Ostentação da Máfia de Mundo Novo despertou suspeitas da Receita e PF
Assim como aconteceu com Al Capone, o gângster norte-americano que foi preso por sonegar imposto, a atuação da Máfia de Mundo Novo no tráfico internacional de drogas só foi descoberta após um cruzamento de dados feito pela Receita Federal apontar que os chefes da família tinham um estilo de vida incompatível com a renda declarada. […]
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Assim como aconteceu com Al Capone, o gângster norte-americano que foi preso por sonegar imposto, a atuação da Máfia de Mundo Novo no tráfico internacional de drogas só foi descoberta após um cruzamento de dados feito pela Receita Federal apontar que os chefes da família tinham um estilo de vida incompatível com a renda declarada. “Nós produzimos relatórios sobre a incompatibilidade do padrão de vida ostentado e aquilo que eles declararam seja pela Receita Federal ou outros órgão de controle”, explicou José Maria Nogueira, auditor da Receita.
Em suas páginas no Facebook, alguns membros da família postavam fotos de viagens internacionais, festas luxuosas, limousines, iates, jet skis e até uma Ferrari amarela, que aparece nas fotos de casamento, revelavam que a família gastava muito mais que os salários oficiais. “Tinha gente morando em mansões, viajando várias vezes por ano para o Exterior e possuindo veículos de luxo, mas com salários incompatíveis”, completa Nogueira.
A ostentação de bens materiais nas redes sociais era tanta que uma das mulheres da família usava da foto da Ferrari como imagem de perfil. O carrão também aparece em uma das fotos de casamento.
Festas
Temida por seus métodos de tortura em casos de crimes violentos, a família dominava a cidade e os adversários pelo medo, mas também fazia festas para a população. “O servidor recebia R$ 4 mil e mesmo assim bancava festas para a população”, comentou o superintendente da Polícia Federal, Luciano Flores de Lima.
Laranjas
A quadrilha chefiada por um policial militar da cidade de Mundo Novo que foi preso nesta segunda-feira (25) na deflagração da Operação ‘Laços de Família’ pela Polícia Federal, usava até 50 ‘laranjas’ para tentar esconder a movimentação financeira.
E foi também a diferença entre o padrão de vida desses laranjas e a movimentação das empresas nos nomes deles que despertou a desconfiança da Receita. Esses ‘laranjas’ tinham grande movimentação bancária, mas viviam de maneira simples.
A investigação, que começou em 2016, identificou entre 40 e 50 ‘laranjas’ usados pela quadrilha que atuava nos mesmos moldes da máfia: os integrantes eram todos da mesma família e com uma forte hierarquia. Os integrantes dos grupos inferiores eram chamados de ‘correrias’ e os de grupos superiores, identificados como ‘gerentes’.
Um dos presos em Naviraí seria um ‘laranja’ da organização criminosa e tinha ganhos modestos, mas chegava a movimentar mensalmente cerca de R$ 2 milhões em suas contas. “A incompatibilidade nas declarações era muito alta”, disse o auditor da Receita Federal, José Maria.
Segundo o superintendente da PF, Luciano Flores, o ‘laranja’ é utilizado pela ‘cúpula’ da quadrilha para blindar o patrimônio que a família usufruía sem serem alcançados pelas autoridades. As empresas detectadas pela investigação estavam em nomes de ‘laranjas’ usados pela quadrilha. Das 50 pessoas usadas pela quadrilha foi feito o pedido de quebra do sigilo bancário de 38.
Operação
A operação deflagrada pela Polícia Federal ‘Laços de Família’, em Mato Grosso do Sul e em mais quatro estados nesta segunda(25), prendeu um policial militar apontado como chefe da quadrilha, que atuava na região do cone-sul do Estado. O militar, que não teve o nome divulgado, seria dono de uma Ferrari, que custa mais de R$ 500 mil. Ele trabalhava em Eldorado e atuava junto à família em Mundo Novo.
Quinze integrantes da quadrilha foram presos durante a deflagração da operação no Estado. A sede ficava em Mundo Novo, onde foram presas 13 pessoas. As outras duas prisões aconteceram em Naviraí e em Eldorado.
Entre os presos está uma mulher, que estava com tornozeleira eletrônica, e ajudava no financiamento e lavagem de dinheiro da organização que atuava de forma semelhante à máfia: os chefes da organização eram da mesma família e tinham estreita ligação com a facção PCC (Primeiro Comando da Capital).
Para impor medo e respeito aos adversários, o grupo praticava torturas em crimes violentos. A quadrilha era tão organizada que usava ao menos 10 empresas de fachada para lavar o dinheiro do narcotráfico.
Apreensões e prejuízo
A PF estima que, antes da operação, já tinha provocado um prejuízo de R$ 61 milhões à família com apreensões de drogas, joias, dinheiro e bens móveis e imóveis. Foram apreendidos R$ 310 mil para pagamentos de drogas, R$ 80 mil em joias, cinco embarcações, sendo quatro iates.
Desde 2016, quando as investigações começaram, foram apreendidas 27 toneladas de maconha, duas pistolas e duas camionetes.
A PF ainda não contabilizou as apreensões feitas durante a deflagração da operação.
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