Comerciante admite que fez por “não aguentar mais os furtos”

Um comerciante de Fátima do Sul, a 239 quilômetros de Campo Grande, não imaginava o tamanho da confusão que um vídeo postado no perfil dele em uma rede social causaria. Nas imagens, gravadas pelo circuito fechado de vídeo da loja, um garoto aparece com dificuldade para andar após ser “adesivado”. O empacotamento foi uma represália por supostos furtos de adesivos que o adolescente cometeria no local “quase todos os dias”, segundo o dono.

As imagens rapidamente viralizaram e foram reproduzidas em páginas da internet, além de atrair todo tipo de comentários de quem apoia atos de ‘justiça com as próprias mãos’. E o pequeno comerciante admite que só percebeu a exposição do caso nas redes sociais após a repercussão. Mas, ele admite que tomou a iniciativa movido por vingança.

“Cansei de ver e comprovar todos os dias os furtos cometidos por dois menores”, diz o empresário. Questionado pelo Midiamax, ele diz que está consciente de ter desrespeitado normas do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Ele pode responder criminalmente pelos atos, que tornaram o adolescente, de autor de ato infracional, em vítima.

“Arrependo-me de ter retirado o vídeo do sistema de monitoramente por câmeras e ter postado na internet”, diz. No entanto, ele admite que acabou exagerando ao gastar três rolos de fita adesiva no corpo de um dos adolescentes.

O comerciante, que de vítima deve virar autor, afirmou que os pequenos adesivos coloridos eram furtados todos os dias pela dupla de adolescentes. “Não era pelo preço dos adesivos, mas pelo abuso”, disse o comerciante ressaltando que os adesivos tem preço que variam de cinquenta centavos a três reais.

Os adesivos são a sensação da garotada que gosta de fixá-los nos celulares, bicicletas, computadores, skates e em outras superfícies, conforme explicação do comerciante.

“Sei que temos lei e que não deveria fazer justiça com as próprias mãos”, diz. Segundo ele, a intenção era “dar um susto” no adolescente. Ele é um dos inúmeros sul-mato-grossenses que acham que os menores de dezoito anos acabam não sendo punidos por seus atos infracionais. “O furto de adesivos acaba dando em nada na Justiça. Mas agora, com esta polêmica vai dar Justiça”, pondera.

E pode ‘dar Justiça’ contra ele mesmo. Dependendo de como as investigações concluírem, ele pode ser denunciado até por cárcere privado, caso tenha mantido o adolescente à força no local onde promoveu o ‘adesivamento justiceiro’.

O “susto” para o adolescente aconteceu no dia 22 de julho e o vídeo foi postado no dia 29, mas o caso somente foi  registrado na polícia na quarta-feira passada. O comerciante conta que, um dia antes de ele ir à delegacia, a mãe do garoto foi até a papelaria e pediu para “abafar o caso”, pois já tinha conversado com o filho, que havia confessado os furtos e foi corrigido pelo pai.

Apesar da repercussão na cidade, de 19 mil habitantes, o Conselho Tutelar disse à reportagem que ainda não havia, até a tarde desta quarta-feira (8), comunicado oficial do caso no órgão. Segundo conselheira tutelar Laine Medeiros, ela também ‘estava sabendo só pelas redes sociais’.

Ela informou o órgão deve entrar no caso assim que for acionado pelo Ministério Público.