que o ex-major usou uma linha telefônica de Portugal para se comunicar com a irmã sobre o uso das aeronaves, pagamentos de fretes marítimos para importação de roupas da China e realização de depósitos em dólares em contas bancárias chinesas. Em uma mensagem, Lucimara e uma mulher identificada como Kelly tratam da importação dos equipamentos de testes para covid-19, máscaras e termômetros.

Em 2 de junho de 2020, uma mensagem confirma a importação. Lucimara e Kelly ainda falavam sobre o fretamento de mais uma aeronave. No celular da irmã do ex-major, foram encontradas filmagens do avião, pouco antes de decolar para o Brasil.

Carvalho chega a contar que contraiu coronavírus e que tinha intenção de importar produtos hospitalares da China para os Estados Unidos. No celular de Lucimara, foi encontrado print referente a documentos judiciais sobre uma ação contra o Estado de São Paulo, sobre cancelamento de uma nota de empenho de R$ 104,4 milhões, para compra de 36 milhões de máscaras de proteção.

Com isso, a PF conclui que a documentação deixa claro que a organização criminosa chefiada pelo ex-major tentou vender as máscaras importadas da China, financiadas com o dinheiro do tráfico internacional de drogas.

Operação Enterprise

Ao todo, foram expedidas 215 ordens judiciais, sendo 66 mandados de prisão e 149 de busca e apreensão. No dia da operação, foram cumpridas 40 prisões, sendo três delas fora do país. Outros envolvidos, foragidos, continuam sendo presos pela Polícia Federal. No entanto, o líder da organização criminosa até hoje não foi localizado.

Ainda foram apreendidos 200 quilos de cocaína, além de 61 veículos, 5 motocicletas, 4 caminhões e 1 jet-ski. Já o patrimônio bloqueado, em imóveis, carros de luxo, joias e aeronaves, está avaliado em aproximadamente R$ 400 milhões. Só entre as aeronaves, foi realizado sequestro de 37, uma delas na Espanha, avaliada em US$ 20 milhões.

Também foram apreendidas 16 armas de fogo, um simulacro e 507 munições. Já o dinheiro encontrado durante a operação totalizou R$ 1.141.002,00, U$ 169.352,00, € 9.000,00 e 1.120 Dirham (moeda dos Emirados Árabes Unidos).