Donald Trump anunciou neste domingo (5) o envio da Guarda Nacional do país à cidade de Chicago, a mais populosa do estado de Illinois. Segundo o governo dos Estados Unidos, a “falta de leis” é o motivo do envio, o que aumenta a lista de territórios administrados por políticos democratas que são alvo de intervenção militar federal.
Ao todo, 300 militares seguirão para a cidade, conforme a Casa Branca. Chicago é administrada pelo democrata Brandon Johnson, um dos principais oposicionistas de Trump. Em agosto, Johnson assinou uma ordem executiva proibindo as polícias municipais de colaborarem com agentes federais na fiscalização civil da imigração, paradas de trânsito, postos de controle e qualquer patrulha relacionada.
Semelhanças nas cidades com intervenção
Os prefeitos de todas as cidades para as quais Trump ordenou o envio de tropas são do partido Democrata. Além disso, esses prefeitos são negros, o que reforça estratégia para deslegitimar essas autoridades, segundo especialistas.
“Embora Trump costume justificar ações de segurança pública como respostas a ‘violência urbana’ ou ‘ameaças à ordem’, o fato de todas as cidades escolhidas terem prefeitos negros dialoga com um padrão político mais amplo”, analisa a professora de relações internacionais do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais), Karina Stange.
Ao sugerir que prefeitos negros não conseguem manter a ordem, Trump usa estereótipos raciais e políticos; assim, a decisão, apesar de estar revestida com discurso de ‘lei e ordem’, reforça a associação entre governos locais liderados por negros, caos urbano e necessidade de intervenção federal, pontua a professora.
Trump alega que Chicago é “a cidade mais perigosa do mundo”, o que é mentira. A principal cidade de Illinois registrou 573 homicídios em 2024, segundo a polícia da cidade, 8% a menos que o ano anterior.
A cidade de Colima, no México, foi considerada a cidade mais violenta do mundo. Em 2022, o local registrou taxa de 189,41 homicídios por 100 mil habitantes, informou o Conselho Cidadão para Segurança Pública.
Cidades ocupadas pela Guarda Nacional
Los Angeles foi a primeira das cidades a receber a intervenção da guarda nacional, em junho, após protestos contra leis anti-imigratórias do governo. A mobilização foi feita sem autorização do estado, que, posteriormente, processou o presidente alegando que ele criou “medo e terror” e escalou a situação da violência na região.
No mês seguinte, o presidente ordenou o envio de tropas a Washington D.C. e o controle da polícia na capital. Ele ordenou a “limpeza” da cidade e afirmou que os “sem-teto têm de sair imediatamente” da região. A intervenção na polícia, feita por 30 dias, acabou em setembro, mas os militares continuam mobilizados na região.
Em setembro, Trump anunciou que enviaria as tropas a Memphis, no Tennessee. Segundo o balanço do próprio governo, 219 militares seguiriam para a região para “acabar com os elementos criminosos da cidade”.
A força-tarefa na cidade, segundo a procuradora-geral Pam Bondi, fez 93 prisões até o começo de outubro, mas, segundo o chefe da polícia local, C.J. Davis, a presença oficial da guarda na região ainda não começou e deve “levar semanas”.
No fim de setembro, Trump anunciou que enviou a Guarda Nacional à cidade de Portland, em Oregon, mas uma juíza federal anulou a medida ontem. Karin Immergut afirmou que os protestos que acontecem no local não têm dimensão suficiente para justificar o uso das forças federais.
O presidente também mencionou as cidades de Baltimore e de Nova Orleans em outras agendas, mas nenhuma dessas teve ordens de mobilização de militares até o momento. O governador de Maryland, Wes Moore, que é democrata, se mostrou contrário à mobilização e afirmou que destinou mais recursos estaduais ao combate ao crime no estado.
O uso da Guarda Nacional
A mobilização da Guarda Nacional em situações emergenciais não é incomum, no entanto, normalmente é ordenada pelos governadores.
Isso aconteceu, por exemplo, quando governadores em mais de 20 estados ativaram unidades da Guarda Nacional em 2020 para lidar com os protestos pela morte de George Floyd, cidadão negro de 46 anos que foi sufocado até a morte por um policial branco, geando gerou dezenas de protestos em todo o país.
Quando mobilizou tropas sem autorização de um governo estadual, Trump repetiu um feito que não acontecia desde 1965. Naquele ano, o presidente Lyndon B. Johnson enviou a guarda nacional ao Alabama sem o aval do governo do estado, que era segregacionista, para proteger participantes de marchas por direitos civis dos negros.
Quando enviou a guarda à Califórnia, Trump invocou uma lei que permite que o presidente envie unidades da Guarda Nacional se os EUA forem invadidos, se houver uma rebelião ou o risco de rebelião. O Título 10 do Código dos EUA, que descreve o papel das Forças Armadas do país, também pode ser convocado se o presidente for “incapaz de executar as leis dos Estados Unidos com as forças regulares”.
Um juiz da Califórnia entendeu que a mobilização feita por Trump em Los Angeles violou a Lei Posse Comitatus, que proíbe o uso das Forças Armadas para aplicar a lei civil. A decisão de Charles Breyer, emitida no começo de setembro, foi considerada um revés para a Casa Branca, que respondeu afirmando que o juiz era “desonesto”.
*Com informações do UOL.
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