Antônio Carlos Videira, secretário da -MS (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de ), afirmou, nesta terça-feira (9), ao Jornal Midiamax em ligação gravada que o diretor-geral da Polícia Civil de MS, Adriano Geraldo Garcia, não poderá participar das apurações sobre as denúncias que ligam o jogo do bicho à crise na polícia do Estado. Nesse caso, Adriano está afastado das investigações, já que faz parte do processo e terá de se declarar impedido de todas as apurações feitas em relação à investigação.

A Corregedoria já está em investigação e quando o relatório for remetido a DGPC, Adriano terá de remeter a Sejusp para o secretário Antônio Carlos Videira, que julgará o caso. “Não posso emitir nenhuma opinião sob pena de me declarar suspeito”, disse Videira ao Jornal Midiamax. 

Delegados suspeitam que decisões recentes de Garcia estariam ligadas à suposta tentativa de interferir na briga pelo controle da contravenção em . Diversos colegas confirmaram à reportagem que ‘estranham' o comportamento do chefe.

A crise já causou bate-boca em reunião oficial na DGPC (Delegacia-Geral da Polícia Civil) e os policiais temem represália por parte da cúpula. Adriano foi afastado e comunicado da decisão em reunião com o secretário de Justiça, realizada na segunda-feira (8), após publicação da matéria pelo Midiamax

“Tudo será investigado para a apuração de condutas”. Ainda de acordo com Videira, todos que estavam na reunião em que aconteceu o bate-boca entre Adriano e a delegada Daniela Kades serão ouvidos.

Para tanto, será aberta uma Comissão Processante contra todos os envolvidos. O secretário disse ainda que caso ache necessário, após relatório, poderá pedir a realização de outras diligências. “Será a oportunidade para todos os envolvidos se defenderem”. O prazo para a conclusão do procedimento é de 30 dias.

Comportamento estranho x operações

O comportamento estranho do delegado-geral já havia levantado suspeitas de vários delegados, como até a publicação de uma portaria, em que proibia ações conjuntas com órgãos externos à Polícia Civil sem a sua autorização e justificativa para a colaboração externa. Alguns delegados consideraram a medida uma tentativa de ‘encabrestar' investigações, centralizando as informações.

As suspeitas dos delegados sobre o que poderia estar por trás das operações ‘Deu Zebra' ganharam força no fim de setembro, com a interferência direta e pessoal do delegado-geral, Adriano Garcia, em uma demanda de advogados do Cap. Eles pediram à DGPC a devolução de bilhetes apreendidos durante a Operação Black Cat. No dia 28 de setembro, o próprio delegado-geral enviou um despacho à força-tarefa da Omertà solicitando informações sobre a apreensão do material e dando três dias para a resposta.

Delegados mais jovens questionando

A reportagem conversou com um delegado que se aposentou há poucos anos e acompanha de perto a crise instalada na cúpula.

Segundo ele, o verdadeiro ‘racha' que se instalou na Polícia Civil de Mato Grosso do Sul está ligado à renovação dos quadros, com profissionais cada vez mais preparados tecnicamente e empenhados em valorizar a carreira, distanciando as condutas policiais dos interesses do poder, por exemplo.

“Estamos chegando a um ponto de questionamento interno sobre a postura da Polícia Civil com as relações de poder que se impõem e prejudicam a carreira. Mato Grosso do Sul tem um histórico de suspeitas sobre influência do crime organizado na atividade policial e isso não é novidade para ninguém. Já tivemos nomes citados em escândalos nacionais, recentemente tivemos que punir delegados flagrados em casos extremos até de homicídio, além de outros flagrados furtando até drogas de unidades policiais. Quer dizer…”

Segundo o delegado aposentado, que diz ter sido procurado por colegas mais novos pedindo conselhos, é natural e positivo o questionamento interno. “Todo mundo sempre fica com o pé atrás mesmo. Vai combater o jogo do bicho agora? Maravilha. Tem que fazer isso mesmo. Só que, no fundo, a gente já fica desconfiando dos interesses favorecidos até quando a polícia faz nada mais do que seu dever constitucional mesmo. Tem essa conversa da Lotesul rolando aí, que aprovaram… Ouvi alguma coisa sobre umas conversas até com empresas multinacionais interessadas no negócio… Então, não dá para gente simplesmente desqualificar o medo que essa menina expressou e reduzir a um caso de insubordinação. Se eu fosse o DG, pensaria muito antes de sair metendo PAD e achando que vai prender e arrebentar… Esse tempo acabou”, analisa.

Bate-boca em reunião

Uma reunião em outubro, com todos os delegados, acabou em discussão entre Adriano e Daniela Kades, já que a delegada se recusou a passar informações sigilosas sobre as operações da Omertà, na fase Black Cat. 

Após isso, um processo administrativo contra Kades foi aberto. O delegado-geral Adriano Garcia teria cobrado da delegada nomes de quem seriam as pessoas responsáveis pelo jogo do bicho atualmente. “Falei que eu sabia algumas, mas não de maneira enfática. Até mesmo porque se eu soubesse materialmente eu tinha obrigação de prender essas pessoas”, disse Kades.

“Eu sabia de maneira informal, até porque não é mais a força-tarefa que investiga o jogo do bicho. Então, disse que não falaria”, pontuou. Neste momento, o delegado-geral teria determinado que ela falasse. “É uma prerrogativa do delegado, ainda tem investigação em andamento, inquérito. É uma garantia do delegado, então disse que não falaria. Naquele momento, acabei sendo infeliz na colocação que não acreditava na polícia”, explicou Daniela.

Ao Jornal Midiamax, Adriano disse que considera ‘absurdas' as suspeitas dos colegas. “Como diretor, como gestor, eu preciso coibir e tenho o dever, para que a sensação de segurança não caia por terra para a população. A operação Omertà é maior que isso, não é dela (Daniela Kades)”, afirmou Adriano.