A Polícia Civil de Araçatuba (SP) indiciou nesta quarta-feira (1º) a mãe da criança suspeita de ser maltratada pelo padrasto, preso após denúncia de maus-tratos. Ele aparece em vídeos impedindo a menina de dormir e dando cebola a ela dizendo ser maçã. Sara de Andrade Ferreira, de 21 anos, perdeu a guarda da criança e responderá em liberdade pelos mesmos crimes do marido, o empresário Maurício Moraes Scaranello, de 35 anos, que será transferido nesta quinta-feira (2) para um presídio da região.

Segundo informações da delegada titular da Delegacia de Defesa da Mulher, Luciana Pistori, o laudo preliminar da perícia feita no computador e nos celulares do casal aponta a existência de mais vídeos de maus-tratos onde Sara aparece nas gravações, inclusive segurando a câmera.

“Depois da descoberta da existência de novos vídeos, onde em alguns deles a mãe inclusive está filmando, ambos foram intimados novamente para que esclareçam as circunstâncias em que ocorreram aquelas outras filmagens. Foi comprovada uma certa participação da mãe da criança nos atos criminosos e ela foi indiciada pelo crime de tortura e porte de fotos pornográficas de criança”, explica a delegada, que não divulgou os novos vídeos.

O empresário foi preso no dia 26, em um condomínio de luxo depois da denúncia. A polícia disse que havia fotos da enteada nua no celular do empresário e que encontrou a menina trancada sozinha em um quarto da residência do casal. A mãe, que também estava no imóvel no momento da prisão do marido, negou saber sobre a tortura contra a filha, segundo a polícia. Com as novas provas – onde ela aparece nas imagens – o depoimento foi descaracterizado. “O padrasto disse que era tudo uma brincadeira e em nenhum momento ele queria judiar da criança. Acho que ele tinha consciência das atitudes que tomou. Já as fotos da criança nua, a mãe disse que foram tiradas para recordação e não foram divulgadas para ninguém, e que não houve malícia quando as fotos foram tiradas”, completa a delegada.

‘De jeito nenhum’

A mãe e o padrasto prestaram depoimento nesta quarta-feira (1º). Ao chegar à delegacia, quando perguntado se maltratava a enteada, o padrasto negou: “Não, de jeito nenhum”, disse.

Enquanto a mãe prestava depoimento, oficiais de Justiça chegaram à delegacia para buscar a menina e levá-la a um abrigo provisório, onde ela ficará até que o Conselho Tutelar e Poder Judiciário encaminhem-na a um parente. A guarda será passada temporariamente à entidade acolhedora até possível análise do processo do pai biológico – que pediu a guarda nesta terça-feira (30). A reportagem tentou contato com o advogado de defesa da família, que não retornou as ligações.

O acolhimento foi emergencial e proposto pelo promotor da infância e juventude Joel Furlan, que pediu um estudo para saber as condições em que a menina vivia. O juiz responsável, Adeilson Ferreira Negri, analisou o pedido e determinou que a menina fosse buscada ainda na delegacia.

Entenda o caso

O caso foi descoberto no dia 26, quando o empresário foi preso na casa onde mora, em um condomínio de luxo em Araçatuba (SP), após uma denúncia anônima. Segundo a denúncia, Maurício Moraes Scaranello, de 35 anos, usava cola de forte aderência para manter a menina sentada.

A polícia também encontrou no celular do empresário vídeos onde ele impede a criança de dormir e dá cebola à menina dizendo ser maçã.

O laudo do Instituto Médico-Legal, divulgado na quarta-feira (1º), revelou que a menina teve lesões causadas por cola de alta adesão. O documento confirma o teor da denúncia que levou à prisão do empresário. Mas, em depoimento à polícia ao ser preso, ele afirmou que a existência de cola na menina era fruto de um “acidente”.

O laudo traz informações detalhadas das partes do corpo da menina atingidas pela cola e atesta também que ela não sofreu nenhum tipo de abuso sexual. O resultado foi anexado ao inquérito, que deve ser concluído ainda esta semana.

Prisão mantida

Ainda nesta quarta-feira, a Justiça decidiu manter o padrasto preso. O juiz que analisou o caso negou o pedido de relaxamento de prisão feito pelos advogados do acusado. Na decisão, ele já adianta que nega também a liberdade provisória. As justificativas são: preservar provas para o inquérito, preservar a criança e riscos de integração física e retaliações contra o suspeito. O advogado da familiar também foi procurado pra comentar a decisão da Justiça, mas não atendeu.