Pular para o conteúdo
Polícia

Após 9 anos sentido-se cidadã de segunda classe, Noyr agora tem motivos para sorrir

Professora venceu ação contra demissão arbitrária
Arquivo -

Professora venceu ação contra demissão arbitrária

 

Foi com um caloroso abraço que Noyr Rondora Marques recebeu a reportagem do Jornal Midiamax, em uma sala de aula do curso de legislação do trânsito, no bairro Parati. Para a turma que assistia à aula, a professora libertou o sorriso reprimido há nove anos. A vontade de comemorar era óbvia. Noyr guardava a informação de que, naquela quinta-feira (3), uma grande injustiça foi reparada. Não conseguiu conter-se e, com ajuda do repórter, abriu o jogo. Foi acolhida pelos alunos, entre aplausos e abraços.

“Eu estou com uma felicidade imensa, estou me sentindo gente”.

Após 9 anos sentido-se cidadã de segunda classe, Noyr agora tem motivos para sorrirNão é de se admirar que a professora se sentia uma cidadã de segunda classe. A história toda começa em 2007, quando ela lecionava para a educação infantil em uma escola municipal em . Noyr foi sumariamente demitida por manter um relacionamento amoroso com outra professora da mesma escola. Na ata da reunião que registrou o desligamento, está bem claro, sem muitos escrúpulos ou pudores, que a razão da demissão era o relacionamento homoafetivo. Por ser temporária, ela teve o contrato rescindido. Sua namorada, Carmem Silva Geraldo, que era do quadro efetivo, foi colocada ‘à disposição’ da Semed (Secretaria Municipal de Educação). O fato ocorreu durante a gestão do então prefeito Nelson Trad Filho.

Entretanto, a boa notícia e razão de sorrisos e abraços gratuitos foi o ponto final colocado no drama enfrentado pela professora. Ainda no ano de 2007, depois de amargar a demissão injusta, Noyr e Carmen resolveram acionar a Justiça. Procuraram um advogado e entraram com uma ação cobrando indenização pelo acontecido. O processo demorou anos, foi dado até como perdido em primeira instância. Mas, ao recorrer, a professora teve a grata notícia de que saiu vencedora.

A decisão judicial sentencia a Prefeitura Municipal de Campo Grande a indenizar a professora em R$ 25 mil pelos danos decorrentes da demissão arbitrária. Carmen teve o veredicto anos antes, em 2013, e recebeu R$ 30 mil. O resultado favorável para Carmen indicava que as instâncias superiores reconheceriam os direitos de Noyr, mas nada como um resultado oficial.

Com a turma de legislação, Noyr comemorou a vitória judicial / Foto: Guilherme Cavalcante

 

“É muito claro para mim que, por mais que haja uma indenização, o que importa é que esse resultado traz de volta a minha dignidade. Desde que fui demitida não trabalhei mais na educação convencional, fui trabalhar na educação para o trânsito, quer dizer, foi algo que mudou os rumos da minha vida. O mais importante é que ter ganho abre precedente para defender outras pessoas que passaram ou que passarão pela mesma situação”, declarou a professora.

Calvário injusto

Reprodução/FacebookNoyr lembra, com voz firme, do constrangimento que sofreu, sem direito nem sequer a defender-se. “A diretora mesmo escreveu na ata que a comunidade não poderia saber que na escola tinha duas professoras lésbicas. Aquilo foi muito doloroso, é algo que não se faz com ninguém. Eu fiquei devastada, no chão. Mas, sabia que quando me reerguesse, partiria para a briga”, conta.

De 2007 para cá, Noyr empoderou sua militância como mulher lésbica. Conheceu e recebeu apoio de pessoas de vários movimentos sociais, sobretudo de LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transgêneros). “Nunca perdi a esperança. Eu sabia que seria um tempo muito difícil para a gente, que eu não trabalharia enquanto aquela gestão estivesse no poder eu não iria trabalhar lá. Nesse tempo fui preterida de todas as formas, fabricaram provas contra nós, alegaram conduta inadequada na escola, tudo para nos prejudicar”, lembra.

Atualmente, Noyr não está mais com Carmen. Há cerca de um ano e meio, elas terminaram o relacionamento, por conta de pressões familiares por parte da parceira. “A gente continua amiga só que, infelizmente, não estamos mais juntas”, revela.

Entre sorrisos, abraços e aplausos, Noyr deixou um recado. “Eu quero que essa história chegue a todas as pessoas que em algum momento foram injustiçadas, para que elas acreditem que a Justiça pode interceder por elas. Pode demorar, mas a Justiça chega. Temos que ir à luta, temos que brigar pelos nossos direitos, por nossa dignidade”, concluiu.

Compartilhe

Notícias mais buscadas agora

Saiba mais

Moraes diz que ‘organização miliciana’ age de forma ‘covarde e traiçoeira’ sob crivo dos EUA

bolsa

JBS fecha parceria com governo federal para contratar beneficiários do Bolsa Família

nota ms premiada

Cinco sul-mato-grossenses faturam R$ 20 mil em sorteio da Nota Premiada

Consórcio Guaicurus culpa passageira por acidente e contesta indenização: ‘De pé e sem cautela’

Notícias mais lidas agora

Ex-marido que matou Cinira durante emboscada morre na Santa Casa de Campo Grande

Consórcio Guaicurus culpa passageira por acidente e contesta indenização: ‘De pé e sem cautela’

Após ‘zerar’ nota de transparência, MPMS anuncia programa para combater desvios

‘Estupidez de ditaduras’, avalia Zeca sobre polêmica com soldados da PM

Últimas Notícias

Mundo

Trump diz que vai deslocar submarinos nucleares americanos em resposta a provocações da Rússia

Em reposta as ameaças, autoridades russas afirmaram que possuem sistema nuclear a altura para retaliação

Polícia

‘Música para nossos ouvidos’: população defende grito de guerra violento com recém-formados da PMMS

Vídeo viralizou nesta sexta-feira (1º), um dia depois da formatura de 427 novos soldados da corporação

Cotidiano

Pitbull solto em praça no Jardim Panamá mata poodle em passeio com tutora idosa

Tutor do pitbull foi identificado e levado para prestar esclarecimentos na Delegacia de Polícia; ele pode responder por omissão de cautela na guarda de animais

Polícia

Homem é preso transportando mais de 590 tabletes de maconha em Campo Grande

A apreensão foi realizada pela GCM, por meio da Romu