Inquérito liga Minerworld ao tráfico de cocaína que fez ex-major de MS lucrar R$ 2 bilhões
PF aponta que esposa do diretor da empresa era ligada ao traficante
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Maior operação da Polícia Federal em 2020, a Enterprise teve como um dos alvos Yslanda Maria Alves Barros, 43 anos, esposa do ex-diretor da Minerworld, Cícero Saad Cruz, que também chega a ser citado no inquérito. Atualmente presa em Campo Grande, Yslanda responde por integrar organização criminosa e associação para o tráfico.
Presa preventivamente em 23 de novembro de 2020, com prisão decretada desde o dia 14 pela 14ª Vara Federal de Curitiba, Yslanda foi apontada pela Polícia Federal como responsável por atuar na parte financeira da organização, realizando contabilidade do tráfico internacional. Além disso, a PF chegou a relatar no inquérito utilização de moedas digitais para o crime.
O inquérito foi instaurado após a apreensão de 776 quilos de cocaína em setembro de 2017, no Porto de Paranaguá (PR), droga que teria saído da fronteira com Mato Grosso do Sul. A partir daí, a organização criminosa foi identificada, bem como o chefe, ainda foragido, o ex-major Sérgio Roberto de Carvalho, que já integrou a Polícia Militar de MS.
A Operação Enterprise cumpriu mandados contra a organização criminosa, com integrantes em todo o país, responsáveis pelo tráfico internacional de cocaína. A droga entrava no país por Mato Grosso do Sul, seguia para outros estados e o destino final era a Europa. Entre 2017 e 2019, o grupo teria traficado o equivalente a mais de R$ 2 bilhões em cocaína.
Participação de Yslanda
No inquérito policial, Yslanda é apontada como secretária executiva de Sérgio Carvalho, conhecido como major Carvalho, líder da organização criminosa. Ela integraria o grupo financeiro, bem como teria participado da compra de embarcações utilizadas no tráfico internacional.
Para a Polícia Federal, Yslanda tinha proximidade com os outros investigados, atuando nas operações financeiras. “Restou corroborada planilhas encontradas nas contas de e-mail que aparentam dizer respeito à contabilidade do tráfico internacional, recebimento de pagamentos por carregamentos de cocaína entregues na Europa, cujos lucros possivelmente também estariam sendo movimentados em instituições financeiras na Inglaterra”, diz o trecho.
Ainda de acordo com o inquérito, havia indícios da utilização de moedas digitais por Yslanda e o marido, Cícero, para lavagem de dinheiro e/ou recebimentos no exterior, de pagamentos de carregamentos de cocaína exportados pela organização liderada pelo major Carvalho. Também foi relatada ligação direta com o tráfico pela acusada.
O inquérito aponta que Yslanda participou de eventos referentes à exportação de cocaína, com e-mails referentes a transações realizadas em nome de uma empresa. A finalidade seria a logística para tráfico de 880 quilos de cocaína, escondidos em uma escavadeira. Em 2018, ela teria negociado a aquisição de embarcações, em Natal, que depois seriam usadas para o tráfico.
Por fim, a PF aponta a acusada como posição de liderança no grupo. Recolhida no Instituto Penal Irmã Irma Zorzi, em Campo Grande, ela teve um pedido de habeas corpus negado em dezembro de 2020 pelo TRF4.
O que diz a defesa
O advogado de Yslanda, Ewerton Bellinati da Silva, pontuou ao Jornal Midiamax que as acusações sobre lavagem de dinheiro não chegaram a compor denúncia contra a cliente. Ela responde por associação para o tráfico e também por integrar organização criminosa. Ainda de acordo com o advogado, atualmente é aguardada sustentação oral no STJ (Superior Tribunal de Justiça) em um pedido de habeas corpus.
“Alegamos a presunção de inocência. Há um pré-julgamento dela, a figura dela acabou colocada como uma das integrantes da organização criminosa”, alegou Bellinati. Ainda segundo o advogado, foram 150 mil horas de interceptação telefônica no âmbito da Enterprise, e que a cliente não teria sido citada.
Os processos tramitam em segredo de Justiça, mas conforme o advogado, já foi apresentada defesa preliminar. “Não tem evidência ou prova concreta de associação para o tráfico”, afirmou o advogado. De acordo com Ewerton, Yslanda abriu sigilo fiscal de 2017 para trás e não teriam sido identificadas movimentações ilícitas.
Já sobre a suposta negociação das embarcações, o advogado ainda esclareceu que a cliente fez um estudo de viabilidade de um negócio para o major Carvalho, que não se concretizou. “Ela não chegou nem mesmo a tratar diretamente com ele”, disse. O serviço seria para a reforma de embarcações. “Ela não tinha conhecimento para qual uso eram os barcos”, afirmou Bellinati.
Também segundo o advogado, os homens ligados a Carvalho que trataram do negócio diziam que os barcos seriam usados para retirada de lixo e para levarem água para a Ilha de Fernando de Noronha. Mesmo não tendo sido feita a reforma das embarcações, Yslanda recebeu pelo serviço, já que teria feito o levantamento do custo.
A defesa agora aguarda a decisão sobre o pedido de substituição da prisão preventiva por medidas cautelares, para que a ré possa deixar o presídio.
Enterprise
Ao todo, foram expedidas 215 ordens judiciais, sendo 66 mandados de prisão e 149 de busca e apreensão. No dia da operação, foram cumpridas 40 prisões, sendo três delas fora do país. Outros envolvidos, foragidos, continuam sendo presos pela Polícia Federal. No entanto, o líder da organização criminosa até hoje não foi localizado.
Ainda foram apreendidos 200 quilos de cocaína, além de 61 veículos, 5 motocicletas, 4 caminhões e 1 jet-ski. Já o patrimônio bloqueado, em imóveis, carros de luxo, joias e aeronaves, está avaliado em aproximadamente R$ 400 milhões. Só entre as aeronaves, foi realizado sequestro de 37, uma delas na Espanha, avaliada em US$ 20 milhões.
Também foram apreendidas 16 armas de fogo, um simulacro e 507 munições. Já o dinheiro encontrado durante a operação totalizou R$ 1.141.002,00, U$ 169.352,00, € 9.000,00 e 1.120 Dirham (moeda dos Emirados Árabes Unidos).
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