Al-Qaeda apresentou Hamza como seu membro

O governo dos Estados Unidos incluiu Hamza Bin Laden em sua lista de pessoas ligadas ao devido à sua suposta liderança ativa na organização Al-Qaeda, fundada por seu pai, Osama Bin Laden. Em agosto de 2016, quando a Al-Qaeda divulgou uma menagem de áudio que seria a voz de Hamza Bin Laden, a BBC Brasil publicou esta foto de perfil do jovem.

Conforme a BBC, a nova mensagem de áudio lançava luz sobre o que era, na época, uma figura emergente dentro do grupo radical. E não era a primeira vez que o filho de Bin Laden fazia uma gravação para a Al-Qaeda. Mas aquela foi a primeira vez que o grupo apresentava Hamza como seu membro.

Agora, em janeiro de 2017, o Departamento de Estado americano afirmou que está notificando a comunidade internacional de que “Hamza Bin Laden participa de forma ativa no terrorismo”.

O alerta foi feito diante da decisão dos Estados Unidos, de classificar Hamza como “terrorista global especialmente designado”. Isto significa que, para o governo americano, Hamza Bin Laden ameaça a segurança nacional ou a segurança dos cidadãos americanos.

Saad Bin Laden, meio-irmão de Hamza, já aparecia nesta lista.

E esta designação impede Hamza de estabelecer qualquer acordo comercial com empresas americanas ou ter alguma propriedade em solo americano.

Carisma e popularidade

Desde que Osama Bin Laden, líder da organização, foi morto pelas forças especiais americanas em Abbottabad, no Paquistão, em 2011, a Al-Qaeda parecia estar perdendo sua força e influência, a ponto de parecer, ao menos sob os olhos do Ocidente, relegado à sombra do grupo autodenominado Estado Islâmico.

Apesar disso, analistas afirmam que o grupo extremista não está menos perigoso.

Segundo Fawaz Gerges, autor dos livros The Rise and Fall of Al-Qaeda (“Ascensão e Queda da Al-Qaeda”, em tradução livre) e ISIS: A History (“EI: Uma História”) e especialista em política no Oriente Médio, Hamza Bin Laden tem todas as credenciais para se transformar no novo líder da organização.

Nos últimos anos, a Al-Qaeda tem sido liderada pelo egípcio Ayman al Zawahiri, com uma abordagem mais pragmática.

Sua nova estratégia se concentrou em conseguir mais apoio local, com o objetivo de ser um grupo “muito mais duradouro” do que o Estado Islâmico (EI), explicou à BBC Charles Lister, membro do Middle East Institute, centro de estudos localizado nos Estados Unidos.

Mas, com a liderança do filho de Osama, o grupo poderia ter muito mais sucesso.

“A Al-Qaeda está desesperada para ter uma nova imagem, principalmente se levarmos em conta a ascensão do EI nos últimos anos e a sombra que ele jogou na Al-Qaeda”, afirmou Gerges.

“Hamza Bin Laden é a nova cara da Al-Qaeda. É carismático e muito popular entre os soldados”, explicou o acadêmico.
Gerges ainda acrescentou que Hamza era o “filho favorito de Osama”.

De acordo com o pesquisador, já se comentava a possiblidade de Hamza suceder o pai, já que, apesar de ser jovem, o filho de Bin Laden tem experiência na Al-Qaeda.

Desde 2001

A Al-Qaeda já divulgou várias mensagens de Hamza Bin Laden. E a primeira aparição pública do filho de Osama havia ocorrido ainda em 2001.

Na época, ele tinha apenas dez anos e foi visto em um vídeo perto dos destroços de um helicóptero americano caído na província de Ghazni, Afeganistão. Ele foi mostrado caminhando perto de combatentes do Talebã.

Desde então, ele começou a pregar o assassinato de “infiéis” e a usar um uniforme militar.

Um vídeo divulgado em 2005, chamado O Mujahedin do Waziristão, mostrava Hamza participando de um ataque da Al-Qaeda contra forças de segurança paquistanesas na região montanhosa da fronteira com o Afeganistão.

Nos anos seguintes, ele publicou poemas sobre as proezas militares da Al-Qaeda instigando os militantes a “acelerar a destruição de Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e Dinamarca”.

O filho de Bin Laden tem hoje cerca de 25 anos e, segundo Gerges, com “novas ideias” de que a Al-Qaeda acredita “precisar” para se renovar.

Guerra de duas frentes

A primeira mensagem com a voz de Hamza foi divulgada em 2015, na qual ele pregava a violência contra os Estados Unidos e seus aliados, com uma convocação à jihad (“guerra santa”) aos combatentes do grupo em Bagdá, Cabul e Gaza, tendo como “alvos” Washington, Londres, Paris ou Tel Aviv.
Meses depois, em maio de 2016, ele divulgou mais uma mensagem convocando a intifada e falando da “libertação” de Jerusalém e da “revolução” na Síria.

Em julho, ele falou sobre vingar a morte de seu pai em um discurso de mais de 20 minutos.

E, em sua última mensagem, Hamza fala sobre a convocação de jovens sauditas para que “derrubem” a monarquia de seu país e se juntem à Al-Qaeda da Península Arábica, que opera principalmente no Iêmen.

Essa convocação contra a Arábia Saudita, segundo Gerges, pode significar uma possível mudança de estratégia do grupo jihadista – que antes se concentrava apenas em inimigos mais distantes no Ocidente.

“O que Hamza está dizendo é que o EI não é o único grupo declarando guerra aos governos da Arábia Saudita, Síria e Iraque; que eles também participam disso.”

O problema, de acordo com o especialista, é que agora as potências ocidentais enfrentam uma guerra em duas frentes: “Uma frente contra o Estado Islâmico no Iraque, Síria e Líbia e outra contra a Al-Qaeda no Afeganistão, Paquistão, Iêmen e outros cenários”, explicou Gerges.